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Redação de escola e vida no Quênia mudam carreira de corredor suíço

É possível que a carreira de um corredor seja transformada por um tema de redação escolar? No caso do suíço Julien Wanders, um dos atletas mais promissores do mundo nos 10k e 21k atualmente, sim. Aos 18 anos, Wanders estava prestes a concluir o ensino médio em uma escola de Genebra quando ouviu da professora que deveria fazer uma redação com tema livre. O garoto fugiu dos temas comuns e decidiu apostar em um assunto que mudaria sua vida: “Por que os quenianos dominam as corridas de longa distância?”.

Fascinado pelo tema, Wanders, até então um corredor sem destaque no cenário do atletismo juvenil europeu, decidiu conferir com os próprios olhos o que tornava o Quênia um celeiro de atletas velozes. Determinado a investir na carreira de corredor profissional, preferiu não seguir para a universidade e convenceu os pais de que viver na África seria uma boa ideia. A cidade escolhida foi a pacata Iten, de apenas 40 mil habitantes, onde vivem e treinam alguns dos corredores mais vitoriosos do mundo.

“Você tem que ser um pouco louco para ser um bom corredor. Em todos os esportes, você tem que se inspirar nos melhores. No atletismo, os melhores são os quenianos e etíopes, então a melhor coisa é vir aqui, ver o que eles estão fazendo e aprender como se tornar um campeão”, contou.

As lições dos quenianos ao longo dos últimos anos estão funcionando. Aos 22 anos, o suíço vem alcançando resultados expressivos e desponta como candidato a figurar nos pódios de competições importantes em breve. No último mês de dezembro, interrompeu uma sequência de vitórias de atletas africanos que já durava 30 anos e venceu os tradicionais 10K de Houilles, na França. Neste ano, ficou a dez segundos de correr uma meia-maratona abaixo de uma hora, em competição organizada pela IAAF em Barcelona, e não para de melhorar seus tempos em distâncias variadas, dos 5k aos 21k. “Wanders prova que é possível um europeu lutar contra os melhores do mundo no atletismo. É um exemplo a ser seguido”, escreveu o site francês Track and Life.

 

 

Aprendizado no Quênia

Nos últimos anos, Wanders entendeu as razões do domínio do Quênia no atletismo e, a partir disso, viu seu desempenho melhorar.

“Primeiro, é o trabalho em equipe. Quando você se junta a um grupo de 10 ou 15 corredores, é especial. A mentalidade dos quenianos é diferente. Eles não temem treinar muito, nem sequer pensam muito sobre o treinamento. Para eles, correr é muito simples. Acho que a maioria dos europeus não está treinando o suficiente e já fica pensando sobre a recuperação, o ritmo a ser seguido. Mas, para chegar no topo, você deve treinar muito duro e esquecer o pace”, diz.

Depois, vem o estilo de vida simples, sem distrações e eventos que possam tirar o foco dos atletas.

“Quando estou em Genebra, tenho muitas coisas para fazer, mesmo que não queira. No Quênia, quando acabo de treinar, relaxo, como e durmo. É uma vida que eu realmente gosto. Estou realmente feliz”, acrescentou. “Sei que a resistência vem com a idade, então não estou preocupado com o futuro.”

Pedro Lopes

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