Pedalar exige muito não apenas das pernas, mas também dos músculos responsáveis pela sustentação e articulação do quadril, diretamente envolvidos no movimento e na postura do ciclista. Assim, não é incomum que a prática muito intensa e frequente possa ocasionar dores nessa região. Porém, é preciso estar atento para saber se se trata apenas de uma dor muscular ou do sintoma de uma lesão mais grave, como a chamada bursite trocantérica, inflamação que acomete a bursa localizada na parte superior do fêmur, numa proeminência óssea denominada trocânter. Para explicar mais sobre o problema, conversamos com o médico do esporte e ortopedista Roberto Ranzini, especialista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot) e pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).
O que é
O termo bursite refere-se a um processo inflamatório que ocorre em uma bursa, que é uma pequena bolsa cheia de líquido (sinóvia) localizada em vários pontos do nosso corpo onde há atrito dos ossos com músculos e tendões quando nos movimentamos — sendo sua função justamente reduzir esse atrito. No caso da bursite trocantérica, a inflamação acomete a bursa situada na face posterior do trocânter maior do fêmur. Trata-se de uma proeminência óssea encontrada pouco abaixo da cabeça do fêmur, na altura do quadril, onde está inserido o músculo do glúteo médio, responsável por estabilizar a bacia.
Causas
Entre as principais causas da bursite trocantérica estão o excesso de exercícios que demandam ação dos músculos abdutores do quadril (glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo e tensor da fáscia lata), a falta de coordenação ou desequilíbrio entre esses músculos, a ocorrência de um forte traumatismo no local ou ainda repetidos microtraumas. No caso do ciclismo, o movimento repetitivo e prolongado de pedalar pode levar a uma maior predisposição à inflamação da bursa trocantérica. Isso porque durante o movimento, o tendão do músculo glúteo maior — que atua na extensão do quadril — pressiona a bursa contra o trocânter, o que pode ocasionar microtraumas ou lesões por overuse. Uma pancada na região do quadril ao cair da bicicleta também pode desencadear o problema. Há ainda fatores de risco, como problemas na coluna (escoliose, artrose, hiperlordose), ter uma perna menor que a outra e encurtamento ou fraqueza nos tendões ou músculos do glúteo.
Diagnóstico
O principal sintoma da bursite trocantérica é uma dor localizada na lateral do quadril, que piora quando há movimentação, apalpação local ou mesmo ao deitar-se de lado sobre a região lesionada. Muitas vezes o sintoma pode ser confundido com o de uma tendinopatia no glúteo médio ou mínimo, ou ainda com o de um atrito da banda iliotibial sobre o trocânter maior do fêmur. Portanto, o diagnóstico correto deve ser baseado na história clínica do paciente e em um exame físico completo que indique a causa real. Algumas vezes, são necessários exames complementares, como radiografia e ressonância magnética.
Tratamento
A princípio, o tratamento compreende fisioterapia, que ajudará a diminuir a dor e a inflamação, além de melhorar o alongamento muscular, a amplitude articular do quadril e o fortalecimento global de toda a musculatura. Caso a dor e a inflamação persistam, o médico pode prescrever a utilização de analgésicos e anti-inflamatórios. Intervenções cirúrgicas são muito raras nesses casos. Exercícios de propriocepção específicos também são importantes para recuperar a correta coordenação muscular antes do retorno à prática.
Prevenção
O problema pode ser prevenido com o correto ajuste do ciclista na bicicleta (bike fit) e a orientação de um profissional sobre a técnica adequada nos treinamentos. Além disso, é importante fazer exercícios específicos para fortalecimento e alongamento da musculatura dos membros inferiores.
Conteúdo publicado anteriormente na revista VO2 Bike, edição 105
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