Camilo Alves - calor x frio: qual a influência da temperatura externa no rendimento?

Atualizado em 12 de julho de 2024

Por Camilo Alves*

Ao entraremos no segundo semestre, começamos também com a temporada de inverno aqui no Brasil, isso significa que teremos uma diminuição das temperaturas – principalmente nos horários preferidos dos corredores: pela manhã (por volta das 6h da manhã) e ao final da tarde (em torno das 18h). Apesar do desafio de “sair da cama” para treinar, o frio pode ser aliado na melhora de rendimento em provas e treinos, é possível que tanto profissionais quanto amadores, possam se beneficiar ou terem seu rendimento atrapalhado pelo o ambiente externo. Existe ainda quem treine no calor e faz provas no frio na esperança de que isso possa ter uma boa resposta em ganho de rendimento.

Existem cada vez mais estudos demonstrando que o ambiente externo, visto como temperatura, umidade e poluição, pode ser um fator decisivo na performance de corredores de longa distância (BERGERON et al, 2014). Altas temperaturas em ambiente externo exigem do corpo um alto fluxo sanguíneo para pele, para que aconteça a perda de calor através da evaporação e condução térmica (VIHMA et al, 2010). Para que todo esse processo ocorra, exige um desgaste do organismo para manter a temperatura corporal equilibrada (GONZÁLEZ-ALONSO, 1999). Além desse desgaste, exercícios que tem uma duração maior do que 90’ ainda resultam na diminuição do fluxo sanguíneo para os músculos, com consequente queda de capacidade de consumo de O2 (GONZÁLEZ-ALONSO et al, 1998), por provável consequência da desidratação – atletas podem perder de 1 a 2,5 L de água por hora durante uma maratona (BERGERON et al, 2014).

Esses efeitos sobre organismo de fato resultam em piores performances em maratonas, como foi visto no estudo de Knechtle publicado em 2021 , fez um levantamento dos resultados de todos os maratonistas que concluíram a Maratona de Nova York de 1970 até 2021. Nesse estudo, foi verificado que temperaturas na faixa de 17 a 24ºC traziam resultados significantemente mais lentos (em média 8 minutos mais lentos), do que edições com temperaturas mais baixas (5 a 12ºC). Semelhantes achados foram vistos pelos mesmos autores sobre maratonistas na Maratona de Berlim, entretanto, as altas temperaturas tinham mais influência sobre atletas amadores do que de elite (KNECHTLE et al, 2021).

Além das conhecidas estratégias de hidratação para diminuir os efeitos do aumento da temperatura corporal, alguns estudos estudaram uma possível aclimatação ao calor para diminuir seus efeitos sobre a performance. No estudo de Kobayashi e colaboradores em 1980, foi visto que atletas que treinavam altas temperaturas, mesmo que treinos moderados desenvolviam adaptações termoregulatórias significantes após um período submetidos a treinamento em altas temperaturas. Portanto, a estratégia de treinar no calor e fazer uma prova em local frio pode ser interessante.

Pode-se dizer que o treinamento em altas temperaturas realmente é mais desgastante e com certeza tem influência na performance de atletas de uma maneira geral, mas principalmente em atletas amadores. Correr no calor e fazer uma prova no frio parece ser a melhor alternativa para diminuir a influência da temperatura sobre o resultado da prova. Correr com temperaturas baixas traz menos desgaste e consequentemente melhores resultados em provas. Vale dizer que treinar no frio haverá diminuição do degaste, treinar no calor será mais sofrido porém trará adaptações importantes para regulação térmica corporal. Entretanto, escolher uma prova em temperaturas frias parece sempre ser uma boa ideia se o planejamento for a busca de melhores resultados.

Referências

BERGERON, Michael F. Heat stress and thermal strain challenges in running. journal of orthopaedic & sports physical therapy, v. 44, n. 10, p. 831-838, 2014.

VIHMA, Timo. Effects of weather on the performance of marathon runners. International journal of biometeorology, v. 54, p. 297-306, 2010.

GONZÁLEZ-ALONSO, José et al. Influence of body temperature on the development of fatigue during prolonged exercise in the heat. Journal of applied physiology, v. 86, n. 3, p. 1032-1039, 1999.

KNECHTLE, B. et al. The role of environmental conditions on master marathon running performance in 1,280,557 finishers the ‘New York City marathon’from 1970 to 2019. Front Physiol 12: 665761. 2021.

KNECHTLE, Beat et al. Elite marathoners run faster with increasing temperatures in Berlin marathon. Frontiers in physiology, v. 12, p. 649898, 2021.

*Camilo Alves é diretor-técnico da RunFun Assessoria Esportiva, ultramaratonista e colunista dos sites Ativo.com e O2 Corre.