Não há expressão melhor do que “bike friendly” para descrever Perth, cidade localizada na costa oeste da Austrália. A região possui uma excelente infraestrutura para ciclistas, que inclui extensas ciclofaixas, bicicletários e, o mais importante, educação e respeito no trânsito. Morando há quase um ano por lá, a ciclista Marília Duarte dá detalhes sobre as facilidades de usar a bike como meio de transporte na cidade. Confira:
“Praticamente todos os estabelecimentos estão preparados para receber ciclistas – isto porque elas são um importante meio de locomoção da cidade. Além disso, há uma grande oferta de estacionamento para bikes nas ruas e em empresas. Trabalhei por um tempo em uma grande companhia em que cada andar do prédio possuía pelo menos um chuveiro com toalhas limpas disponíveis para os funcionários.
Aqui não há vagão e dia específico para entrar nos trens com sua bike, apenas nos horários de pico que não é permitido, mas mesmo assim o serviço facilita a vida daqueles que vão para o trabalho pedalando. É comum ver, portanto, pessoas vestidas de roupa social e de bicicleta dentro do trem.
Mas não pense que são apenas adultos que pedalam em Perth. Diariamente, vejo muitas crianças pedalando para ir e voltar de suas escolas. E a segurança é tão boa que elas vão sozinhas. O que garante essa tranquilidade é a excelente infraestrutura que o local oferece. Em todo trajeto há sempre uma ciclofaixa muito bem sinalizada.
Mas, mais importante do que isso, é o trabalho de conscientização feito pelo Governo – e a rigorosa legislação de trânsito. É proibido pedalar sem capacete, falando no celular e depois de ter bebido. E as pessoas respeitam as leis.
Vivenciei duas situações que foram muito interessantes para mim e que me ajudaram a entender como essa convivência entre motoristas, ciclistas e pedestres funciona tão bem. Certa vez, à noite, no caminho para casa, fui abordada por um policial por causa da minha lanterna, que estava apagada, sem bateria. Ele foi dirigindo ao meu lado bem devagar e explicando a importância de usar a lanterna para que os motoristas consigam me enxergar. No final, ele ainda me perguntou se eu achava que tudo aquilo fazia sentido. Fiquei tão envergonhada que quase terminei o trajeto empurrando a bike.
A outra situação foi quando eu estava no papel inverso, ou seja, de motorista. Parei em um farol no qual a conversão à direita era obrigatória e, portanto, não havia outra opção. Percebi que todos os motoristas estavam com a seta ligada. Então eu perguntei a um amigo o porquê das pessoas ligarem a seta, se não havia outra opção além de virar à direita. Ele me respondeu dizendo que os motoristas atrás de mim sabiam disso, mas os pedestres e ciclistas poderiam não perceber – e, por isso, eu deveria sempre utilizar a seta para evitar acidentes. Fiquei surpresa e chocada pela obviedade do que ele me disse, apesar de eu nunca ter pensado assim. Essas situações mostram bem a educação e respeito que os australianos têm no trânsito, sejam eles motoristas, pedestres ou ciclistas”.
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