Eclipsada na mídia pela Maratona de Boston, que neste ano acontecerá apenas uma semana depois, a Maratona de Roterdã se apoia na velocidade de seu percurso e em sua história, repleta de passagens interessantes, embora bem mais curta do que a do evento de Massachusetts, criado no final do século 19.
A importância de Roterdã logo se impõe para qualquer um que consulta sua história: nada menos do que três recordes mundiais foram assinalados em suas ruas. A ideia de se criar uma maratona internacional nessa cidade portuária da Holanda surgiu em 1980. Foi a decorrência natural do sucesso de uma corrida de 25 km que celebrou o 85º aniversário da União Atlética de Roterdã. Gerard Rooijakkers, funcionário da prefeitura, tomou a iniciativa de organizar um encontro de representantes de clubes. O batismo do evento se deu no dia 23 maio de 81, e foi celebrado com uma chuva torrencial. Menos de 200 corredores se propuseram a continuar sob o aguaceiro para a largada.
O primeiro vencedor, o escocês John Graham, logo demonstrou como o percurso era veloz, ao cravar um tempo que é bastante respeitável até hoje: 2h09min28. A marca foi tão surpreendente para os padrões da época (o terceiro mais rápido registrado no mundo naquele ano) que o serviço de telex da emissora holandesa NOS chegou a sugerir que o percurso poderia não ter sido aferido devidamente, sendo, portanto, inferior aos 42,195km que definem uma maratona. A façanha rendeu a Graham o “polpudo” prêmio de 750 libras.
A marca do britânico logo chamou a atenção de grandes corredores, atraídos a Roterdã em sua busca por grandes marcas. A edição seguinte foi aquinhoada com dois nomes importantes: o herói local Gerard Nijboer e o mexicano Rodolfo Gomez, que reeditaram o duelo protagonizado por eles na maratona olímpica de Moscou. O holandês surpreendentemente conseguiu a prata naquela Olimpíada, e Gomez terminou em sexto, depois de ter liderado. Em Roterdã, Nijboer não completou e o mexicano venceu, superando os fortes ventos, por 2min11s57.
Em 1983, Roterdã arregimentou um fortíssimo pelotão: o australiano Robert de Castella (2h08min37) superou os qualificados adversários: Gomez, o português Carlos Lopes, famoso no Brasil devido à conquista da São Silvestre de 82 e campeão olímpico em 84, Gomez, o belga Armand Parmentier e o cubano naturalizado americano Alberto Salazar. A glória holandesa de Lopes ainda estava por vir. Depois de abandonar em 84, o lusitano, numa prova impecável, tornou-se o primeiro ser humano a correr uma maratona abaixo de 2h08min, cravando o recorde mundial em 2h07min12.
Em 88, o etíope Belayneh Densamo também estabeleceu a melhor marca do mundo em Roterdã, ao vencer em 2h06min50. O conjunto da obra dele na prova também é impressionante, com quatro vitórias no total (87, 88, 89 e 96). Roterdã foi palco de uma quebra de recorde pela terceira vez em 97, quando a queniana Tegla Lourope registrou a marca de 2h20min47, que até hoje subsiste como recorde da prova. Em 2009, os quenianos Duncan Kibet e James Kwambai duelaram num final eletrizante. Ambos concluíram em 2h04min27, mas Kwambai estava dois metros atrás quando o vencedor cruzou a linha de chegada. Com esses três recordes mundiais, Roterdã se situa entre as maratonas mais rápidas do mundo, embora esteja bem atrás de Berlim, que soma dez. Dois brasileiros que chegaram em terceiro lugar fazem parte do chamado “Wall of fame” de Roterdã: Vanderlei Cordeiro de Lima, que registrou a façanha em 2000 (2h08min34) e Rômulo Wagner da Silva, que foi ao pódio em 2004 (2h11min28).
Os dez melhores tempos da história de Roterdã:
2h04min27 Duncan Kibet (QUE)
2h04min27 James Kwambai (QUE)
2h04min48 Patrick Macau (QUE)
2h04min48 Yemane Adhane (ETI)
2h04min50 Getu Feleke (ETI)
2h04min55 Geoffrey Mutai (QUE)
2h05min03 Moses Mosop (QUE)
2h05min04 Abel Kirui (QUE)
2h05min13 Vicent Kipruto (QUE)
2h05min23 Feyisa Lelisa (ETI)
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