Lesões cartilaginosas: entenda novos tratamentos

Atualizado em 14 de junho de 2024

As lesões cartilaginosas são frequentes no esportes e comumente ligadas a entorses, contusões e prática inadequada de atividades físicas. Quando sofremos uma lesão na cartilagem sentimos dor, inchaço, travamento e perda de massa muscular. O inchaço no joelho, um dos mais comuns, é conhecido como derrame articular. O que ocorre é a inflamação sinovial causada por resíduos de cartilagem e proteínas inflamatórias. Esse tecido é avascular (sem vasos sanguíneos) e aneural (sem inervações), por isso a presença de dor é um forte indicador de inflamação.

Tempo de tratamento

Um estudo publicado em 2016 afirmou que pacientes mais jovens (com menor tempo pré-operatório dos sintomas e sem intervenções cirúrgicas prévias) mostraram melhor prognóstico e retorno mais precoce ao jogo após o tratamento cirúrgico. A adesão de protocolos de reabilitação e defeitos de cartilagem de menor tamanho são fatores prognósticos positivos.

  • Pacientes jovens com lesões traumáticas (<25 anos em atletas, <30 anos em atletas recreativos);
  • Ausência de atraso no diagnóstico e tratamento (dentro de um ano após os sintomas);
  • Ausência de cirurgias ou lesões anteriores;
  • Defeitos menores de <2 cm².

Quando a cirurgia é indicada?

Quando surge a dúvida ou quando o atleta está submetido a um tratamento conservador (incluindo fisioterapia, medicamentos, suplementos e injeções intra-articulares – corticosteroides, ácido hialurônico e outros ortobiológicos) que não está surtindo efeito. Quando esses tratamentos falham e existem sinais de que a doença cartilaginosa está em evolução como agravado da dor, inchaço permanente e incapacidade de ganho de massa muscular, indicações para cirurgia podem ocorrer.

Evidências científicas

As decisões sempre devem ser baseadas em evidências científicas. Apesar de existirem inúmeros tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos para as lesões, o médico deve sempre se manter atualizado. Quando um procedimento é indicado baseado em uma alta evidência científica, as chances de sucesso são maiores e as necessidades atléticas específicas e os parâmetros multifatoriais requerem uam abordagem individualizada.

Fatores como características da lesão, idade e envolvimento ósseo estão diretamente ligados ao retorno precoce às brincadeiras e ao retardo do tempo de reabilitação. O mais atual no mundo medicinal está relacionado com:

  • Pequenos defeitos reagem bem com à mosaicoplastia, um transplante cartilaginoso em formato de plugue retirado do próprio paciente;
  • Para defeitos médios e grandes, a técnica conhecida como Membrana Autógena Indutora de Condrogenese (AMIC) ou biomembrana é indicada por seu potencial indutor na formação de tecido cartilaginoso rico em colágeno tipo 2, muito semelhante ao tecido nativo do atleta;
  • Quando o osso logo abaixo da cartilagem (osso subcondral) está envolvido, a técnica conhecida como “sanduíche” – na qual o enxerto ósseo é também implantado na lesão – produz melhores resultados.

Dilema

A experiência pessoal do cirurgião, familiaridade com as técnicas e disponibilidades de tecnologia são alguns fatores que devem ser levados em conta. Além desses, também precisamos analisar:

  • Tamanho: um defeito de 2 cm² em um jogador de futsal com 1,65 m requer uma abordagem diferente do que um defeito de 2 cm² em uma jogador de vôlei de 2 m, pois o gesto esportivo e a biomecânica terão impacto direto na evolução da lesão;
  • Localização da lesão: lesões em regiões diferentes do joelho podem resultar em sintomatologia diferente e impacto no desempenho.
  • Envolvimento ósseo: chamado de subcondral, localizado abaixo da cartilagem, pode indicar um prognóstico pior;
  • Cirurgia anterior: lesões de cartilagem pós-meniscectomia (retirada de menisco) pode indicar procedimentos que alteram o alinhamento das pernas, como osteotomia para reduzir o peso sobre a lesão;
  • Patologia concomitante: insuficiência do LCA, displasia troclear com instabilidade patelar, ruptura meniscal lateral complexa e alinhamento em varo do joelho, precisam ser tratados;
  • Tempo: o tempo é chave – quanto mais rápido e efeito o tratamento, melhor.

Desafio multifatorial e multidisciplinar

O tratamento de lesões de cartilagem no atleta continua sendo um desafio multifatorial e multidisciplinar, apesar de uma quantidade significativa de novas opções de tratamento disponíveis. Um histórico baseado em evidências, avaliação clínica e radiológica e algoritmo de tratamento permite que o médico indique a abordagem correta e individualizada do atleta. A tomada de decisão compartilhada e os protocolos realistas de retorno ao jogo, ajustados às necessidades específicas do atleta, são obrigatórios para alcançar o resultado esperado.