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Daniel Chaves foi do inferno ao céu em 2018. Após um início de ano difícil, marcado por uma depressão severa, ele deu a volta por cima em poucos meses e termina a temporada em alta, mirando uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Mais do que a 18ª colocação geral, o tempo de 2h13min16s na Maratona de Valência, disputada no último dia 2, lhe rendeu o posto de maratonista mais rápido do Brasil em 2018 e a classificação para o Mundial de Atletismo de Doha, em 2019.
“Essa maratona na Espanha deixou bem claro que minha vida deu uma guinada”, comentou Daniel, em conversa por telefone com o Ativo, instantes antes de relembrar os episódios mais delicados de sua depressão.
Para entender a guinada de Daniel, hoje com 30 anos, é preciso voltar a agosto de 2017. O mau desempenho em provas dos 10 mil metros de pista, a escassez de patrocínios e a falta de confiança em si mesmo o levaram a abandonar a carreira de atleta profissional. Seria o fim precoce de um atleta que, além de já ter defendido o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Toronto e em dezenas de competições mundo afora, já dividiu as pistas com nomes como Marílson dos Santos, Hailé Gebrselassie, Eliud Kipchoge e Kenenisa Bekele, seus antigos parceiros de treino, alguns deles também agenciados pelo holandês Jos Hermens, da NN Running.
Sem dinheiro e frustrado pelos rumos de sua carreira, Daniel começou a trabalhar como treinador em uma assessoria esportiva de Brasília. Sua cabeça, no entanto, havia ficado no passado. Um velho ditado do esporte diz que a principal luta de um atleta é contra seu próprio corpo. Longe dos treinos e das competições, sua nova luta passou a ser contra os próprios pensamentos.
“Eu tive um quadro forte de depressão. As coisas não estavam se encaixando. As coisas ficaram feias por deixar a corrida. Eu estava 8 kg acima do peso e, mesmo vivendo um novo trabalho, não conseguia absorver aquilo. No início de 2018, em um dia negro da minha vida, cheguei ao fundo do poço e tentei o suicídio. Eu estava sobre uma ponte em Brasília e não via mais sentido em nada”, recorda.
Uma mão amiga foi fundamental para resgatá-lo no fundo do poço. O empresário e triatleta brasiliense Vinícius Canhedo custeou o tratamento psicológico de Daniel e o incentivou a retomar os treinos, cedendo a estrutura de sua casa.
Com a volta aos treinos de corrida, a visão negativa sobre o cotidiano e a perda de energia para tarefas simples foram deixadas para trás. Daniel havia voltado ao seu habitat natural.
Oito meses separaram o auge da depressão da Maratona de Valência. Na tentativa de superar a doença, Daniel foi internado em uma clínica no interior de Minas Gerais e passou a tomar antidepressivos e estabilizadores de humor, que ajudariam a neutralizar o transtorno bipolar. Aos poucos, os medicamentos foram substituídos pela corrida.
“Quando os remédios começaram a fazer efeito, eu consegui voltar a trotar e correr alguns minutos. Quanto mais eu corria, menos precisava dos remédios”, diz.
Assim que recebeu o sinal verde para voltar às atividades, decidiu treinar por 45 dias na altitude colombiana, na pequena cidade de Paipa, a 2.500 metros do nível do mar. Os 45 dias na Colômbia foram o gatilho para estabelecer uma nova rotina de treinamentos e partir em busca de objetivos.
Por linhas tortas, a depressão colaborou para o amadurecimento pessoal e profissional de Daniel Chaves. Aos 30 anos, ele entendeu que teria que colocar os pés no chão para otimizar seu rendimento.
“Eu nunca fui de beber, de noitada. O meu problema era não ter destino. Eu gostava muito de viajar o mundo, correr provas em todos os lugares. Eu acabei gerando descrédito por essa vida sem destino, sem roteiro. Eu mudava muito de treinador, de grupo de treinamento. Isso me prejudicava muito. Hoje eu mantenho a disciplina necessária para seguir no Brasil. Estou fixado em Brasília e comprometido com meu treinamento, com as coisas que me fazem bem”, afirmou.
Até a ida para Valência, Daniel tinha apenas experiência frustradas em maratonas. Em suas duas tentativas nos 42.195 metros, em Amsterdã (2013) e Roterdã (2015), o lado mental fraquejou e o levou a abandonar as disputas.
“Minha cabeça não ajudava. Maratona não é só talento. A parte mental conta muito”, lembra.
Com a cabeça nos eixos, Daniel Chaves marcou 2h13min16s em Valência e viu um horizonte de possibilidades se abrir para os próximos anos. O tempo na Espanha atraiu a atenção de possíveis patrocinadores e lhe encheu de ânimo para seguir em busca de uma vaga em Tóquio-2020. Dono da quinta melhor marca no Brasil nos 10 mil metros (28min19s), ele sonha também em perseguir novos recordes na distância que lhe deu destaque nacional.
“Hoje estou com a cabeça erguida, estou em alta, em uma idade boa para correr maratona. Os resultados me dizem que estou em um caminho expressivo”, concluiu.
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