Por Diogo Silva
A busca por uma melhor qualidade de vida tem feito com que o número de mulheres ciclistas em todo o mundo venha aumentando consideravelmente nos últimos anos, sobretudo na última década. Dados publicados pela revista norte-americana Scientific American Magazine mostram que na Alemanha, atualmente, 49% dos bikers são mulheres. Já na Holanda, que é considerado o país das bicicletas, esse número sobe para 55%. Outro estudo que chama a atenção foi o conduzido pela consultoria Gluskin Townley Group, que apontou um crescimento de 8% no número de mulheres que usam a bicicleta por mais de 110 dias ao ano nos Estados Unidos, isso somente na primeira década deste século.
Ainda que mais recente, esse cenário também é compartilhado em algumas grandes capitais brasileiras. Na capital paulista, por exemplo, uma pesquisa feita pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) mostrou que o número de mulheres que passam diariamente pela ciclovia da Avenida Eliseu de Almeida, na zona oeste, aumentou de 20, em 2012, para 60, em 2014 — um crescimento de 200% em dois anos. “Comprei minha primeira bicicleta em 1985, quando me separei do meu marido. Naquela época poucas mulheres pedalavam. Hoje esse cenário mudou e o número de mulheres ciclistas vem aumentando a cada ano”, conta Teresa D’Aprile, 66, uma das fundadoras do Saia na Noite, grupo feminino de bikers de São Paulo, ativo desde 1992.
Por mais qualidade de vida
No mundo de hoje, onde o trânsito é cada vez mais caótico e as pessoas têm cada vez menos tempo para cuidar de si mesmas e de se socializar, a bike tem se tornado uma espécie de refúgio. Para muitas mulheres, mais que fazer bem ao corpo, pedalar é um meio de fugir do estresse, relaxar a mente e manter a autoestima elevada, seja como lazer, esporte, como forma de interagir com outras pessoas ou mesmo como meio de transporte para o dia a dia.
Com a implantação das ciclovias, é cada vez mais comum encontrar mulheres indo para o trabalho de bicicleta. É caso da jornalista Mariana Serafini, 24, que vive e trabalha em São Paulo. “Faço esse trajeto eventualmente porque no meu trabalho não posso guardar a bike. Mas se pudesse, iria diariamente”, afirma, dizendo que o caminho tem pouco mais de 5 km, todo em ciclovias, o que facilita muito a locomoção de bicicleta. “O legal de ir de bike para o trabalho é que a gente chega com o cérebro oxigenado, vai vendo a paisagem, sentindo o vento… No final do trajeto me sinto muito mais disposta do que se tivesse ido de metrô. Certamente trabalho muito melhor quando vou de bike”, salienta.
A consultora de financiamentos imobiliários Sylvia Toledo, 60, conta que costumava pedalar quando criança, mas faltava coragem para encarar as ruas. Até que em 2008 tomou conhecimento da existência do Saia na Noite e resolveu se juntar ao grupo. “Como naquela época não era comum encontrar ciclistas na rua, pensei em começar a pedalar em um grupo, por ser mais seguro”, comenta Sylvia, que hoje usa a bike também para trabalhar e dificilmente sai de carro. De lá para cá, como resultado da mudança, ela observa que se sente bem menos estressada e com um preparo físico muito melhor, tanto que passou a fazer pedais mais longos em trilhas e estradas nos fins de semana. “Já fui de São Paulo a Santos pela estrada de manutenção da Rodovia Imigrantes, de Cunha até Paraty pela Estrada Real, além de outros desafios como pedalar até cidades vizinhas de São Paulo, como Cotia e Santana de Parnaíba, por exemplo”, diz.
