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Por Camilo Alves*
É de conhecimento geral de todos que houve uma grande tragédia no Rio Grande do Sul devido às enchentes que atingiram grande parte do estado. Dada as circunstâncias, os organizadores da Maratona de Porto Alegre tiveram de fazer um adiamento da prova para dia 29/9.
Com muito respeito aos maratonistas, a organização foi rápida em fazer o comunicado, de maneira a possibilitar os atletas inscritos a seguirem treinando para a prova do dia 29, antecipar sua prova para maratonas mais próximas ou mudar totalmente o rumo do treinamento. Além da logística com passagens, hotéis e inscrições é necessário pensar nas mudanças que precisam ser feitas no treinamento a fim de adaptar o ciclo de treinos para essas novas datas, provas e destinos!
Em primeiro lugar, se me permitirem um ‘aparte’ na minha coluna, a primeira coisa que deve ser pensada nesse momento é ajudar de alguma forma o Rio Grande do Sul. São diversas as maneiras: desde roupas, alimentos, água ou até doações em dinheiro. Qualquer doação com certeza fará diferença!
Pensando agora quem estava treinando para a Maratona de Porto Alegre, é muito provável que a maioria dos corredores, estivessem entrando (ou já entrado) na fase “específica” do ciclo, ou seja, aquele momento em que as cargas de treino (principalmente volume) atingiriam seu ápice, as quais trariam grande desgaste, mas também grandes ganhos de condicionamento (Daniels et al, 2009). Vale dizer que o momento que a organização avisou a todos do adiamento foi essencial, pois após essa fase específica seria necessário que os atletas tivessem um razoável tempo de descanso, mesmo que não corressem a maratona.
Diversos corredores conseguiram “migrar” seu objetivo para as maratonas do Rio e Florianópolis (entre outras opções), que acontecem em 2 de junho – cerca de 15 dias antes da data de POA. Sendo assim, é bem possível que o pico de treinamento não seja atingido com acúmulo de carga previamente programada, dada redução do tempo dessa fase específica do ciclo de treinamento. Ao mesmo tempo, prolongar volumes altos mais próximos a prova pode ser arriscado, uma vez que é necessário um tempo mínimo de polimento* para que o atleta chegue descansado para a maratona (Bompa & Haff, 2012).
A literatura mostra que são necessários pelo menos 14 dias de polimento para que o atleta dissipe a “fadiga” e esteja na sua melhor performance no dia da prova (Kubukeli et al, 2002). Apesar disso, existem alguns trabalhos que mostram que o polimento de três semanas com redução de carga progressiva pode ser mais efetivo do que uma redução mais abrupta de volume (Smyth e Lawlor et al, 2021), nesse sentido, treinos com um pouco mais de volume e intensidade do que o polimento tradicional podem ser interessantes para o que o condicionamento não seja perdido e ainda permita que o atleta chegue descansado até a prova.
Para os maratonistas que optaram por seguir treinando para a maratona do dia 29/9 ou entrar em ciclos para outras maratonas no segundo semestre – mas com ainda 2 a 3 meses de distância – é interessante pensar em fazer pelo menos duas a três semanas de diminuição de cargas de treino, a fim de trazer uma boa recuperação. Seria o que chamamos como período de transição de ciclos (Bompa & Haff, 2012).
Esse período é bem interessante para diminuir o acúmulo de fadiga trazido dos últimos meses, mas sem trazer um “destreinamento” capaz de diminuir a performance dos corredores – ou seja, é também um momento que vai haver descanso, com uma pequena queda de performance, mas que não trará grandes consequências para próximo ciclos. Pelo contrário, é bem possível que o atleta que faça essa transição, mas depois que entrar novamente em ciclo de treinamento, volte mais condicionado ainda, ao passo que todo o treinamento acumulado até aqui não se perde em duas semanas de descanso e a carga de treinamento atingida foi alta, mas não a ponto de necessitar de muito tempo para recuperação.
Por fim, e mais importante, o atleta não correu a maratona – o que exigiria um tempo maior que duas semanas de descanso. Portanto, pode-se dizer que quem chegou até aqui acumulou um bom volume, ganhou grande capacidade aeróbia e irá recomeçar um ciclo com um nível alto de condicionamento! Com alguns cuidados de alimentação, ajustes nos treinos e cuidados na recuperação, esse pode ser o melhor ciclo de maratona para muita gente!
*Polimento é tido como a fase de descarga do treinamento, com duração mínima de 8 a 14 dias. É a fase em que os atletas começam a diminuir o volume do treinamento a fim de se recuperar das fases anteriores e estar em sua melhor performance no dia da prova.
*Camilo Alves é diretor-técnico da RunFun Assessoria Esportiva, ultramaratonista e colunista dos sites Ativo.com e O2 Corre.
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