Estive recentemente com Aldo Gios, atual responsável pela pequena fábrica de bicicletas que leva seu sobrenome, localizada em Torino, no norte da Itália. Fundada em
1948 por Tolmino Gios — pai de Aldo e excelente corredor profissional —, a marca não tem nenhuma relação com os quadros Gios que aterrissam em nosso mercado desde o início dos anos 2000. Fiquei impressionado com a evolução e a história de vitórias por trás deste sobrenome, que na década de 1970 ganhou notoriedade ao ser associado à antiga equipe italiana Brooklyn e ao belga Roger de Vlaeminck — conhecido como “Cigano” ou “Monsieur Paris-Roubaix” e um dos grandes nomes do ciclismo de estrada da época, colecionando várias vitórias em competições como Giro d’Italia, Milano– Sanremo, Tirreno–Adriático e Paris–Roubaix.
A Gios foi a escolhida pelo italiano Giorgio Perfetti — dono de um dos maiores fabricantes de doces do mundo naquele tempo — para fornecer as bicicletas da equipe criada por ele em 1972, a Chewing Gum Brooklyn. Aldo era o único dos três filhos que se envolvia nas funções de manufatura, de modo que assumiu o posto de mecânico
oficial do time, aproximando-se e ganhando a confiança do belga Roger de Vlaeminck.
Com seu currículo irretocável, construído em uma época na qual reinavam nomes como Eddy Merckx e Francesco Moser, o belga levou a marca a patamares incríveis de excelência. A estreita relação entre Aldo e Roger contribuiu para o desenvolvimento de modelos que fizeram grande sucesso, dentre os quais o mais famoso talvez seja o quadro Gios Super Record Strada, relançado este ano na sua eterna cor azul — assim como a italiana Bianchi tem seu verde-claro característico, conhecido como “verde bianchi”, a Gios tem seu tradicional “azul gios” —, com pequenos detalhes em vermelho, branco e verde, ou mais comumente chamados de detalhes tricolore.
Atualmente, Aldo Gios mantém com seu filho Marco uma loja/oficina onde atende diretamente seus clientes, produzindo quadros sob medida, de aço, titânio e carbono — por seu nome estar relacionado ao passado, grande parte dos pedidos ainda é para quadros feitos do bom e velho aço. Formado na boa e velha escola dos telaistas
italianos (telaio significa quadro em italiano), ele ainda conserva alguns conceitos tradicionais — e bastante eficazes, a meu ver — na construção dos quadros. Para Aldo, uma bicicleta de aço é como uma moeda de ouro, que conserva seu valor ao passar do tempo. Ele considera que, em uma bicicleta de corrida, 20 gramas a menos
nas rodas ou o ajuste correto de meio grau nos ângulos do tubo do selim ou da caixa de direção são mais importantes que meio quilo a menos no quadro; que os quadros devem ter geometria tradicional — nunca slooping — e ser essencialmente sob medida — afinal, não existem apenas sapatos tamanho S, M, L e XL. Em se tratando de uma marca com tamanha tradição e história de vitórias, certamente é algo para se refletir.
Hebert Wagner Polizio – Sócio da specialtrip.com.br e agente de marcas italianas que trabalham com o conceito "Sob Medida" na piazzabike.com.br, além de ser alucinado por bikes clássicas.
Coluna publicada na revista VO2 Bike, edição 101, fevereiro/14
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