Chegamos ao final de mais um ano. Para o ciclismo brasileiro, no entanto, é como se ele nem tivesse passado. Era para ter sido um ano de mudanças, como muito se cogitou, mas novamente a inércia prevaleceu. É decepcionante. Ainda mais por causa do momento que vivemos: a bicicleta virou a namoradinha do brasileiro. Há um grande número de pessoas pedalando nas ruas, seja par a se locomover, por lazer ou por esporte.
E as cidades vêm assimilando essa mudança cultural e adequando sua estrutura — ainda que timidamente —, com a criação de ciclofaixas, ciclovias, locais para estacionar as bikes, entre outras ações. As pessoas estão se familiarizando com a bicicleta. O contato maior com esse universo pode levá-las a começar a admirar o ciclismo também como modalidade esportiva, a assistir a competições, a torcer pelas equipes. Olhando sob essa perspectiva, vivemos um momento fértil para o crescimento da modalidade no Brasil.
A ocasião é propícia para alimentar a mudança cultural e despertar nas pessoas a paixão por esse esporte tão negligenciado em nosso país. No entanto, continuamos carentes de um plano de ação efetivo que busque melhorar as condições para nossos atletas, assim como um calendário de provas expressivo e um investimento adequado. Os programas de incentivo oferecidos pelos governos são confusos e acabam não cumprindo seu papel.
Há atletas que desconhecem o mecanismo, outros que se beneficiam dele sem de fato merecer e aqueles que, embora realmente sejam merecedores, acabam deixando isso de lado por causa da burocracia, pois se preocupam mais com seus treinos — no modelo ideal, essa deveria ser sua única preocupação.
Nosso calendário de provas é muito espaçado e não dá opor tunidade para os atletas se desenvolverem isso sem falar na dificuldade de manter as c orridas já existentes. Na Bélgica, por exemplo, ciclistas profissionais chegam a correr cerca de 300 competições por ano. No Brasil, atualmente, não temos nem 30 por temporada — a meu ver, deveria haver ao menos cem.
Contudo, não adianta ter um bom calendário se a estrutura das equipes nacionais continua precária. Não é privilegiando meia dúzia que alcançaremos algum resultado. É preciso um investimento maciço e consistente, que viabilize um trabalho de longo prazo. Para o próximo ano — partindo do zero —, alimentamos novamente a esperança de que alguma mudança se concretize.
Ainda que o foco sejam os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o patrocínio acertado entre a Confederação Brasileira de Ciclismo e a Caixa Ec onômica Federal pode ser um bom indício. Com vigência até 2016, o contrato prevê um investimento total de R$ 17 milhões, que serão direcionados às quatro modalidades previstas no programa olímpico — BMX, MTB, Estrada e Pista. Que essa não seja mais uma ação isolada, buscando resultados no curto prazo.
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