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Quem vive melhor: aquele que mora em condomínio, em um bairro distante, ou quem mora em um prédio central, pertinho de onde trabalha? E qual dessas opções gera menos trânsito, menos poluição e melhores condições de saúde para a população no longo prazo?
No Brasil, que seguiu em grande parte o modelo americano de construção, com seus subúrbios ajardinados, muita gente pensa que morar em um local com mais verde, cercado e distante trará paz, segurança e qualidade de vida. Isso pode até ser verdade, desde que a pessoa não precise sair dali para nada.
Acontece que as pessoas trabalham, querem se divertir e precisam comprar coisas. Então, elas acabam tendo um carro para se locomover e passam seus dias presas no trânsito. Afinal de contas, quando o lugar é distante, não dá para fazer as coisas a pé ou de bicicleta – os modos mais ecológicos e transporte que uma cidade pode ter. E, como em bairros assim moram menos pessoas, também não faz sentido investir em transporte público — algo caro, que não se justifica para levar e trazer minguados habitantes.
Esse ordenamento do território, que por aqui é adotado tanto para novos assentamentos de baixa renda implantados pelo governo quanto na construção de condomínios de alto padrão pelo setor privado, provoca o caos que várias cidades vivem em termos de mobilidade urbana. É a maneira como distribuímos no espaço a oferta de habitação, trabalho, educação, compras e lazer que condiciona o número médio e a distância das viagens realizadas por quem mora nesse espaço. Por isso, conseguir que um bairro ou cidade tenham uma boa mobilidade urbana implica, necessariamente, um bom planejamento dessa distribuição. Independentemente do tipo de transporte ou de sua qualidade, a melhor maneira de garantir conforto e boa mobilidade é fazer com que as pessoas precisem deslocar-se menos para obter o que precisam.
Quanto mais pessoas estiverem concentradas em um local e quanto mais variadas forem as atividades que elas ali praticam, menores serão as distâncias de suas viagens e mais curto o tempo. Um bairro densamente povoado que oferece às pessoas uma boa infraestrutura de comércio, trabalho e serviços funciona melhor do que bairros com menos densidade populacional conectados aos centros por grandes avenidas, os “bairros-dormitórios”. Esse modelo só tem aumentado as distâncias e o tempo das viagens, além de forçar uma maior participação do automóvel. Veículos motorizados são, de longe, os principais emissores de carbono e gases poluentes prejudiciais. Ou seja, a quantidade de tráfego gerado por essa distribuição espacial afeta diretamente a qualidade do ar e a saúde da população.
Curiosamente, os melhores exemplos nesse sentido na cidade de São Paulo vêm de bairros como Paraisópolis, com densidade próxima de mil habitantes por hectare. Ali, há cerca de 18 mil casas, nas quais vivem aproximadamente 100 mil pessoas. O bairro possui mais de 3 mil comércios e 78% da população economicamente ativa trabalha nas redondezas. O tempo médio deles para chegar ao trabalho é de 20 minutos a pé. Um modelo para se levar em conta.
Coluna publicada na Revista VO2 Bike Edição 98 – Nov/13
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