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Vídeos: para ver e rever quando quiser

Por Alexandre Agabiti Fernandez

Nos países em que o ciclismo é uma paixão popular — como Itália, França, Bélgica, Holanda e Espanha —, a televisão dedica centenas de horas de sua programação para mostrar ao vivo as mais importantes provas do calendário internacional. Além disso, apresenta regularmente documentários, reportagens, debates e entrevistas com atletas, dirigentes e especialistas da modalidade. No Brasil, a realidade é completamente diferente. Com exceção das etapas das três Grandes Voltas, da Paris – Roubaix e de mais alguma prova — em que geralmente apenas a última hora é mostrada ao vivo, ou são apresentados simples resumos —, o fã brasileiro de ciclismo não encontra nada na televisão. Felizmente, a internet supre parte desse déficit oferecendo um vasto acervo de vídeos com momentos marcantes da história da modalidade. Não há dúvida de que o melhor suporte para se conhecer as grandes façanhas, os maiores ídolos e as provas míticas do ciclismo é mesmo o audiovisual, mesmo que muitas vezes as imagens tenham qualidade muito inferior ao padrão HD.


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Saber línguas estrangeiras ajuda, já que este conteúdo não está disponível em português, mas o mero desfrute das imagens já vale a pena. Conheça a seguir uma pequena amostra das pérolas com momentos marcantes das maiores provas do ciclismo mundial garimpadas na internet.

Rivalidade francesa
Como acontece em qualquer esporte, as grandes rivalidades desempenham um papel importante, pois despertam e alimentam uma vasta gama de sentimentos. Uma das maiores do ciclismo se deu entre os franceses Jacques Anquetil e Raymond Poulidor. Ela atingiu o auge no Tour de 1964, durante a 20a etapa, disputada entre Brive–Clermont Ferrand e o Puy de Dôme. Depois de quilômetros de escalada ombro a ombro, Poulidor atacou no último quilômetro e cruzou a meta 42 segundos antes de Anquetil, que vestia a camisa amarela, reduzindo sua desvantagem na classificação geral para apenas 14 segundos. Poulidor perderia aquele Tour para Anquetil por meros 55 segundos, mas esta etapa entrou para a história.

Armstrong x Pantani
Outra rivalidade importante opôs o italiano Marco Pantani ao norte-americano Lance Armstrong. Seu momento antológico aconteceu no Tour do ano 2000, na etapa entre Carpentrars e o Mont Ventoux. Depois de algumas tentativas frustradas, Pantani lançou um forte ataque na subida do Ventoux e passou a liderar. Mas Armstrong não tardou a persegui-lo, pedalando em um ritmo impressionante. O norte-americano alcançou o italiano, mas não disputou a vitória. Pantani desaprovou o gesto, sentindo-se insultado, e nas etapas seguintes dificultou as coisas para Armstrong, chegando a vencer uma etapa nos Alpes. O vídeo tem outro aspecto interessante: a inflamada locução dos jornalistas da TV italiana.

Escudeiro nada fiel
No Tour de 1986, o pentacampeão Bernard Hinault prometeu trabalhar para Greg LeMond, seu companheiro de equipe. Mas o francês não foi muito convincente no papel de escudeiro, pois conquistou a liderança nos Pireneus. Contrariado, LeMond discutiu com o colega. Com dores no joelho, Hinault cedeu a camisa amarela ao norte-americano nos Alpes. Mas na etapa entre Briançon e o Alpe d’Huez, Hinault atacou e LeMond, exausto, limitou-se a segui-lo. O francês venceu a etapa, cruzando a linha de chegada de mãos dadas com LeMond. Mas a trégua entre ambos era puro teatro.

Início da era Induráin
O Tour de France de 1990 foi vencido por Greg LeMond, que na ocasião sagrou-se tricampeão da prova. O grande momento da competição, no entanto, foi a etapa entre Blagnac e Luz Ardiden, que LeMond terminou na segunda colocação. A etapa se tornou célebre por ter sido a primeira vitória do espanhol Miguel Induráin em alta montanha no Tour, demonstrando suas qualidades de escalador que lhe ajudariam a conquistar o título de campeão da prova nos cinco anos seguintes.

Hegemonia na Milão–São Remo
As sete vitórias de Merckx na Milão–São Remo — um recorde absoluto — representam uma façanha monumental. As raras imagens deste documentário mostram a enorme vontade de vencer do ciclista belga.

Recorde mundial da hora
A luta contra o cronômetro também rendeu belas imagens, como demonstra este fragmento de reportagem da televisão francesa sobre as sucessivas quebras do recorde mundial da hora pelo escocês Graeme Obree, pelo espanhol Miguel Induráin e pelo suíço Tony Rominger (duas vezes) durante o segundo semestre de 1994, no venerado veló-dromo de Bordeaux. Posteriormente, a UCI (União Ciclística Internacional) classificaria tais recordes em uma nova categoria, denominada “melhor performance da hora”, porque os ciclistas usaram bicicletas diferentes das “normais”.

Imbatível por 28 anos

A quebra do recorde mundial da hora pelo belga Eddy Merckx na altitude da Cidade do México, em 1972 — com a velocidade média de 49,431 km/h, marca que perdurou por 28 anos —, é um dos pontos altos da carreira do maior ciclista de todos os tempos.

Merckx x Ocaña
Das cinco vitórias de Merckx no Tour, a de 1971 é talvez a mais lembrada pela dura batalha travada com o espanhol Luis Ocaña, um dos raros ciclistas a ousar atacar o ogro belga. Depois de conquistar a camisa amarela ao vencer a 11a etapa, entre Orcières e Merlette, quando chegou com quase 9 minutos de vantagem sobre Merckx, uma humilhação simbólica, Ocaña se deu mal na 14a etapa. Durante a descida do Col de Mente, sob um dilúvio, o espanhol caiu e abandonou a prova. Em homenagem à coragem do adversário, Merckx recusou-se a vestir a camisa amarela no dia seguinte.

Nem só de vitórias…
Os tombos são uma constante no ciclismo. Além da célebre queda de Ocaña no Tour de 1971, dois tombos espetaculares também entraram para a história da prova: o do uzbeque Djamolidine Abdoujaparov em 1991, e o do espanhol Joseba Beloki em 2003. Abdoujaparov caiu em pleno sprint e saiu “voando” pelos Champs-Élysées. Já Beloki foi ao chão depois de perder o controle de sua bicicleta em uma curva durante uma descida perto do fim da nona etapa, quando ocupava o segundo posto na classificação geral, a 40 segundos de Lance Armstrong. O calor infernal que derretia o asfalto acabou liquefazendo a cola que unia o pneu tubular à roda traseira da bicicleta do espanhol. Com o desprendimento do pneu, o ciclista virou passageiro de sua bicicleta. Armstrong, que vinha logo atrás, fez malabarismos para não cair e se aventurou pela campina ao lado da estrada. Com múltiplas fraturas, Beloki abandonou a prova.

Perdeu o pneu, mas não o título
Um pneu também foi o protagonista de outro final de corrida emocionante, no Mundial de Ciclismo de 1995, disputado na Colômbia sob frio e chuva. A 18 km do final, o espanhol Abraham Olano acelerou e assumiu a ponta. Como bom companheiro de equipe, Miguel Induráin não reagiu, surpreendendo os adversários, que demoraram a organizar a perseguição. Olano fez o último quilômetro com o pneu traseiro furado, dando um toque dramático à conquista.

(reportagem publicada na revista Vo2 #107, em fevereiro de 2015)

 

Redação

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