“O Strava tornou-se um fenômeno brasileiro”. A constatação é de um dos fundadores do aplicativo mais famoso do mundo entre corredores e ciclistas, o americano Mark Gainey (na foto, à esquerda). Acompanhado por Michael Horvath (à direita) e James Quarles, os outros executivos da marca, ele esteve em São Paulo para alinhar parcerias e tornar o Strava ainda mais forte no país. Atualmente, o Brasil representa o terceiro maior mercado do dispositivo no mundo, atrás de Estados Unidos, o maior, e o Reino Unido, segundo.
Na visita à capital paulista, o trio ainda aproveitou para conhecer a Praça da Reitoria da USP (Universidade de São Paulo), o mais popular circuito de ciclismo do Strava, com um total de quase 2,5 milhões de km percorridos por 7.6 mil pessoas.
A reportagem do Ativo.com esteve no blastU, festival de empreendedorismo e tecnologia realizado em São Paulo, e conversou com Gainey sobre o excesso de competitividade dos atletas brasileiros que saem em busca de recordes no Strava, as funções que devem ser melhoradas na ferramenta e os planos dos fundadores para transformar a mobilidade urbana em diversos lugares do mundo.
Lançado em 2009, o Strava tinha como proposta inicial monitorar as atividades de ciclistas. Depois, ganhou espaço entre corredores. Hoje, mais de trinta modalidades esportivas são compatíveis com o
funcionamento do aplicativo. É possível ir ainda mais longe? Segundo Gainey, sim.
Durante a blastU, ele e seus sócios ouviram um usuário brasileiro dizer que, em suas viagens, sente falta de receber recomendações do Strava de lugares para pedalar. Enquanto ouvia, Gainey assentia com a cabeça, dando razão ao interlocutor.
“Se você reparar no update do Strava, já aparece uma função ‘Explorar’. Estamos comprometidos com essa noção de descoberta e vamos aprimorá-la nos próximos 18 a 24 meses. Sempre nos perguntamos como podemos promover uma descoberta em uma viagem. Essa empatia de entender o mercado é importante”, contou.
Gainey sabe que o Brasil não está entre os lugares mais seguros do mundo para sair com um smartphone e consultá-lo a qualquer instante nas ruas. O executivo já ouviu sobre os problemas de violência urbana do país e aposta em um conjunto de fatores para que os usuários não sejam alvos de roubos enquanto usam o Strava.
“Três coisas vem à minha mente quando escuto isso. A primeira é que acreditamos no poder da comunidade esportiva. As pessoas gostam e querem treinar juntas. Quanto mais unidas, mais seguras estão. O segundo ponto é o Beacon, uma ferramenta que notifica amigos e familiares sobre as atividades do ciclista ou do corredor. Se algo ocorre repentinamente, já sabem onde aconteceu. O terceiro ponto é identificar onde as pessoas estão correndo e pedalando”, explicou.
Febre entre os atletas amadores brasileiros, o KOM (sigla de “King of Mountain, o mesmo que “Rei da Montanha” em português), ferramenta que oferece uma espécie de troféu pelo menor tempo obtido em um determinado segmento, agora é motivo de preocupação para Gainey. A razão? “Os brasileiros são competitivos”, diz ele.
O desejo de superar amigos e outros competidores vem aumentando o número de acidentes em duas rodas no país. Ciclista amador nas horas vagas, o próprio Gainey conheceu na pele os perigos do ciclismo, já que foi atropelado duas vezes nos Estados Unidos.
“O ciclismo é perigoso, mas queremos trabalhar para torná-lo mais seguro. Uma das medidas é trazer mais fotos à experiência de uso do Strava. Há muitos conteúdos do Instagram que poderiam estar no Strava. Queremos que as pessoas aproveitem mais o esporte e os locais onde estão se exercitando, não que fiquem obcecadas por tempos. Imagino que elas tenham que olhar mais para cima e para os lados, curtindo o percurso, não somente para a tela do celular, atrás de uma marca”, disse.
Há quatro anos, Gainey e os sócios perceberam que, nas grandes cidades do mundo, caía o número de pessoas que usavam o carro diariamente. Assim surgiu o Strava Metro, que, segundo o próprio aplicativo, “ajuda a andar, correr e caminhar nas cidades”. O Metro coleta dados e, em seguida, os repassa a departamentos de transportes e grupos de planejamento urbano para melhorar a infraestrutura de ciclistas e pedestres.
Cidades da Austrália e dos Estados Unidos já aderiram ao Strava Metro – e a intenção dos executivos do aplicativo é trazer o dispositivo ao complicado trânsito das grandes metrópoles brasileiras.
“Se correr, caminhar ou andar de bicicleta for mais seguro ou melhor, queremos ajudar de alguma forma”, afirma Gainey, que também aposta que, em breve, o Brasil assume o posto de segundo maior mercado do Strava no mundo, superando o Reino Unido.
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