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Por Camilo Alves*
Existe uma discussão muito grande sobre qual das modalidades de treino seria a melhor para os corredores. Houve um tempo que a a musculação foi demonizada pois não reproduzia o gesto esportivo da corrida assim como o treino funcional pode fazer. Porém, após alguns estudos, foi se constatando que nem sempre reproduzir o gesto esportivo é totalmente necessário. Existem linhas de pensamento que são a favor de uma vertente específica de treinamento e outra em que o treinamento deveria ser uma combinação de ambos os treinos. É necessário entender que o treinamento complementar (musculação e funcional) como o próprio nome diz, é um complemento, ou seja, não pode ser desgastantes a ponto de atrapalhar o treinamento de corrida.
Escolher o tipo de treinamento adequado é crucial para que sejam trabalhadas capacidades que influenciam na melhora da performance e prevenção de lesões na corrida. Ao contrário do que muita gente pensa, tanto o treinamento funcional quanto o treinamento de musculação não são estratégias interessantes para melhorar a capacidade aeróbia ou o desempenho aeróbio para corredores bem treinados (Hickson et al, 1988, Hoff et al, 2002). Isso quer dizer que, para melhorar realmente a performance na corrida, o treinamento principal é o próprio treinamento de tiros, subidas, rodagens etc. Tentar melhorar a capacidade cardiorrespiratória na academia não é boa ideia: por mais que se façam treinos altamente desgastantes e com componentes aeróbios (por exemplo circuitos), o ganho de condicionamento deve ser mínimo se comparado a uma sessão de treino de corrida.
O treinamento complementar a corrida deve ter como prioridade dois aspectos indispensáveis aos atletas: prevenção de lesão e economia de corrida (Rios et al, 2017, Van Gent et al 2007). Falando-se em prevenção de lesão, tanto o treinamento de musculação quanto funcional precisa conter o componente de treinamento de força, ou seja, os atletas precisam trabalhar com altas cargas para que preparem o aparelho locomotor para absorção de impacto e proteção das articulações (Van Gent et al 2007). Na musculação, aparelhos como o leg press e cadeira extensora pode exercer essa função, por outro lado um agachamento livre presente no treino funcional pode ser uma estratégia interessante, ou seja, ambos os caminhos podem ser interessantes para esse fim.
Quando pensamos em economia de corrida, o mesmo se aplica, a ideia de trabalhar com altas cargas é aumentar a capacidade contrátil da musculatura de modo que a carga relativa de uma mesma tarefa seja diminuída (Heggelund et al, 2013), em outras palavras, o quadríceps de um corredor de 70 kg que exercia uma força de X para deslocá-lo a uma velocidade de 10km/h, passa a fazer uma força de ½ X para a mesma velocidade, ou seja, gasta menos energia para o mesmo trabalho. A necessidade do uso de altas cargas está principalmente na ativação de fibras tipo II da musculatura, que são as fibras “rápidas” e “fortes”, só são ativadas quando se aplicam altas cargas de treinamento. Sendo assim, estratégias além do treino de força, como treinamento de potência como saltos por exemplo, parecem ser estratégias eficazes para esse fim (Bottinelli et al, 1999).
Falando-se ainda em economia de corrida, existem trabalhos que demonstraram que o treinamento de core (base do treinamento funcional) pode ser sim eficaz para a melhora da economia de corrida (Sato & Mokha 2009). Dentro de tudo que foi dito, é de se pensar que vale ficar “em cima do muro” mais uma vez e dizer que as duas estratégias são interessantes para diminuir o risco de lesão e a melhora a economia de corrida! Entretanto deve-se refletir sobre alguns pontos: como foi visto, o principal componente a ser desenvolvido é de força. Nesse sentido, é preciso trabalhar com altas cargas.
O trabalho em máquinas na musculação é uma forma segura e de fácil quantificação de carga para trabalhar esse componente. Já o treinamento funcional com trabalho de pesos livres oferece exercícios mais específicos ao gesto de movimento da corrida, porém geralmente envolve maior complexidade e exige maior coordenação motora de quem o faz. Desse modo, trabalhar com altas cargas em movimentos complexos, pode ser arriscado para um público mais iniciante. Dentro do contexto do treinamento funcional, trabalhos com TRX, peso corporal, circuitos ou outros tipos de método carecem de embasamento científico quanto a eficácia da sua prática na prevenção de lesão e economia de corrida.
Todo corredor deve procurar fazer um treinamento complementar, contudo deve se certificar de treinos com altas cargas para que possa colher os frutos tanto do ganho de força quanto para prevenção de lesão. O trabalho de core também é bem-vindo para melhora da economia de corrida: se o treino funcional conseguir atingir as demandas de cargas necessárias de forma segura e eficaz, pode-se atingir resultados semelhantes à musculação.
*Camilo Alves é diretor-técnico da RunFun Assessoria Esportiva, ultramaratonista e colunista dos sites Ativo.com e O2 Corre.
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