Mais do que uma competição, a Mongolia Bike Challenge é quase como um ritual sagrado para muitos ciclistas. Não pela superação física e psicológica que toda ultramaratona de MTB exige, mas pela magia que envolve a longínqua e vasta Mongólia e seu povo — a começar pelo filho mais famoso daquelas terras, Genghis Khan. Lembrado como o Grande Khan, ele transformou seu país — que governou durante 21 anos — em um palco de batalhas e um dos maiores impérios do mundo do século 13.
E é nessa imensidão, entre planícies e montanhas, que todo ano, desde 2010, cerca de cem ciclistas descobrem que uma ultramaratona de mountain bike pode oferecer muito mais do que obstáculos naturais. “Achamos que força e inteligência vencem qualquer disputa. Mas esquecemos que mesmo o atleta mais forte e inteligente pode cair ao passar por um desafio emocional. E nos surpreendemos quando em meio a toda a confusão de uma corrida de cerca de 900 km, descobrimos que a maior dificuldade pode se resumir a tomar banho na hora certa ou ir lá fora da barraca para pegar a sapatilha que está congelando no sereno”, comenta o mineiro Breno Bizinoto, que correu a Mongolia Bike Challenge em 2014 e na ocasião conquistou o segundo lugar no pódio da categoria Sportman, para atletas entre 18 e 32 anos.
Ao todo, nas sete edições realizadas, cerca de 600 bikers de 36 países já encararam o desafio. Segundo o mineiro, apesar de longo, o percurso não representa a maior dificuldade da prova. “Decidi ir por achar que estava preparado. Mas logo no briefing da prova a organização me convenceu de que essa seria muito mais do que uma prova de mountain bike — longe de qualquer civilização por sete dias, sem internet, saudades de casa, muito frio. Sentar-se à mesa do café da manhã com o cara que você nem conhece, mas com quem está disputando o pódio, foi uma experiência que eu nunca tinha vivido.”
O desafio
Criada em 2010 por Willy Mulonía, que também dirige a prova, a Mongolia Bike Challenge é conhecida como uma das ultramaratonas de mountain bike mais difíceis do mundo — embora ele e alguns ciclistas questionem essa definição.
Participante de duas edições da corrida, Lee Rodgers, da CrankPunk — empresa fornecedora oficial de treinamentos para a prova —, pontuou em um artigo para seu site algumas das dificuldades que fazem com que a Mongolia Bike Challenge pareça mais difícil do que realmente é, como a localização do país e o clima. No entanto, assim como Breno, diz que as trilhas não são realmente muito desafiadoras e aspectos como distância e frio podem ser facilmente superados. “A Mongolia Bike Challenge é mais parecida com uma corrida de estrada para pilotos de cross country. As trilhas são, em sua maioria, já existentes, algumas para veículos SUV. Os aspectos mais desafiadores são a areia e a travessia de rios.”
Sem aclives muito acentuados ou montanhas longas — nenhuma delas com mais de 10 km com subidas —, Rodgers destaca ainda que a Mongolia Bike Challenge é uma excelente opção para pessoas que anseiam começar a participar de ultramaratonas de MTB. Como o terreno não é problema, na prova sobra espaço para a velocidade. E esse é um dos principais desafios para quem pensa em subir ao pódio. Os competidores chegam a atingir 70 km/h. “Não gostei do que vi na largada. O ritmo foi muito forte para uma prova de sete dias. Os primeiros 10 km foram tão fortes que precisei até vomitar. Nessa hora, me desfiz de todas as expectativas de pódio e liguei o meu instinto de sobrevivência para completar os 120 km do primeiro dia sem gastar a energia dos próximos”, lembra Breno.
No entanto, a maioria dos bikers que encara a Mongolia Bike Challenge quer na verdade cruzar a linha de chegada bem e saborear as vistas incríveis do país (confira na galeria de fotos abaixo). Outro ponto que desmistifica a fama de dura da corrida, acredita Rodgers, é o generoso tempo de corte diário, que permite que pilotos de todos os níveis participem dessa experiência inesquecível.
As etapas
As primeiras edições da Mongolia Bike Challenge foram mais duras, com 856 km totais e sete dias de competição. Mas desde 2016, visando atrair participantes de diferentes níveis, a organização diminuiu o percurso total para 578 km, dividido em seis dias.
Realizada no mês de agosto, ela tem sua largada na capital Ulan Bator. No primeiro dia, os participantes percorrem 105 km até o complexo onde fica a estátua de Genghis Khan. De lá, no segundo dia, pedalam 113 km até Geo Mandal Ger Camp. No terceiro dia partem rumo a Tuul River, a 117 km. Esse é o trajeto com mais subidas, num total de 2.110 metros. Depois, pedalam mais 130 km até Steppe Nomad Ger Camp. No penúltimo dia são “apenas” 88 km, tendo como objetivo o XIII Century, palco da final do evento, já que a prova do último dia, de apenas 25 km, tem partida e chegada nesse mesmo ponto.
Entre uma etapa e outra, os competidores passam a noite em tendas conhecidas como gers (instalações típicas mongóis, com camas, travesseiros e cobertores, além de chuveiro quente). A comida no acampamento é garantida por um bufê contratado. Já na estrada, postos de abastecimento são montados pela organização, que limita o número de inscrições a pouco mais de 100 competidores por edição. “O pódio não diz respeito nem a 10% das conquistas que você pode alcançar. A reflexão interna que me ocorria durante todos os dias no ritmo alucinante da prova, junto a um desgaste psicológico inevitável, era uma oficina de autoconhecimento, superação e quebra de desafios. Isso eu guardo internamente, com muito mais valor do que o troféu do pódio”, finaliza Breno.
Por Cléa Martins
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