“Um brasileiro chamado Ronaldo conseguiu, na maratona, o que seu xará do futebol foi incapaz de fazer na Copa do Mundo deste ano: provar que é, indiscutivelmente, o melhor do planeta em sua modalidade.”
A chamada estampada no jornal New York Times no dia 21 de setembro de 1998 fazia referência a dois Ronaldos que brilhavam no esporte naquele ano. Um tinha o rosto conhecido mundialmente, já arrecadava milhões na Internazionale de Milão e enfrentava uma enxurrada de críticas por sua atuação apagada na derrota brasileira para a França na final da Copa do Mundo. O outro, menos badalado, havia quebrado o recorde mundial nos 42.195 metros ao vencer a Maratona de Berlim, uma das provas mais prestigiadas do planeta.
Este era Ronaldo da Costa, que saiu da pequena cidade de Descoberto, na Zona da Mata de Minas Gerais, para superar uma marca que já durava onze anos em maratonas. Aos 28 anos, ele surpreendeu o mundo e concluiu a Maratona de Berlim em 2h06min05s.
Campeão da São Silvestre em 1994 e medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1995 nos 10 mil metros, Ronaldo não era considerado um dos maiores especialistas do mundo em maratonas até a vitória na Alemanha. Seus pontos fortes eram provas menores, de 10 a 21 km. Embora estivesse bem condicionado e viesse de uma quinta colocação em Berlim no ano anterior, nem o próprio atleta esperava fazer história naquela manhã.
A minha ideia era fazer uma marca boa, talvez quebrar o recorde sul-americano. Nunca pensei em quebrar o recorde mundial na maratona. Só que o esporte é bom por causa disso. No atletismo, quando você está bem treinado, depende apenas de si próprio e tudo pode acontecer. Eu não digo que foi sorte porque eu estava bem treinado e dedicado”, conta.
Depois de um período intenso de treinos em Minas e no Rio de Janeiro, ele definiu que seu objetivo era terminar a maratona em 2h08min. Passados 20 km, viu que tinha fôlego de sobra e poderia ir além.
“Nos primeiros 10 km, eu corri em um ritmo de 3min03s, 3min04s por km. Estava leve para mim. Do km 15 para o 20, fui melhorando e passei para 3min01s, 3min00s por km. A partir do km 22 [quando assumiu a liderança], pensei: ‘Vou tentar ir mais rápido’. Comecei a correr a 2min59s por km. O pessoal achou que eu ia quebrar lá na frente”, recorda.
Naquele dia, Ronaldo foi um caso raro no mundo da corrida, já que correu a segunda metade da maratona em um ritmo mais forte que o da primeira. A 3 km da linha de chegada, seu agente avisou aos berros que, se mantivesse aquela toada, quebraria o recorde mundial.
Com os braços abertos, o azarão atravessou a linha de chegada ainda cheio de fôlego, como indicaram as duas estrelas e a sambadinha que deu em frente aos fotógrafos posicionados na região em que terminou a prova.
Às vezes, olho para trás e penso: ‘Poxa, olha a importância daquilo que eu fiz’. Quando você para de correr, passa um filme na cabeça. Aquilo foi maravilhoso”, diz Ronaldo da Costa.
Oito dias depois de fazer história na Alemanha, Ronaldo desembarcou em Minas Gerais com a medalha no peito. E se frustrou por não ter o tratamento que esperava. “Na época, achei que o Fernando Henrique Cardoso fosse me chamar. Esperei, esperei, mas ninguém me procurou. Machuca até hoje. E continuo esperando”, declarou à revista Piauí, anos depois de vencer em Berlim.
O prêmio pela primeira colocação e o bônus pela quebra do recorde lhe renderam cerca de 200 mil dólares. O dinheiro, no entanto, passou antes pelas mãos de seu agente, o que fez com que o mineiro tivesse dificuldades para receber a quantia.
“Não vou dizer que não ganhei muito dinheiro. Mas fui sacaneado também por querer confiar. Não vou citar nomes, mas sou uma pessoa muito dada. Quando você vem de uma família que não é muito estruturada, você confia.”
Vivendo o melhor momento de sua carreira, Ronaldo da Costa era uma das atrações da São Silvestre de 1998. No entanto, ele desistiu da disputa alegando contusão – versão desmentida por seu treinador, que revelou que a lesão havia sido simulada.
Em janeiro de 1999, o mineiro foi pego pela polícia mineira com uma carteira de habilitação falsa. No mesmo ano, passou a ser ameaçado por três homens no interior de Minas Gerais, onde morava. O motivo seria uma suposta dívida. A partir daí, Ronaldo nunca mais repetiu os grandes resultados.
“Depois de 1998 eu estava enganando. Não era atleta. Até 2006 não era atleta. Eu não queria mais saber mais de atletismo”, disse, em 2016, à Folha de S. Paulo.
Aos 48 anos, o ex-atleta tem uma filha de 18 anos, cursa educação física e vive em Brasília desde 2012, ano em que passou a trabalhar no Instituto Joaquim Cruz. Após o fim do projeto no instituto, ele e sua esposa passaram a dar aulas de corrida para 60 funcionários dos Correios.
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