Alterações bioquímicas durante a Maratona

Atualizado em 22 de julho de 2016
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Muitas são as alterações bioquímicas que ocorrem no corpo de um corredor durante uma Maratona. Estar atento a estas alterações representa manter sua performance sempre em alta, portanto, preste atenção a possíveis situações de:

PERDA DE SÓDIO PELO SUOR DURANTE A PROVA

A concentração de sódio ideal nos fluidos do organismo é um fator essencial para muitas das funções do corpo, incluindo entre elas a transmissão do impulso nervoso e as contrações dos músculos cardíaco e esquelético.

A perda de apenas algumas gramas de sódio ao redor das terminações nervosas e nas fibras musculares, pode ocasionar cãibras, e mais, a perda de aproximadamente 14 g pode resultar em conseqüências muito graves.

Em algumas pessoas, 1 Litro de suor pode conter cerca de 1,8 g de sódio ou mais e a sudorese pode ocorrer em quantidades de 2 Litros por hora ou mais, trazendo como conseqüência grandes perdas de água e sódio. Uma reposição de sódio insuficiente leva a uma reidratação incompleta, que predispõe o atleta a cãibras durante os exercícios. Além disso, a ingestão excessiva de água, refrigerante ou outra bebida com teor muito baixo de sódio praticamente não reidrata o organismo rapidamente e em algumas pessoas pode ocasionar a hiponatremia, que pode ser fatal.

Desta forma, se uma sudorese intensa ocorre ou está prevista, a ingestão apropriada de líquidos acompanhada do aumento na ingestão de sódio pode prevenir os problemas relacionados com a deficiência de sódio. A utilização de bebidas isotônicas durante e após a prática esportiva representa um fator preventivo bastante seguro e prático, especialmente naquelas atividades de longa duração (acima de 1 hora).

DESIDRATAÇÃO E HIPONATREMIA

Outro aspecto fisiológico que é alvo de inúmeras pesquisas e que complementa os dados acima é quanto ao equilíbrio hidroeletrolítico gerado pela hidratação adequada durante a realização das provas longas. Sabe-se que a desidratação resultante da perda de água pelo suor, compromete o desempenho e as funções fisiológicas do organismo. Como resultado, é preciso ingerir líquidos durante o exercício para se reduzir o risco de problemas relacionados ao calor, manter as funções fisiológicas e melhorar o desempenho.

Sabe-se também que o consumo de água excessivo pode provocar um quadro conhecido como hiponatremia, patologia que ocorre quando a concentração sangüínea de sódio atinge níveis abaixo da faixa de normalidade, causando em situações extremas, edema cerebral, crises, coma e até morte. Com o objetivo de minimizar os riscos tanto de desidratação quanto de hiponatremia, o American College of Sports Medicine (ACMS) recomenda a ingestão de aproximadamente 500 ml de fluidos aproximadamente 2 horas antes do exercício e a intervalos regulares 15 a 20 minutos um ingestão de aproximadamente 125 ml.

Mas quem corre o risco de apresentar hiponatremia?

De modo geral, atletas que ingerem líquidos em excesso antes e durante exercícios prolongados em ambientes quentes e úmidos correm o risco de desenvolver a hiponatremia. Apesar de atletas com porte físico maior não estarem imunes à hiponatremia, atletas menores e de provas lentas que suam muito, que excretam um suor salgado e que são excessivamente cuidadosos com os hábitos relacionados à ingestão de líquidos são aqueles que correm mais risco. Um porte físico menor significa que é preciso menos fluido para diluir o fluido extracelular (FEC). Corredores de provas longas, triatletas e ciclistas têm mais tempo e mais oportunidades para ingerir líquidos em excesso.

Grandes perdas de suor e/ou suor salgado aceleram a perda de sódio. Os atletas que se preocupam em excesso com a hidratação podem acelerar a diluição do FEC, principalmente quando a água é usada como o líquido primário para a reposição hídrica. Os atletas que já começam suas atividades com hiponatremia em função da ingestão excessiva de líquidos nos dias ou horas anteriores à competição correm o risco de desenvolver hiponatremia ainda mais grave durante a competição porque menos fluido é necessário para fazer com que os níveis de sódio atinjam valores perigosos.

