Stradalli CycleFoto: Stradalli Cycle

Geometria da bike: entenda o desenho de um quadro

Atualizado em 01 de fevereiro de 2018
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De qual material é feito o quadro da sua bicicleta? E a roda? O guidão? Essas respostas você certamente tem na ponta da língua. E o tamanho do seu quadro? O comprimento da sua mesa? Para dificultar um pouco: a altura do selim em relação ao centro do movimento central?

Para estas, se já fez um bom bike fit, você também conhece a resposta — ou no mínimo tem uma “cola” em algum arquivo no computador. Muito poucos ciclistas, no entanto, saberiam responder se questionados sobre as medidas da geometria da bike. Trata-se de um tema muito delicado, bem mais complexo de interpretar — e até por isso muitas vezes ignorado —, porém fundamental para entender as particularidades da magrela.

A geometria da bike é constituída de pequenos detalhes, observados nos ângulos e comprimentos definidos para a composição dos tubos do quadro e do garfo. É essa receita milimétrica que confere as características de pilotagem de uma bicicleta, como controle, estabilidade, conforto, manutenção de velocidade.

Um intrincado jogo de “estica e puxa”, em que é impossível ter ganho em uma qualidade específica sem abrir mão de outra. Por isso as bikes mais reativas — que respondem bem à aceleração — não são as mais confortáveis, e as melhores bikes para escalada sofrem para manter a velocidade no plano.

O equilíbrio entre as características é o grande desafio do construtor. Na teoria, podemos olhar esses aspectos ponto a ponto. Sua eficácia, no entanto, só pode ser avaliada no conjunto.

 

 

Entre milímetros e angulações

Por mais que algumas características sejam bem comuns entre elas, vale lembrar que não há unanimidade entre os inúmeros fabricantes — inclusive os que fazem bicicletas sob medida, com ajustes ainda mais milimétricos.

O processo de fabricação, os materiais dos tubos, os componentes e, principalmente, as virtudes fisiológicas e as ambições do ciclista são essenciais para o sucesso de um modelo. Por meio da evolução dos materiais, alguns paradigmas estão sendo quebrados e há sempre espaço para inovação no que diz respeito à geometria da bike. Confira:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 – Altura (stack) – É a distância vertical entre o movimento central e a linha do topo da caixa de direção, sendo um dos principais indicadores na leitura de uma bicicleta.

Quanto mais alta, maior tende a ser o conforto do ciclista, já que reflete numa caixa de direção também mais elevada. Seu impacto na dinâmica da bicicleta é combinado com outros elementos.

Algumas bicicletas são mais aerodi- nâmicas, como as de triathlon, quando mesclam um menor stack e um maior reach — medida que veremos a seguir.

2 – Alcance (reach) – A distância horizontal entre o movimento central e a caixa de direção é uma medida eficiente para identificar o tamanho correto da bicicleta para o ciclista e também um indicador de como ela se comporta. Quanto maior essa distância, mais estável será a bike.

Em contrapartida, a posição sobre a bicicleta será mais agressiva, exigindo do ciclista maior alongamento e flexibilidade, principalmente nas costas. Em um modelo mais curto, a bike ganha em agilidade, mas fica mais arisca de controlar e menos veloz nas descidas, por exemplo.

3 – Comprimento do tubo superior (top tube) – Nas bikes convencionais, essa medida é feita entre o topo do tubo do selim e a caixa de direção. Nos quadros com geometria sloping — cujo tubo superior é inclinado —, essa linha é projetada virtualmente.

Essa medida já foi uma referência mais significativa sobre conforto e desempenho. Hoje, quem define essas qualidades é o reach, pois mede de fato o quanto o ciclista será projetado para a frente da bicicleta.

4 – Distância entre eixos – A medida entre os eixos da roda é reflexo das escolhas dos demais ângulos do quadro e um indicador importante sobre o comportamento da bicicleta.

Quanto mais curto, mas ágil será a bicicleta, assim como mais instável e arisca. Com um comprimento maior entre as rodas, acontece o oposto e ela fica mais estável em grandes velocidades, porém menos rápida para alterar o traçado.

5 – Comprimento da traseira (chain stay) – No final dos anos 60, as traseiras foram encurtadas para aumentar a rigidez e permitir maior transferência de potência dos pedais. Quanto mais próximo a roda ficasse do tubo do selim, mais competitiva ela se tornaria.

Esse conceito existe até hoje, com a medida de 405 mm sendo quase uma convenção para as bikes com a verve competitiva. Nos modelos para triathlon, a roda é ainda mais “colada”. Com a evolução dos materiais, no entanto, é possível obter grande rigidez em traseiras um pouco mais longas.

É a opinião de Darren Baum, da Baum Cycles (uma fabricante australiana de bikes sob medida), que aposta em 412 mm como uma medida para um pedal de passo eficiente e com boa tração na subida. Essa distância, porém, está mais próxima das bikes de endurance, nas quais um tubo traseiro mais longo visa conforto e estabilidade.

6 – Ângulo do selim – Uma das medidas mais decisivas na composição da geometria da bike, o ângulo formado pela inclinação do tubo do selim é rigidamente controlado pelas entidades esportivas nas mais diversas modalidades, como ciclismo, triathlon olímpico e contrarrelógio.

A média gira em torno dos 73°. O fato é que quanto mais vertical for esse tubo (ângulo tendendo a 90°), mais arrojada é a posição de pedalada e maior a transferência de potência. Bicicletas como as de triathlon Ironman (também conhecidas como ilegais, por ignorarem os padrões) podem chegar a 79°. Já as bikes de downhill buscam mais tração e estabilidade na parte traseira com ângulos bem mais fechados.

7 – Ângulo da caixa de direção (head tube) – Fundamental para a definição da geometria da bike, é ele que determina as reações de pilotagem e a vibração na parte dianteira. A medida é feita mensurando o grau de inclinação do garfo em relação à linha imaginária que liga os eixos.

Quanto maior esse ângulo, mais vertical será a posição da caixa de direção. Logo, a bicicleta será mais rápida e arisca, fará curvas fechadas com maior facilidade — num raio menor — e, consequentemente, também se tornará mais sensível às trepidações do terreno.

Modelos de cicloturismo e urbanas, que prezam pelo conforto, tendem a ter ângulos menores.

 

Monte sua bike

A construção real de uma bicicleta é uma tarefa complexa e exige muito investimento. Porém, é possível se divertir com uma produção virtual.

No site BikeCAD você define o ângulo, os comprimentos dos tubos, o grafismo e personaliza os nomes gravados. O site também reúne depoimentos e troca de experiências de outros fabricantes virtuais e reais. Também há uma versão paga do software, com mais recursos.

 

Por Leandro Bittar