Mathis DumasFoto: Mathis Dumas

UTMB 2018: Fernanda Maciel busca mais um pódio

Atualizado em 30 de agosto de 2018
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A mineira e ultramaratonista Fernanda Maciel irá encarar novamente a Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB), considerada uma das ultramaratonas mais difíceis do mundo.  

“Eu não posso olhar para cima. É assustador”, disse a atleta se referindo às montanhas que reencontrará pela frente. Em 2014, ela foi a quarta colocada na competição.

A corrida possui um percurso de 171 km e 20 mil metros de desnível acumulados. Durante a travessia, a atleta pisará no solo de três países: França, Itália e Suíça. 

Confira o vídeo promocional da prova:

Fernanda Maciel: acostumada a duros desafios

Fernanda Maciel conseguiu pódio nas edições 2016 e 17 da Marathon des Sables, prova de 250 km no deserto do Saara, mas ficou de fora neste ano por uma questão estratégica. “No deserto eu destruo meu corpo, são quase dois meses para a recuperação total”. Além disso, é recordista no Kilimanjaro, e há poucos meses, era no Aconcágua.

“Estou muito focada em conquistar uma boa colocação no ranking mundial. Para conquistar esses pontos, preciso participar de algumas provas ao longo do ano e minha estratégia em 2018 foi correr a Transgrancanaria HG, em fevereiro; a Penyagolosa Trails HG, em maio; a The North Face Lavaredo Ultra Trail, em junho; e agora a UTMB, que é a que mais pontua”, disse a atleta.

Mesmo com todas essas provas no currículo, a atleta relembra que viveu uma das maiores dificuldades da carreira na última edição da UTMB: “Tive um snowblind e acabei congelando meus olhos na montanha, três semanas antes da prova”. 

(Foto: Mathis Dumas)

A atleta tentou driblar o problema, mas sem sucesso: “fui para a prova com meus óculos transparentes. Porém, o tempo ficou muito ruim, e eu não conseguia enxergar com o equipamento. Tive que seguir sem os óculos. Em uma das paradas, uma médica disse que eu estava com os olhos muito vermelhos, expliquei a ela o que havia acontecido e ela me aconselhou a parar. Até a luz dos flashes me machucavam”.

 

 

Apesar de ainda sentir “dores [nos olhos] em partes muito altas da montanha ou quando o vento está muito frio”, a atleta se mostra empolgada para a prova. “Essa prova é incrível e muito técnica, estou literalmente correndo contra o tempo […] Não posso gastar todo meu corpo no início, preciso saber dosar, porque tenho montanhas gigantescas para cruzar. São sete montanhas altíssimas e mais outras menores ao longo do percurso”.

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A mineira se mostrou contente com o aumento do número de brasileiros na prova deste ano — cerca de 300. E dá uma dica para quem um dia sonha em participar: “o ideal é começar aos poucos, e ir migrando das maratonas para as ultramaratonas de montanha […] buscar provas que deem a pontuação necessária para participar da UTMB. A montanha aqui te exige muita humildade e força. É preciso ter isso em mente na hora de começar […] sugiro participar primeiro da prova que tem 40km. Ela já é bem técnica e dará um panorama bom do que é essa competição”.

A mochila e estratégia de Fernanda Maciel

Fernanda Maciel revelou “o que levam?”, “o que comem?”, “o que pensam?” e “se dormem?” durante um desafio desse porte.

• O que levam na mochila?

“Nós temos como requisito alguns itens obrigatórios. Precisamos levar uma jaqueta, uma calça e uma luva impermeáveis. Também uma manta térmica, lanternas e baterias, telefone, nossa própria comida, duas garrafinhas de 500 ml de água e um copo. A minha mochila fica pesando entre 1 kg e 2 kg”. 

• O que comem?

“Dou preferência para umas balinhas que desmancham na boca e fazem com que o corpo gaste menos energia para mastigar e engolir. Mas levo alguns outros alimentos leves e que me dão uma carga grande de energia”. 

• O que pensam?

“Enquanto estou correndo, estou focada ali. Se a gente fica pensando muito, viajando, acaba perdendo muita energia em cada passada. Fora o perigo de se perder em alguma trilha errada. A prova é muito bem balizada, mas quando a mente começa a cansar, a chance de dar alguma bobeira em meio a neblina aumenta muito. Se eu estou muito cansada, eu até coloco alguma música para ouvir, mas o ideal é que esteja com a minha cabeça focada no meu corpo e na prova”. 

• Os atletas dormem?

“Ao longo do trajeto existem 10 checkpoints. Esses lugares são como hotéis, têm uma grande mesa com comidas e bebidas, banheiro, lugar para descansar e dormir um pouco. Os corredores “normais”, que não estão em busca de pódio, e sim apenas de sua própria superação, param e utilizam essa estrutura. Mas para a gente da elite, não dá para perder tempo ali”.