Controle total, coelhos e tecnologia são apostas da Nike para sub-2h

Por:Ativo
Atualizado em 04 de maio de 2017
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No próximo sábado, 6 de maio, três atletas da Nike (Eliud Kipchoge, do Quênia, Zersenay Tadese, da Eritreia, e Lelisa Desisa, da Etiópia) adentrarão a pista do autódromo de Monza, na Itália, buscando superar a simbólica marca de 2 horas na maratona. O desafio faz parte do projeto Breaking2, lançado pela empresa norte-americana no final de 2016.

Para atingirem o objetivo, os três terão de completar o trajeto de 42 km – pouco mais de 17 voltas na pista, escolhida por reunir diversos fatores que tornariam a corrida mais fácil – quase 3 minutos mais rápido do que o atual recorde mundial de 2h02min57s, alcançado pelo queniano Dennis Kimetto na Maratona de Berlim de 2014. Ou seja, terão de diminuir aproximadamente 4 segundos por quilômetro com relação à melhor marca atual na distância.

A tarefa parece impossível se for levada em consideração a evolução dos recordes da prova. A última vez que um atleta diminuiu em mais de 3 minutos um recorde mundial nos 42 km foi em 1952, quando o britânico Jim Peters percorreu a distância em 2h20min42s – 4min57s mais rápido do que o coreano Suh Yun-bok, que havia cravado o tempo de 2h25min39s em 1947.

 

 

PRONTOS PARA O IMPOSSÍVEL
Prever uma quebra de recorde não é tarefa fácil. Prever essa quebra com tamanha precisão parece quase impossível – e muitos são os que apostam contra a tentativa baseados nas estatísticas de evolução do recorde dos 42 km.

Para se ter uma ideia, nos últimos 18 anos foram necessários, em média, 5,5 anos para que alguém conseguisse diminuir 1 minuito na distância. Se mantido esse ritmo, a marca só seria alcançada em 2030.

Até mesmo atletas de ponta, que figuram no topo do pódio das grandes maratonas do mundo, estão descrentes quanto à conquista da marca num curto prazo de tempo.

Kenenisa Bekele, etíope campeão da Maratona de Berlim em 2016 com 2h03min03s (segunda melhor marca da história dos 42 km), disse ao The New York Times: “para mim é impossível. Mas nunca se sabe. Talvez dentro de uns 10 anos alguém crie uma tecnologia nova.”

Para alcançar o feito neste fim de semana – e desafiar o improvável -, o projeto Breaking2 aposta em três diferenciais: controle total da prova, um time de coelhos extremamente estruturado e tecnologia inovadora nos calçados utilizados pelos seus três desafiantes.

CONTROLE TOTAL
Em uma prova oficial, diversas variáveis podem influenciar no tempo final dos atletas, como mudanças climáticas, altimetria do trajeto e administração do tempo (e do pace). A proposta da Nike para o próximo dia 6 é, portanto, eliminar ou diminuir os efeitos dessas variáveis sobre Kipchoge, Desisa e Tadese.

Para isso, escolheram o Autódromo de Monza para a tentativa. Especialistas da marca vêm acompanhando incansavelmente as variações climáticas da região e elegeram o dia 6 como o ideal para a tentativa (os dias 7 e 8 ficam como plano b caso as condições no sábado sejam adversas). Espera-se no dia uma temperatura na casa dos 12°C, baixa umidade, poucos ventos e céu encoberto.

Além disso, a altimetria favorável de uma pista de Fórmula 1 e seu formato circular deve ter influência positiva sobre os corredores. Além de não sofrerem com subidas desgastantes, terão apoio total da equipe da Nike, que dará aos atletas, inclusive, uma bebida energética (cujos componentes são mantidos em segredo) a cada volta.

“Criamos uma mistura de carboidratos personalizados para cada atleta, com base nos dados que reunimos ao longo do programa de treinamento, indicando quanto líquido eles perdem durante a corrida e o quanto seus estômagos podem absorver”, explica Brett Kirby, pesquisador e fisiologista líder do Laboratório de Pesquisa Esportiva da Nike.

COELHOS
A maioria das grandes maratonas pelo mundo conta com coelhos – atletas escolhidos para puxar o ritmo dos líderes e favorecer, assim, uma possível quebra de recorde. Na tentativa do próximo sábado, o projeto Breaking2 terá um time deles puxando seus três desafiantes.

Em uma foto divulgada no Twitter (veja abaixo), é possível ver o nome de 18 fundistas que farão parte da tentativa como coelhos. Entre eles está o queniano naturalizado norte-americano Bernard Lagat, de 42 anos, presente em cinco Olimpíadas.

Os atletas trabalharão em times de três e deverão dar duas voltas cada na pista por vez (4,8 km), saindo para descansar e dando vez para outro grupo de três – e assim sucessivamente. A ideia com isso é ter total controle sobre o ritmo desejado na prova, não permitindo que o pace caia em nenhum momento.

Projeto breaking2 contará com time de coelhos durante a tentativa (Reprodução/Twitter)

TÊNIS TECNOLÓGICO
Cada um dos três corredores usará uma versão personalizada do tênis Nike Zoom Vaporfly Elite, desenvolvido especialmente para o projeto Breaking2. Segundo a marca, o modelo vem equipado com uma entressola chamada ZoomX, que será uma das responsáveis por permitir uma performance acima da média a Kipchoge, Desisa e Tadese.

“O aspecto mais instigante deste tênis é que ele proporciona um benefício de desempenho mensurável para o corredor de elite”, disse Sandy Bodecker, vice-presidente de Projetos Especiais da Nike. Ele está falando sobre suas promessas de proporcionar uma média de 4% de melhoria na economia de corrida quando comparado ao Zoom Nike Streak 6, atualmente o tênis de corrida mais rápido da Nike no mercado.

Especialistas chegaram a questionar a utilização do tênis, dizendo que as molas presentes na sua estrutura dariam uma vantagem não permitida aos atletas – uma espécie de doping tecnológico. Questionada pela O2, a IAAF (Federação Internacional de Atletismo) não se posicionou sobre o calçado. A entidade, inclusive, já disse oficialmente que a possível marca não valerá como recorde, já que o percurso não é certificado pela Federação.

ACOMPANHE A TENTATIVA
Todos poderão acompanhar ao vivo a tentativa de quebra da marca na madrugada do dia 5 para o dia 6. A Nike fará uma transmissão direto de Monza via web – o link para acompanhar o desafio já está disponível: nikebreaking2.twitter.com. A transmissão deverá começar por volta da meia-noite de Brasília (5h da manhã em Monza) e o tiro de largada será dado às 5h45min do horário local.