Nada de sexo frágil
Para Teresa D’Aprile, muitas acabam aderindo ao pedal depois de ver outras mulheres de bicicleta pela cidade, desmistificando a ideia de sexo frágil, o que gera confiança e faz com que elas deixem de lado medos e receios. “Quando se conhece a bicicleta, rotas alternativas e mais sobre o assunto, o medo diminui e pedalar se torna um grande prazer”, explica Teresa, que aconselha as mulheres que se sentem inseguras para começar a pedalar a tirar dúvidas com outras ciclistas ou a procurar um grupo para se juntar.
Assunto que antes era dominado apenas pelo público masculino, a mecânica da bike também deixou de ser um empecilho para as mulheres que pedalam e prezam pela autossuficiência. “Fiz curso preparatório de mecânica de bicicleta para não ficar na mão. Para ter independência, é preciso se virar sozinha”, diz a jornalista Sônia Skroski, 62, que pedala com o grupo Saia na Noite. Além dos cursos, muitas vezes organizados pelos próprios grupos de ciclistas, elas também compartilham informações e contam com a assistência de colegas mais experientes na hora fazer algum reparo na bicicleta. “Somos obrigadas a colocar a mão na massa. Caso uma não saiba, a outra ajuda”, ressalta Fernanda Espíndola, 31, uma das fundadoras do grupo catarinense As Belas da Bike.
Para Mariana Serafini, o maior obstáculo em pedalar na cidade não está relacionado ao fato de ser mulher, mas sim à falta de respeito dos motoristas com os ciclistas em geral. “É comum encontrar aqueles que gritam algum xingamento ou buzinam como loucos, isso sempre dá um certo desânimo. Todos temos direito ao espaço urbano, mas percebemos que estamos longe de ser uma sociedade que vive de forma coletiva. As ciclovias têm cumprido esse papel, devolvendo a cidade às pessoas, mas falta muito do bom senso ainda”, avalia a jornalista.
Sem Perder o Charme
Outro fator que seria um obstáculo para mulheres que pensam em adotar a bicicleta como meio de transporte é a roupa. Pedalar de salto alto, saia ou qualquer traje mais alinhado parece algo inconcebível, mas muitas delas mostram que não. “Acho que isso vai muito do estilo de cada um. Eu gosto muito de usar vestidos e saias e nunca deixo de vesti-los porque vou pedalar. Não gosto muito de usar calça jeans porque acaba apertando”, comenta Mariana Serafi ni. Para Teresa D’Aprile, pedalar não exige nenhuma roupa especial. “Pedalo de saia, calça e com todos os tipos de sapatos. Uso a bike como meio de transporte e, como em qualquer outro, vou vestida como mais gosto”, salienta.
Já as irmãs Aline Maria e Michelle Maria, de Florianópolis, uniram as paixões pela moda e pela bicicleta, o que levou Aline a criar um blog (belanabike.com.br) onde mostra que é possível sim pedalar no dia a dia e estar sempre bonita, mesmo que seja com uma roupa mais à vontade. Aline, 36, diz não haver uma regra sobre como se vestir para pedalar, que o importante é usar algo com que você se sinta bem de acordo com o momento e o destino.
“Se vou pedalando até o trabalho ou a um barzinho, vou com roupas normais, como se estivesse indo de carro. Tenho cuidado apenas na hora de escolher o tecido, para evitar que o suor manche a roupa ou que ela chegue amarrotada, o que nos tecidos mais sintéticos isso é comum acontecer. Mas, se vou fazer um pedal de 2 horas subindo morros e estrada de chão, opto por roupas de ciclismo, que são mais indicadas nesses casos”, conta Aline, que atualmente vai de bike para todos os lugares, sempre que pode, e revela algumas dicas para se manter bela e pedalar com conforto pelas ruas.
“Sair de casa mais cedo, pedalar mais devagar e não levar mochila nas costas para evitar a transpiração excessiva. Escolher trajetos que tenham mais sombra e programar-se para chegar ao destino pelo menos 15 minutos antes para o corpo esfriar e parar de transpirar. Assim você pode sair de casa apenas com filtro solar e fazer sua maquiagem tranquila começar as atividades.”
