Robson Dias, o “Grandão”, resolveu encerrar a carreira no ciclismo profissional prematuramente. Aos 33 anos, 17 deles vividos no universo competitivo do ciclismo, o atleta, nascido em Pariquera Açu, no Vale do Ribeira, em São Paulo, decidiu pendurar a bike de competição, priorizando o convívio familiar. O futuro ainda é incerto. Seus planos mais imediatos giram em torno do trabalho com o sogro, pecuarista. Na sua modalidade, poderia se permitir maior longevidade, mas a rotina de viagens e competições lhe cobrava um preço que não estava mais disposto a pagar. E, por falar em pagar, o próprio cenário do ciclismo nacional não é dos mais animadores.
“De uns três ou quatro anos pra cá, o ciclismo brasileiro decaiu muito, e por vários motivos. Um deles é a crise econômica que o país atravessa. Várias equipes de ciclismo são vinculadas a prefeituras, que investem para ter bom desempenho em Jogos Abertos e Jogos Regionais. As prefeituras começaram a cortar equipes, reduzir salários e verbas. Isso prejudica muito o nosso esporte”.
Outro grande problema citado por Grandão, ciclista que lutava para vencer com seus 1,89m, biotipo incomum no ciclismo de competição, é o enxugamento do calendário. Provas importantes, como Tour do Rio, Tour de São Paulo e Volta do Paraná foram canceladas.
Em meio a esse cenário não muito alentador, recordemos a história de Grandão, apelido pespegado por um mecânico da Memorial: por força do incentivo de um amigo de escola, Robson Dias começou a pedalar competitivamente, em provas regionais, na equipe registrense Toyo Joya. Ele teve duas passagens pela equipe Memorial de Santos, uma das principais do país (2000/2008 e 2010/16), entremeadas por uma temporada na equipe de São José dos Campos (2009).
Robson Dias conquistou 27 medalhas de ouro em Campeonatos Brasileiros e um título dos 100km de Brasília, além de um vice na tradicionalíssima 9 de Julho, em 2007. Pela seleção, Robson Dias participou dos Pans de Guadalajara e Mar del Plata, disputou etapas da Copa do Mundo de pista, o Tour da Turquia e a Volta do Uruguai, entre outras competições.
A versatilidade era uma das marcas de Robson Dias. “O ciclismo é um esporte no qual temos que nos adaptar a várias situações para conseguirmos viver profissionalmente. Temos que disputar desde provas de resistência, em etapas ou não, explosão e velocidade. Com isso me tornei completo para disputar provas de Ominum, por exemplo, e provas de estrada”, disse ele ao site da Federação Paulista de Ciclismo.
A despedida das competições se deu no encerramento do Metropolitano de Ciclismo, no final de novembro. Foi um tchau com ouro. “O sentimento é de missão cumprida. Em todas as equipes em que passei, sempre cumpri com o que era acordado entre nós e sempre dei o meu melhor, entre os bons e maus momentos, o que acontece com qualquer atleta”, disse Robson Dias, na mesma entrevista à FPC.
Algumas frustrações advieram nesse longo percurso, é bem verdade. Uma delas foi ter ficado sem medalha no Omnium do Pan de ciclismo de Mar del Plata, em 2012. Disputadas cinco provas, o brasileiro ocupava a segunda colocação, e já sentia o cheiro de uma medalha. Na derradeira etapa, contrarrelógio de 1 km no Velódromo Julio Polet, o pariquerense ficou em quarto lugar, e sua posição na classificação final foi idêntica – a quarta. “Devido a uma incrível combinação de resultados, fiquei a apenas um ponto da medalha de bronze. Aliás, um ponto foi a diferença entre o campeão e o vice-campeão e também entre o vice e o medalhista de bronze. Isso é muito raro, e infelizmente aconteceu”, relatou ao VO2 Bike, por telefone.
As frustrações, no entanto, são apenas parte de uma trajetória de 17 anos sobre a magrela, que também lhe trouxe muitas alegrias. “Fiquei amadurecendo a decisão de parar por uns três anos. A cada vitória, a cada corrida, eu sabia que seria uma das últimas, e isso não foi fácil”.
A eterna instabilidade, a pressão de ter que alcançar resultados para renovar anualmente os contratos, certamente não deixarão saudades. “O mais fácil, posso dizer, era acordar às 5h da manhã diariamente para fazer meus treinos de 100 quilômetros, 120 quilômetros. O apoio foi caindo e tinha que usar parte do salário, que já não era grande, para gastar com equipamento, suplementos. E sempre tinha que pedalar, brigar, conquistar, porque a corda estava sempre no pescoço, a dúvida sobre a renovação”.
Agora com mais tempo dedicado à família, Dias quer ver o pequeno Patrick, o filho de 5 anos, praticando esporte, mas sem depender de resultados para preservar emprego ou pagar as contas. “Vou deixá-lo à vontade para decidir o que quiser fazer da vida. Se gostar de esporte, prefiro que foque nos estudos, e leve o esporte como segunda opção, sem ter que depender dele. É difícil, é complicado passar pelo que passei. Nosso esporte é desgastante por natureza e, nesta crise, é ainda mais”.
O amor pelo ciclismo, no entanto, não perece. “Não vou deixar de pedalar, e vou acabar participando de uma provinha ou outra. Com certeza vou sentir falta”.
E, como pôde constatar, Grandão vai também deixar saudades. “Recebi muitas palavras de apoio e incentivo pelo Facebook depois que foi divulgada minha aposentadoria. Nem sabia que era tão querido assim”, diz o grande ciclista. Um metro e oitenta e nove.
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