HEMÓLISE POR TRAUMA

A hemólise por trauma ocorre quando as células sanguíneas circulantes se rompem devido a impactos. Trata-se de uma hemólise intravascular (dentro dos vasos). Como a hemólise intravascular ocorre em diversos esportes como corrida, ginástica aeróbia, lutas, levantamento de pesos e até mesmo na natação, a terminologia mais adequada seria hemólise esportiva.

A hemólise esportiva é normalmente suave. Ela diminui, porém raramente esgota a haptaglobina sanguínea. A haptaglobina é uma proteína que se liga à hemoglobina formando um complexo que evita a perda de ferro através da urina. O ferro liberado das células vermelhas hemolisadas é reciclado e novamente ligado à hemoglobina recém formada. Dessa maneira a anemia dificilmente se instala. Por outro lado, pesquisas feitas com ciclistas demonstraram que a hemólise que ocorre em função dos exercícios é benéfica para o organismo, pois remove as células vermelhas mais velhas e rígidas e estimula uma síntese compensatória de novas células vermelhas, que são mais deformáveis e passam pela microcirculação.

O diagnóstico da hemólise esportiva está na dependência de três fatores: 1) aumento no tamanho das células vermelhas que se manifesta em um maior número de células jovens; 2) aumento no número de reticulócitos (células jovens) e 3) baixo nível de haptaglobina. O exame microscópico é normal e raramente aparecem células vermelhas deformadas. O aparecimento de hemoglobina na urina é raro.

A prevenção da hemólise por impacto determina que se evite da seguinte maneira: 1) use sapatos de corrida acolchoados; 2) perca peso; 3) pise leve; 4) corra em superfícies macias (como grama). Não está clara a maneira de prevenir a hemólise em outros esportes.

QUEDA NO SISTEMA IMUNOLÓGICO

A prática de exercícios prolongados e treinamentos intensos, seguidos de períodos insuficientes de recuperação, podem provocar depressão do sistema imunológico, tornando os atletas mais susceptíveis a gripes e processos infecciosos.

Existem várias teorias esportivas que estudam possíveis relações entre a queda no sistema imunológico e oferta de determinados nutrientes. As principais estão relacionadas à suplementação de carboidratos, glutamina e vitamina C.

Do ponto de vista científico, a mais fundamentada das teorias diz respeito à oferta de carboidrato, pois sabe-se que a redução nos níveis plasmáticos de glicose (forma em que o carboidrato circula em nosso sangue) está associada à ativação do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal, que por sua vez, acentua a liberação de alguns hormônios conhecidos com estressores.

Essa associação entre hormônios estressores e a resposta imunológica no exercício prolongado sugere que ingestão de carboidratos pode manter os níveis plasmáticos de glicose, diminuir o aumento nos hormônios estressores e, portanto, diminuir as alterações na imunidade. Esta teoria tem sido demonstrada por diversos estudos realizados com atletas de endurance, em modalidades como o triathlon, ciclismo e principalmente maratona.

A diminuição da concentração de glutamina durante e após o exercício é tida por muitos estudiosos como uma outra causa metabólica da depressão do sistema imune induzida pelo exercício. Esse aminoácido é, juntamente com a glicose, o principal substrato energético para as células do sistema imunológico. É produzido basicamente pelo músculo esquelético, e o estresse muscular induzido pelo exercício pode diminuir a sua produção, gerando conseqüentemente a queda da função imunológica.

HIPOGLICEMIA

Estar em estado hipoglicêmico significa estar com os níveis de glicose (a
çúcar) no sangue abaixo do normal. A glicose é uma das principais fontes de energia para nossas células, sendo, para as células do Sistema Nervoso, a única e exclusiva fonte energética.

Para as células, ficar sem energia (estado hipoglicêmico) por um tempo prolongado pode, além de possibilitar o aparecimento de fadiga precoce e comprometimento da performance, provocar também danos severos e irreversíveis. Para garantir a manutenção da performance durante toda a prova evitando a instalação desse quadro, a glicemia deve ser mantida dentro de limites estáveis, o que se consegue através da ingestão de carboidrato (líquido ou sólido) realizada antes, durante e após a maratona e/ou nos seus treinamentos.

Por fim, fica claro que não precisamos de milagres e nem de medicamentos caros para prevenir estes problemas e sim de uma hidratação e alimentação com qualidade durante todo o dia.

Equipe SportsLab
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-Dr. Sérgio Dias Reis
-Dr. Rogério José Neves
-Dr. Paulo Sérgio Barone
-Prof. Daniel Barsottini