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Durante uma partida da Eurocopa 2020 entre Dinamarca e Finlândia, ocorreu um caso raro próximo do final do primeiro tempo da partida. O camisa 10 da seleção Dinamarquesa, Christian Eriksen, teve uma possível morte súbita abortada graças à intervenção da equipe médica em campo.
Episódios como esse infelizmente acontecem e pode-se citar como principal exemplo, no Brasil, o ex-jogador Serginho. O atleta era o zagueiro da equipe de futebol Associação Desportiva São Caetano, que chegou a uma final de Libertadores da América em 2002, mas infelizmente em 2004, aos 30 anos de idade, morreu subitamente durante uma partida de futebol devido à uma arritmia cardíaca, decorrente de uma doença chamada cardiomiopatia hipertrófica. Temos um outro caso, mais famoso no mundo, muito inusitado, porém com um final positivo: o ex-jogador Fabrice Muamba, durante uma partida pelo Campeonato Inglês, chegou a cair desacordado em campo, foi levado ao hospital e seu coração ficou parado por cerca de 78 minutos. No entanto, ele sobreviveu a essa possível morte súbita – também originada de uma cardiomiopatia hipertrófica.
Mas para entender de fato o que esse problema envolve, precisa-se entender o que é a morte súbita no esporte. Portanto, por definição, ela é toda morte inesperada e instantânea que ocorre durante ou até uma hora e meia após o exercício físico, desde que não seja por uma causa violenta (acidente automobilístico, agressão física, entre outras). Os estudos indicam que a sua incidência varia entre 0,1 a 38 para cada 100 mil habitantes por ano: ou seja, realmente é um incidente raro.
As origens da morte súbita no esporte são principalmente duas: cardíacas e não cardíacas. A cardíaca é a forma predominante, podendo-se destacar ainda dois eventos que englobam três quartos dos casos pela forma cardíaca: a cardiomiopatia hipertrófica e a doença arterial coronariana, que afetam principalmente atletas abaixo de 35 anos e acima de 35 anos, respectivamente. O exato motivo do ocorrido com o atleta Christian Eriksen, de 29 anos, ainda é desconhecido. No entanto, a principal suspeita é de uma cardiomiopatia hipertrófica devido aos fatores epidemiológicos.
Essa enfermidade é ligada a fatores genéticos, que provocam uma desorganização e hipertrofia das fibras do miocárdio (músculo do coração), uma proliferação de tecido fibroso no tecido (sem funcionalidade) e uma diminuição da luz das artérias coronárias intramurais. A forma mais comum de cardiomiopatia hipertrófica é a hipertrofia assimétrica do septo interventricular (75% dos casos). Essas alterações provocam um déficit no relaxamento ventricular, uma obstrução de saída de sangue do ventrículo esquerdo, uma regurgitação da válvula mitral e, posteriormente, uma isquemia miocárdica e arritmias cardíacas.
Já a Doença Arterial Coronariana, tem início a partir de uma lesão no endotélio (revestimento dos vasos sanguíneos), que pode ser causada por um aumento do LDL (colesterol “ruim”), pela hipertensão arterial sistêmica, pelo diabetes ou pelo tabagismo.
Estas alterações tornam o atleta predisposto à retenção de gorduras circulantes no sangue, acarretando em formação de placas de ateroma (compostas de gorduras, neutrófilos, células mortas, entre outros). Podendo seguir por dois caminhos: ela pode se soltar, se tornando um êmbolo e gerando uma embolia, obstruindo um vaso de calibre inferior; ou ela pode crescer progressivamente e obstruir o vaso onde se originou (trombose). Esses dois caminhos levam à redução total ou parcial do volume sanguíneo local, causando uma queda dos níveis de oxigênio (hipóxia), podendo resultar em um infarto agudo do miocárdio.
Nesse sentido, o exercício físico pode funcionar como uma espécie de gatilho para esses eventos citados, em indivíduos predispostos, pois ele submete o coração à um estresse funcional. No entanto, para se prevenir de situações indesejadas, o caminho não é interromper com o hábito de se exercitar, e sim procurar um cardiologista e médico do esporte com título pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Temos, na sociedade, a premissa de continuar sendo fisicamente ativos como forma de prevenção de doenças, portanto com segurança e orientação médica , sempre.
Estudos indicam que mais de 50% dos pacientes relatam sintomas de alerta antes de algum caso fatal, como dores no peito, perdas de consciência durante o treino ou uma palpitação. De acordo com a American Heart Association, a European Society of Cardiology e o Comitê Olímpico Internacional (COI), a melhor estratégia de prevenção desses eventos é que o indivíduo busque um profissional qualificado para passar por uma Avaliação Pré-Participação (APP). A APP consiste em uma investigação por meio de história familiar, idade, hábitos e exames laboratoriais, com o intuito principal de identificar e prevenir o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e a morte súbita.
Dessa maneira, com uma Avaliação Pré-Participação, um acompanhamento anual e um programa de treinamento adequado, mais de 90% dos eventos inesperados podem ser prevenidos.
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