Unidas pelo pedal
Com cada vez mais mulheres aderindo ao pedal, grupos femininos de bikers têm surgido em vários cantos do País nos últimos anos, assim como seu número de integrantes também tem crescido. Além da questão da socialização, o objetivo desses grupos é proporcionar mais segurança aos passeios de bicicleta nas cidades e incentivar — e auxiliar — novas adeptas. Conheça a seguir alguns deles.
Saia na Noite (São Paulo, SP)
O primeiro grupo feminino de bikers foi criado na capital paulista em 1992 por mulheres que já pedalavam e sentiam a necessidade de ter um espaço só para elas, que tornasse possível iniciar as garotas no pedal. Hoje, o grupo conta com mais de 860 membros no Facebook e se encontra todas as terças, às 21h, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, na zona oeste. O pedal reúne cerca de 25 participantes, que pedalam por volta de 25 km em um trajeto decidido na hora do passeio, sendo a dificuldade ajustada de acordo com as participantes. Uma quinta-feira por mês é realizado o “Saia na Sopa”, no qual as integrantes se deslocam até o Ceasa para a degustação de sopas. E aos domingos, também uma vez por mês, as garotas mais fortes participam do “Saia Pró”, no qual pedalam cerca de 50 km, e as novatas do “Saia Light” fazem um percurso de no máximo 15 km — sem subidas.
Amazonas de Bike (Manaus, AM)
“A ideia de formar um grupo só de mulheres veio do fato de que poucas pedalavam nos passeios semanais do Pedala Manaus (organização que incentiva o uso de bikes como meio de transporte, lazer e esporte) e queríamos incentivar outras ciclistas a ocuparem as ruas da cidade”, conta Simone Russo, 45, uma das idealizadoras do grupo que surgiu em 2012 com a participação de dez mulheres e dois homens. Já no primeiro passeio elas notaram que a presença dos rapazes era bem-vinda, mas não fundamental. Hoje, as Amazonas de Bike contam com mais de 260 garotas em sua página no Facebook. Os passeios acontecem aos sábados ou domingos, com saída às 16h do Parque dos Bilhares. “O trajeto é decidido no próprio local ou vamos aonde o vento nos levar, sempre com direito a uma parada para saborear alguma delícia amazô-nica”, diz Simone.
Brasília Batom Bikers (Brasília, DF)
O Brasília Batom Bikers surgiu em outubro de 2011, com apenas quatro mulheres que tinham o objetivo de conquistar melhor condicionamento físico, e hoje já soma mais de mil integrantes. “Nosso grupo vem crescendo a cada ano, já que as mulheres estão buscando melhor qualidade de vida por meio do ciclismo, seja como atividade física ou lazer”, diz a coordenadora Maria Regina Teixeira, 53. O grupo se reúne todos os sábados, no período da manhã. O ponto de partida depende do trajeto do passeio, escolhido de acordo com o nível de dificuldade. A distância varia entre 20 km e 100 km e o pedal costuma reunir cerca de 50 participantes.
As Belas da Bike (Joinville, SC)
Em fevereiro de 2012, seis amigas que pedalavam juntas nos fins de semana decidiram criar o grupo As Belas da Bike com o objetivo de incentivar outras mulheres a andar de bicicleta. “A intenção é não só proporcionar um passeio agradável, mas também mostrar às mulheres que são capazes, para que ganhem confiança até para pedais mais longos”, diz Tammy Reis, 30, uma das fundadoras do grupo, que conta hoje com mais de 350 membros no Facebook. As garotas do Belas da Bike se encontram ao menos uma vez por mês no Sesc de Joinville e percorrem entre 50 km e 60 km em trajetos pelo interior, buscando sempre belas paisagens.
Contatos:
Saia na Noite
Brasília Batom Bikers
Amazonas de Bike
As Belas da Bike
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