Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Quem encara uma corrida em um domingão de manhã sabendo que ao sair de casa, a temperatura na rua vai estar em 4°C? Achei que seriam poucos os “malucos” como eu, mas eram quase 400 pessoas naquela manhã ensolarada — e gelada — no Greenwich Park. Cada uma com uma motivação diferente. A minha era correr uma prova em Londres, meu novo lar desde julho.
Adoro corrida, já fiz uma maratona, algumas meias, mas ultimamente estava correndo umas três vezes por semana, sendo que na corrida mais longa — geralmente no sábado — fazia 8 km, 9 km no máximo, e estava satisfeita com isso.
Como a minha motivação sempre aumenta quando tem uma prova no horizonte, no início de outubro comecei a procurar por alguma de 10 km. Acho uma distância interessante: é o suficiente para manter o ritmo e a forma sem ter de abdicar da vida social e dá para conciliar com os meus horários loucos de trabalho.
Achei um site que organiza corridas e uma delas tinha um nome que já dava uma ideia do que estava por vir: Royal Parks 10 km Winter Series. Winter — ou seja, correr no frio. Quando se fala de Londres, não é só isso. É frio, vento, chuva ou os três ao mesmo tempo. A prova seria no dia 5 de novembro e eu pensei — o.k., um mês para treinar está honesto. Vamos ver no que dá.
Passei a fazer três treinos diferentes por semana — um com tiros mais curtos, outro com tiros mais longos e o longão no sábado ou no domingo. Sim, o frio atrapalha, eu não consigo respirar direito nos primeiros minutos, mas o lado bom é que aqui tem um monte de lugares legais para correr.
Na beira do rio, nos canais, nos parques, na rua, sempre tem gente correndo. E como somos tantos, existe certa cumplicidade entre nós. Não é raro dois estranhos se cumprimentarem com um leve aceno de cabeça quando se cruzam correndo. E os pedestres também se solidarizam: quando veem um corredor no caminho deles, chegam para o lado, dão passagem, quase sempre com um sorriso.
Um mês depois, chegava o dia da prova. Por sinal, o mais gelado desde que me mudei para cá. Saí de casa às 7h30 da manhã com o termômetro marcando 4°C. Na rua, os próprios ingleses, tão resistentes, sofriam com o frio — o que significa que o negócio estava brabo mesmo.
Depois de 40 minutos de metrô e trem, cheguei à entrada do Greenwich Park, um parque lindo no sudeste de Londres. Na caminhada até a largada, dentro do parque, fui conversando com um casal — ele já acostumado a provas longas, ela usando essa prova como treinamento para a primeira meia-maratona da vida em março. O meu objetivo era correr os 10 km abaixo de uma hora, algo que só tinha conseguido uma vez.
Minutos antes da largada, ninguém conseguia ficar parado e não era só por empolgação! Era preciso manter o corpo quente com um trote ou alguns pulinhos. Quando a prova começou, decidi que iria forte do início ao fim. Nos primeiros 5 km, o meu pé estava dormente por causa da baixa temperatura.
O percurso, de duas voltas em uma parte do parque, intercalava trechos planos com descidas e subidas. Uma das ladeiras era bem enjoada e eu não sabia disso! Naquele momento, me arrependi de não ter estudado o percurso e duvidei se iria conseguir correr rápido como planejara.
Mas como uma prova é sempre tão mental quanto física — quando se está treinado, claro —, rapidamente tratei de tirar a dúvida da cabeça. E a cada quilômetro que passava, meu pace no relógio mostrava que eu estava indo bem.
Mais ou menos no sétimo quilômetro, quando passava pela segunda vez por aquela ladeira ingrata, vi o rapaz daquele casal que tinha conhecido andando na direção oposta. Estava procurando a namorada que havia ficado para trás. Fiquei com pena porque ela estava muito empolgada antes da prova, mas aquele percurso realmente não era dos mais fáceis para os iniciantes. Segui.
Tenho o costume de só olhar no relógio quanto tempo já fiz de prova quando chego ao quilômetro final. Passei do nono e, quando vi, tinham passado só 52 minutos! Eu ia conseguir. Cruzei a linha de chegada e o resultado foi ainda melhor do que eu imaginava: 57 minutos e 6 segundos. Eu nunca tinha corrido essa distância tão rápido na vida! O frio de Londres, afinal, havia se tornado meu aliado nessa empreitada.
Voltei para casa já sonhando com um belo almoço e uma cerveja para comemorar. E pensando, quem sabe, em qual será a minha próxima prova.
Por Marina Izidro
Compartilhar link