A Federação Europeia de Atletismo, com o aval da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), quer invalidar todos os recordes mundiais do esporte estabelecidos até 2005. A medida seria uma forma de assegurar que todos os recordes oficiais registrados foram quebrados com controle antidoping capaz de ser investigado até 10 anos depois que a amostra foi recolhida.
Com isso, marcas como a da britânica Paula Radcliffe, que na Maratona de Londres, em 2003, registrou o recorde mundial dos 42 km com 2h15min25s, passariam a figurar como melhor tempo, mas não como recorde de fato.
“Gosto [da proposta]. Sublinha que nós (entidades) adotamos sistemas de controle antidoping e tecnologias que são mais robustas e seguras do que 15 ou mesmo 10 anos atrás. Claro que, para que essa regra seja levada aos recordes mundiais pela IAAF, será preciso apoio global de todas associações regionais. Alguns dos atuais recordistas mundiais sentirão que estamos tirando algo deles, mas acho que é um passo na direção certa. Se for organizada e estruturada, teremos uma boa chance de ganhar a volta da credibilidade nesta área”, afirmou Sebastian Coe, presidente da IAAF.
O objetivo dos dirigentes europeus é que a proposta seja votada em reunião da IAAF, em julho, antes do Mundial de Londres, agendado para o início de agosto. Se as novas medidas forem aprovadas, devem entrar em vigor em janeiro de 2018.
Além do controle antidoping, o texto pretende garantir que a performance tenha sido alcançada diante de altos padrões de arbitragem e equipamento técnico.
E o que acontece se os recordes mundiais caírem?
Mesmo que sejam derrubadas pela nova proposta, os recordes continuarão integrando as listas de melhores marcas da história. Para ser considerado recorde, um tempo tem que estar dentro de algumas normas da IAAF, respeitando distâncias específicas e altimetria estabelecidas previamente, por exemplo.
Em 2011, o queniano Geoffrey Mutai venceu a Maratona de Boston em 2h03min02s, tempo menor que o recorde que o etíope Haile Gebrselassie alcançou em Berlim três anos antes (2h03min59s). Como a prova norte-americana não preenche todos os requisitos exigidos pela IAAF, Mutai não derrubou a marca de Gebrselassie.
A partir de 2018, casos como o do queniano em Boston podem ser mais comuns, com mais possíveis recordes sendo considerados, apenas, melhores marcas.
A IAAF já confirmou que, mesmo que um recorde caia, o dono da atual segunda melhor marca não assumirá o posto de recordista.
Uma tentativa de resgatar a credibilidade perdida
Os inúmeros escândalos recentes no atletismo fazem o presidente da Federação Europeia, Svein Arne Hansen, acreditar que a proposta, embora radical, seja vital para resgatar a credibilidade abalada após casos como o da Rússia, que operava um esquema estatal de doping, com dirigentes controlando e supervisionando a manipulação de amostras de urina dos atletas.
“Recordes não têm sentido se as pessoas não acreditam realmente neles. O que estamos propondo é revolucionário, não apenas porque a maioria dos recordes mundiais e europeus terão que ser substituídos, mas porque queremos mudar o conceito de recorde e elevar os padrões para reconhecimento a um ponto em que todos possam confiar que tudo foi justo e acima dos questionamentos”, declarou.
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