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Por Leandro Bittar
Após o primeiro dia de descanso o pelotão retomou nesta terça-feira a disputa do Tour de France 2016. A folga de segunda-feira nos pedais colocou os especialistas em reflexão sobre esse início de competição e buscou em cada palavra das entrevistas o tom do que se passou e o que está por vir.
Três pontos são essenciais para resumir essa primeira parte do 103º Tour de France: a surpreendente performance de Mark Cavendish, o tombo seguido pelo melancólico abandono de Alberto Contador e, por fim, a monopolização da disputa pela camisa amarela entre Chris Froome e Nairo Quintana.
Mark Cavendish chegou ao Tour sem a moral de outros anos dentro das pistas, mas ainda com muita fora dela. A aposta da Dimension Data no britânico multiplicou os números do projeto Qhubeka – Bicycle Change Lives desde sua contratação e parecia que ele estava no Tour justamente por isso – marketing. Ainda mais considerando que ele vai estar no Rio 2016 competindo na pista. Porém, tudo conspirou a seu favor. Ele venceu logo a primeira etapa e vestiu a camisa amarela que lhe escorreu pelas mãos em 2014. Depois, mais duas vitórias milimétricas – que provaram que com talento não se desdenha – e a expectativa de lutar pela camisa verde com ninguém menos que Peter Sagan (também vencedor de uma etapa e camisa amarela). A briga entre os dois continuará nessa semana, mas é difícil imaginar que chegará na terceira semana. Tetracampeão, Sagan é favorito ao quinto título da classificação por pontos em Paris. O alemão Marcel Kittel também venceu uma etapa, mas não parece ter punch para entrar nessa briga.
Se Cavendish reencontrou o sucesso e se tornou o segundo mais vitorioso em etapas do Tour, com 29 (só atrás de Merckx), a nuvem negra não aliviou para Alberto Contador. O espanhol, absoluto em grandes voltas até 2010, nunca mais foi o mesmo no Tour depois do fatídico flagrante por clembuterol (o famoso caso do bife), que lhe fez perder o título daquele ano. Desde então, dois abandonos, nada de vitórias, nada de camisa amarela e muito menos de uma briga real pelo título. Este ano, caiu sozinho na saída de uma curva e foi atropelado por inúmeros outros ciclistas ainda na segunda etapa. Os danos foram sérios e notórios e, para piorar, um novo tombo seguido de um boliche de ciclistas agravou o problema. Contador foi valente e tentou resistir até a nona etapa, primeira em subida. Mas não era mais o mesmo. E sabe-se lá se voltará a ser.
Sem ele, a disputa fica ainda mais monopolizada entre Chris Froome e Nairo Quintana. Os dois já chegaram ao Tour melhor cotados, mas a presença do espanhol era muito importante para o tempero da disputa. Como se esperava, Froome tem na sua equipe Sky tudo que precisa para controlar a prova e fez isso magistralmente até aqui. De quebra, conquistou a camisa amarela ao surpreender Quintana em um ataque na descida da última montanha, na 8ª etapa, que lhe valeu também a vitória naquele dia. Para Quintana, resta o consolo de não ver a chance do título se distanciar como nos outros dois títulos de Froome. Nos primeiros dias de descanso de 2013 e 2015, a diferença entre os dois era respectivamente 2min02 e 1min59. Neste, são apenas 23s.
É preciso ter claro que Quintana luta pelo improvável. Froome já foi inúmeras vezes superior ao colombiano, tem mais equipe e está com a moral elevada com a conquista da camisa amarela na oitava etapa. Todos queremos que Quintana parta para cima do britânico e ataque. Que vença o melhor, mas que seja suado. Essa é essência do esporte. Mas o pequeno escalador parece muito cuidadoso nesse sentido. Metódico, ele quer levar a disputa para a terceira semana, onde acredita poder levar vantagem sobre Froome. A verdade é que desde o ano passado parece claro que a presença de Valverde, o principal diferencial da Movistar, oferece uma experiência ambígua para Quintana. O espanhol ajuda, trabalha, mas não se queima pelo rival. Na 9ª etapa, Valverde estava na fuga com inúmeros ciclistas, sendo dois companheiros de equipe. Uma estratégia que poderia colocar a Sky em dificuldades, mas foi convencido a retornar ao pelotão para o equilíbrio da fuga.
Não é só Quintana que está sendo muito conservador. É sua equipe. Unzué, diretor da Movistar, disse na segunda-feira que “não há prêmio para quem mais ataca”. É verdade. Mas se não conseguir se impor no Ventoux na etapa de quinta-feira (que fique clara a lembrança do que aprontou Froome na última vez que lá estiveram), Quintana pode perder a confiança que muitos depositam nele. Quintana não é melhor que Froome, mas não deve se contentar em ser sempre o segundo melhor. Pra cima dele, Quintana!
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