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Marcia Fanhani, 31, e Taise Maiara, 25, pedalam juntas há menos de um ano. Deficiente visual desde nascença, Marcia buscava uma nova pilota para sua bike tandem (que leva duas pessoas) quando seu técnico identificou em Taise, que também é atleta olímpica, características parecidas com as suas. Feito o convite, a equipe estava formada.
No Campeonato Mundial de Paraciclismo do Rio de Janeiro, no mês passado, Marcia e Taise alcançaram bons resultados (apesar de não terem ganhado medalha) e confirmaram que seu trabalho está dando resultado. Conversamos com elas logo após conquistarem a sexta colocação na prova de sua categoria. Confira:
>>> VO2 Bike: O que vocês estariam fazendo se não fossem ciclistas?
Marcia: Eu provavelmente seria uma pessoa comum, mas com deficiência. Estaria trabalhando, estudando, tendo uma vida sedentária, como a maioria das pessoas (risos).
Taise: Eu com certeza estaria me movimentando de alguma forma, pois sou formada em educação física e professora de spinning. Mas já não me vejo mais sem a emoção e o frio na barriga do ciclismo competitivo.
É comum ouvirmos que “é difícil ser atleta no Brasil”. É ainda mais difícil ser paratleta no Brasil?
Marcia: Com certeza é muito difícil, pois o Brasil “é o país do futebol”. O berço do ciclismo é a Europa, e aqui não há muita tradição. Mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante. Às vezes tenho vontade de desistir, mas quando escuto que sirvo de inspiração para outras pessoas, desisto de desistir (risos).
Taise: Costumamos brincar que, se um dia tivermos filhos, não gostaríamos que eles fossem atletas de alto rendimento, pois é uma rotina muito puxada e no Brasil não há incentivo.
Perfis paraciclistas: Frederik Assor e Rudolph Mensa, Gana
>>> Vocês sentem que inspiram outras pessoas?
Marcia: Sem dúvida, sinto que minha história inspira outros atletas em potencial, amadores ou com ambição profissional. Outro dia estava andando na rua e uma criança veio com a mãe me cumprimentar, disse que tinha me visto na TV nas Paraolimpíadas.
Taise: E também inspiramos uma à outra! Às vezes tenho preguiça de acordar para treinar, mas reflito e penso “Estou reclamando de ter que acordar às cinco, mas a Marcinha acordou às quatro!”, espanto a preguiça e levanto da cama (risos).
>>> Vocês acham que sentem ainda mais espírito de equipe por pedalarem na tandem?
Marcia: Fazer parte da equipe do Brasil já cria um espírito de equipe incrível, mas pedalar em tandem traz o estímulo extra da parceira, no ciclismo geralmente trabalha-se sozinho em parceria com a equipe, mas para mim, que não enxergo, poder dividir isso com alguém e a pessoa “ser” meus olhos é uma coisa que me deixa até arrepiada.
>>> Vocês sentem preconceito por serem paratletas?
Marcia: Eu acho que causamos mais inspiração do que preconceito. É claro que ainda é preciso divulgar mais as competições de paratletas, mas grande parte do problema é devido à ignorância do ser humano. Não é pelo fato de que não enxergo que não posso fazer nada, no fundo somos todos iguais. Nós mesmos criamos nossas limitações.
Taise: Acredito que somos todos atletas, e não paratletas. Claro que em um ambiente como esse (do Mundial de Paraciclismo) todos têm suas limitações físicas, mas são todos atletas. Antes de participar desse mundo, às vezes eu pensava “que dó” ao ver a lesão de algum paratleta. Hoje tenho dó de quem tem corpo hábil e está sentado no sofá sem fazer nada (risos).
>>> Você (Marcia) sempre foi cega? Como começou a pedalar?
Marcia: Sou cega desde nascença. Sempre pratiquei esportes, fiz judô e goalball (um esporte adaptado para deficientes visuais). Comecei a pedalar depois de casar, pois estava preocupada com a minha forma física, não queria engordar (risos). Em 2013, comecei a traçar metas para mim mesma dentro do esporte: ter minha primeira bike, participar de uma copa do mundo, participar de um mundial, de um parapanamericano e dos jogos paraolímpicos. Quando realizei minhas metas pensei: trabalhar com objetivos funciona (risos)! Por mais que você tenha obstáculos no caminho, trace objetivos e trabalhe por eles. Funciona.
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