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Os maratonistas mais badalados do mundo dificilmente ultrapassam três provas de 42 km no mesmo ano. O pernambucano Israel Gomes Barbosa Neto, coronel do Exército, foi muito além em menos de um mês: percorreu a distância de 20 maratonas em 20 dias consecutivos. Uma “dívida social” o levou a correr 840 km entre Petrolina, no sertão pernambucano, e Recife, sua cidade natal.
Um episódio da adolescência de Israel, hoje com 47 anos, o motivou a se empenhar na saga pernambucana. Aos 14 anos, dificuldades financeiras de sua família quase o tiraram do cursinho no qual estudava para seguir carreira militar. O dono do curso, no entanto, permitiu que Israel continuasse frequentando as aulas, mas impôs uma condição: “Você vai estudar aqui de graça. Quando estiver no auge de sua carreira militar, replique este gesto para outros jovens”.
Há dois anos, Israel percebeu que era a hora de pagar sua “dívida” e começou a planejar sua empreitada. “Corredor compulsivo”, ele decidiu correr por seu estado entre outubro e novembro de 2017 e fazer palestras motivacionais para estudantes da rede pública. Nos encontros com adolescentes do ensino fundamental e ensino médio, explicou os aprendizados do esporte que o ajudaram a vencer na vida.
“Os alunos imaginavam que chegaria um coronel velhão. Só que eu falava a linguagem deles. Ter sucesso na escola não é diferente de atingir uma meta na corrida. Nos dois ambientes, você precisa de planejamento e uma boa preparação. E também é fundamental respeitar os professores e treinador. São eles que indicam os caminhos mais adequados”, afirmou.
O coronel apresentou à garotada histórias de sua carreira militar, anedotas de seus 47 anos de vida e seus principais desafios na corrida. Ao fim da jornada, foi ouvido por 10 mil alunos. Apesar do desgaste físico, a interação com os adolescentes o manteve firme no projeto “Pernambuco em 20 Maratonas”, nome que deu ao seu desafio.
Israel precisou planejar minuciosamente cada detalhe de seu desafio. Obteve apoio financeiro de patrocinadores para custear as despesas, afinou o discurso que seria utilizado nas palestras e recrutou quatro pessoas para o ajudarem na estrada: o motorista da van, o fotógrafo e cinegrafista, uma profissional para apoiá-lo na fisioterapia e nos alongamentos, e a responsável por montar o cardápio do grupo. A proposta era pular da cama antes de amanhecer, correr os 42 km pela manhã e chegar às escolas na parte da tarde.
Mas nem tudo aconteceu como Israel havia planejado. Assim que começou a correr pelo sertão, percebeu que sua jornada não seria das mais fáceis. Já nos primeiros dias, precisou conviver com uma fisgada em seu tendão de Aquiles e viu o sol de 40ºC em Cabrobró derreter a sola de seu tênis.
“Os cinco primeiros dias foram horríveis. Eu chorava todo dia na estrada”, conta o coronel.
A alimentação também foi um problema. Israel e sua equipe tinham todas as refeições planejadas, mas não contavam com as opções limitadas que encontrariam no sertão. No fim das contas, matou sua fome até com buchada de bode e baião de dois após as maratonas.
Os perrengues deram uma trégua a partir do décimo dia, com o surgimento da chuva e o desaparecimento das dores. A segunda metade do desafio seguiu à risca a famosa letra de “A Vida Do Viajante”, uma das músicas mais famosas do também pernambucano Luiz Gonzaga: “Chuva e sol / Poeira e carvão / Longe de casa, sigo o roteiro / Mais uma estação / E a alegria no coração.”
Com a jornada concluída , a “dívida” paga e o coração alegre, Israel agora tem um novo objetivo: quer contar suas aventuras por Pernambuco em um livro. Ele espera lançar a publicação no ano que vem.
“Ao concluir o desafio, cercado por amigos corredores na Arena Pernambuco, senti um orgulho imenso de ser pernambucano e brasileiro. Confirmei que o nosso país tem futuro, sim, e que precisamos nos sacrificar um pouquinho em prol daqueles que, muitas vezes, precisam apenas de um empurrãozinho”, disse o coronel.
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