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Embora a disputa de qualquer prova de 42 km seja um processo desgastante, a Maratona de Boston representa um desafio especial para corredores do mundo inteiro. Muito antes de encararem um clima imprevisível e um percurso recheado de inclinações, os atletas devem provar aos organizadores que estão preparados para correr de Hopkinton a Boylston Street, pontos conhecidos da cidade norte-americana.
Tão duro quanto pagar os salgados 240 dólares (aproximadamente R$ 816) cobrados de corredores que não residem nos Estados Unidos é obter o índice exigido pelos organizadores. Desde 1970, o principal caminho para assegurar uma vaga em Boston é comprovar o tempo através de uma marca obtida em outra prova. Essa comprovação é feita no momento da inscrição, e a organização da major checa a veracidade do registro na hora da seleção dos participantes.
A rigidez dos índices aponta que a Maratona de Boston abrange um território para corredores experimentados. Para carimbar seu passaporte para a major, uma mulher de 18 a 34 anos, por exemplo, deve ter uma marca inferior a 3h35min nos 42 km. Um homem da mesma faixa de idade não entra sem ter finalizado 42 km abaixo de 3h05min (veja a tabela oficial dos índices abaixo).
De tão exigente e cobiçada, a Maratona de Boston passou a receber ainda mais solicitações de inscrições nos últimos anos, o que levou a organização a adotar uma nova medida de seleção, reduzir ainda mais os tempos de corte. Ou seja, é possível que seja necessário obter uma “gordurinha” em relação aos índices oficiais.
“Com essa tendência de baixarem ainda mais os tempos, todo mundo fica assustado. Na minha categoria, foi um corte de 3 minutos e 20 segundos em relação ao tempo oficial”, descreve Paula Bonança, de 33 anos, que esteve na Maratona de Barcelona em busca do tão sonhado índice para Boston.
Bonança acompanhou a Maratona de Boston de perto em 2015, quando acompanhou Marcel Pracidelle, seu marido, e se impressionou com o ambiente ultracompetitivo que toma conta da cidade na época da prova.
“Na entrega do kit, eu já entendi por que Boston é tão diferente das outras provas. O biotipo é diferente, você só vê atletas realmente preparados. Todo mundo é magro. É gente realmente muito atlética”, lembra. “Existe todo um glamour no mundo da corrida por ter feito a prova.”
Como em qualquer outro ambiente, estar onde poucos chegam mexe com a cabeça de alguns corredores. Dono de uma assessoria esportiva em São Paulo, o ex-maratonista profissional Adriano Bastos nota a obsessão de alguns de seus alunos com a Maratona de Boston.
“Para muitos, é questão de status. Eu vejo muitos alunos com esse sonho, principalmente aqueles que já correm em um nível mais forte. Existe a ‘neura’ de querer o índice de qualquer jeito”, comenta Bastos.
Vendida nos Estados Unidos por 110 dólares, a jaqueta oficial da maratona é um dos símbolos do status proporcionado pelo evento. Após a compra, alguns corredores brasileiros estampam na jaqueta o ano em que participaram, uma forma de mostrar que estiveram lá.
“Pensando no corredor amador, que tem sua rotina, trabalha e deixa a corrida em segundo plano, é uma prova realmente muito seletiva. É um número pequeno de pessoas que consegue correr para os tempos que eles exigem”, acrescenta.
Se você pretende disputar a Maratona de Boston e ainda não tem os tempos exigidos, há uma segunda alternativa: contratar uma agência de turismo. No Brasil, a Kamel Turismo oferece pacotes que asseguram lugar entre os 30 mil participantes.
Em 2018, a Kamel leva 60 brasileiros para Boston — alguns possuem o índice, mas optam pelo plano oferecido pela empresa em razão da comodidade. Os pacotes, que, além da inscrição, incluem hospedagem por cinco noites em hotel quatro estrelas, foram vendidos por 2.800 dólares por pessoa (cerca de R$ 9.500). Só não se espante se receber alguns olhares tortos de outros corredores ao pegar o “atalho”.
“Quem se inscreve através de agências nem sempre é bem visto. A maioria se esforçou para chegar lá. Alguns não acham justo aumentar a quantidade de inscritos assim”, observa Bonança.
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