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Depois de correr 52 maratonas e muitas ultras, em 2017 decidi procurar uma prova que me desafiasse de verdade. Eis que encontro a Maratona de Stelvio, na Itália, que teria sua segunda edição em 16 de junho de 2018 (da qual eu participei). Uma prova nas alturas, literalmente, com altimetria positiva de 3.000 metros.
Devidamente inscrito, iniciei a preparação específica, com muitos treinos de corrida em subidas de janeiro até maio. Precisei pensar na logística, já que não é nada fácil chegar a Prato allo Stelvio — ou Stelvio, simplesmente —, local da prova.
A cidade, localizada a 915 metros acima do mar, pertence à região do Trentino-Alto Ádige, província de Bolzano, com cerca de 3 mil habitantes. Para chegar lá, peguei um avião para Roma e depois para Verona. De Verona, foram necessárias três viagens de trem até chegar à estação de Spondigna; de lá, sai um ônibus municipal até Stelvio.
A largada é muito divertida e animada. Eu estava ansioso, porque fui o único representante do Brasil e da América Latina por lá, entre 650 atletas que participaram. Iniciamos o desafio às 8h e logo deparei com uma estrada mista de asfalto, terra e cascalho, o que tornou possível manter o bom ritmo na prova. Esse primeiro trecho conduz à cidade medieval de Glurns (907 metros de altitude), com ruínas de castelo na montanha. Uma região belíssima! Ainda favorecido pelo terreno, vi que não poderia me entusiasmar e apertar o passo, porque sabia que os majestosos Alpes de Ortles estariam me esperando com toda a sua imponência.
Até o km 14 não fui surpreendido com muitas elevações. Depois o desafio começa pra valer, com passagens pelo Parque Nacional Stelvio Pass, que me recebeu com uma subida gigante de montanha de boas-vindas. Subida de montanha é muito diferente das de asfalto. A inclinação é terrível e o piso não ajuda muito. Apesar do perrengue esperado, passamos por fazendas nas colinas, animais silvestres que vagueiam no recinto dessas fazendas, tudo muito bonito.
Um aspecto pitoresco da maratona de Stelvio é que sempre que um atleta está perto de um posto de hidratação, o pessoal da organização começa a tocar sinos para motivar os participantes e sinalizar a proximidade do posto. A cada 3 km ou 4 km tinha uma parada de hidratação com água, isotônicos, frutas (banana, maçã, melancia) e géis de carboidrato. Tudo organizado com bastante esmero, além de postos médicos e helicóptero de apoio.
As subidas só aumentavam. Passei por trilhas bem difíceis, onde correr requer muito cuidado com a presença de galhos e pedras nas encostas. No km 21 chegamos a um trecho da montanha em que as pessoas aplaudiam os corredores. “Bravo!”, exclamavam. Mais à frente, no km 25, vimos a paisagem do vale do teleférico de Trafoi. Depois a rota muda para uma trilha alpina ascendente, a Goldsee.
Aí é que tudo fica muito, muito difícil: uma longa trilha nas encostas, com neve e terra molhada, cercada por um paredão de um lado e por um abismo do outro. Quase 2.500 metros acima do nível do mar com muito frio e dificuldade para respirar. Tive que parar em alguns momentos para descansar.
Nunca havia passado por isso e foi muito estranho. Mas bola pra frente! Continuei o caminho intercalando corrida com caminhada. Estava o tempo todo acompanhado do grande maciço das montanhas de Ortles, visão maravilhosa, com muita neve nas partes mais altas.
Finalmente, no km 36, avistei as lendárias serpentinas da estrada de Stelvio, outro trecho que só de pensar em subir já ficava cansado. Vencida mais uma etapa, mal podia crer. Estava a menos de 1 km da sonhada chegada.
Usei as últimas forças para correr mais. Avistei o pórtico e cruzei-o com um sorriso e pensando “eu consegui!”. O pessoal aplaudiu e uma onda de felicidade tomou conta de mim. Concluí a maratona em quase 8 horas e ganhei a posição 295 entre os 640 finalistas.
Foi uma experiência impressionante. Eu estive lá! E posso dizer que a maratona de Stelvio vale muito a pena.
Prova: Maratona de Stelvio
Data: 16 de junho
Nº de corredores: 650
Cidade: Prato allo Stelvio
País: Itália
Clima: 5ºC a 20ºC
*Relato de Marcos Gagliardi
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