Os condôminos de um conjunto de prédios no Jardim Sabará, perto da estação Jurubatuba da CPTM, na capital paulista, já sabem: sexta-feira é dia de “Delícias do Kaic”, na Torre I. Os pais do garoto de três anos vendem pasteis, cachorro-quente, roupas, calçados e brinquedos. Todos os recursos auferidos são investidos no tratamento do menino, que é portador de uma doença degenerativa raríssima, a leucoencefalopatia.
Todos os esforços dos pais de Kaic são necessários. Os custos do tratamento são elevados. Trimestralmente eles viajam a Baltimore, nos Estados Unidos. O menino é examinado e a dosagem do coquetel antioxidante que toma é calibrada. Em paralelo, uma equipe comandada pelo médico Richard Kelley pesquisa, na Filadélfia, formas de retardar o avanço da doença. Se não lutassem, em poucos anos Kaic perderia boa parte dos movimentos, e teria que sentar-se numa cadeira de rodas.
Os pais de Kaic, bem como os de uma criança neozelandesa, de outra alemã e de uma quarta vítima da doença, esta norte-americana, somam esforços arrecadatórios para custear a pesquisa de Kelley, na qual depositam grande esperança.
Graças a todos esses esforços, Kaic falou uma frase completa recentemente. “Acabou o suco”. Os pais choraram antes de ir buscar mais. Há um ano tomando os antioxidantes específicos, o garoto apresentou progressos que surpeenderam o especialista que estima, em um ano ou dois, ver o pequeno brasileiro alcançando o nível de desenvolvimento intelectual e motor que se espera de uma criança de sua idade.
No dia 11 de dezembro, Divan Raimundo de Aquino e Raiza Leslie Ramos de Oliveira vão recepcionar os corredores que participarão da quinta edição da corrida e caminhada “A Chance do Caic”, no Parque Ecológico do Tietê. Mesmo falando do tema no programa de Sabrina Sato, na Record, com apoio de um youtuber e do ator Alexandre Frota, até a última sexta-feira o casal contabilizava pouco mais de 300 inscrições. A participação custa R$ 60. Eles querem mais 200 inscritos. O período de inscrição se encerra no próximo dia 6 de dezembro. É possível efetuar a inscrição clicando aqui.
“Sabemos que haverá outras corridas no dia, talvez a concorrência atrapalhe. E acho que muita gente desconfia, suspeite que estejamos dando algum golpe”, lamenta Divan, chateado com a injustiça de quem vê maldade onde não há. Divan mostra laudos, tomografias que mostram hematomas no cérebro do filho. Não é fraude. Mesmo assim, Raiza se vê obrigada a fazer um apelo, numa tentativa de insuflar o aumento do número de inscritos.
“A única chance que o Kaic tem é a solidariedade do povo. É difícil falar, mas a vida do nosso filho depende de dinheiro. Hoje o meu filho está bem. Encontramos uma saída, que é esse tratamento nos Estados Unidos. Peço que as pessoas se inscrevam, vão correr, conheçam o Kaic. O desenvolvimento dele nos dá forças para lutar”, diz a mãe do menino.”Minha vida e a do meu esposo já não são mais normais. Nossa vida é lutar por ele. Ajudem-nos”.
“A Chance de Kaic” não é a primeira corrida com fins beneficentes introduzida no calendário do Ativo.com. Correr por causas é algo que se pode fazer com certa frequência. O jornal “The New York Times” publicou, no final de outubro, matéria sobre os corredores que se engajam em campanhas beneficentes. Ajudar quem precisa é benéfico também para quem contribui. Participar de iniciativas humanitárias é um caminho seguido por cerca de 17% dos inscritos na Maratona de Nova York. Como se sabe, participar dessa Major não é para qualquer um, pois o número de interessados sobeja, e as vagas são limitadas. Ou o corredor se dá bem no sorteio ou… se engaja numa causa.
Co-autor do livro “The Runner’s Brain”, Jeff Brown, professor-assistente na Harvard Medical School, é o psicólogo-chefe do staff da Maratona de Boston. Ele fala, na reportagem intitulada “A Back Door Into The Marathon Connects Runners With a Cause”, do NYT, sobre os benefícios colhidos por corredores que se engajam em causas.
“Fazer algo de bom, sabemos por estudos e pesquisas, é positivo para a autoestima. Para mim, é algo do tipo ganho-ganho. Muitas pessoas fazem isso por si mesmas e para dar apoio a causas filantrópicas”.
Se aplicarmos o conceito explicitado pelo doutor Brown ao caso de Kaic, podemos concluir que cada inscrição será um ganho para o garoto, que luta contra a sua enfermidade. E quem correr por Kaic, dando-lhe uma chance, certamente ganhará muito mais do que uma medalha e uma camiseta: reforço na autoestima e a gostosa sensação de ajudar alguém. Não é pouco.
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