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Correr sempre foi parte da vida de Danielle Zangrando. Mas quando era atleta profissional, as passadas no asfalto serviam para auxiliar na perda de peso da primeira judoca brasileira medalhista em um campeonato mundial. Naquela época, se satisfazia ao acompanhar o ritmo dos atletas masculinos da seleção brasileira.
Depois de se aposentar dos tatames, continuou correndo para ter na rotina uma atividade ao ar livre — ela vive em Santos e geralmente treina na areia, à beira-mar. Ainda com a mentalidade de quem passou a vida inteira buscando resultados, começou a se inscrever em provas para ter metas a serem batidas. Mas sempre que entra em uma corrida, tenta deixar de lado o espírito competitivo de quando usava quimono para poder aproveitar o esporte da maneira como ele é hoje, apenas um hobby.
“Minha luta interna é encarar como diversão. Eu me cobro por tempo, tento melhorar. Fico olhando no relógio, mas não quero. É muito difícil me livrar dessa neura, mas juro que tento”, diz a medalhista de bronze do Mundial de Judô de 1995. “Não estou competindo com ninguém, não preciso mais ser a melhor e provar isso. Passei a minha vida inteira nessa. Se não fosse a melhor, já era. Ficava
fora da seleção”, explica.
Danielle Zangrando teve de colocar à prova seu autocontrole recentemente em Gramado. De férias na cidade gaúcha, resolveu participar da disputa de 12 km da Corrida do Noel, uma prova local. Ficou com a terceira colocação geral feminina depois de se segurar para não tentar acompanhar o ritmo das duas atletas que terminariam à sua frente.
PAIXÃO PELO DESAFIO
As provas preferidas da ex-judoca são as de 10 km — seu melhor tempo é na casa dos 50 minutos —, mas em novembro ela resolveu aceitar um novo desafio: disputar sua primeira meia-maratona. Danielle, que normalmente treina quatro vezes por semana, estreou na distância em um dos melhores locais possíveis para se lembrar de que a corrida está em sua vida para lhe dar prazer: Fernando de Noronha.
Na paradisíaca ilha brasileira, completou a prova em 2h28min05s, o que lhe deu a 13ª colocação de sua faixa etária. Mas ela garante que o desempenho foi o que menos importou depois de 21 km, com direito a paradas para fotos e vídeos, em um dos locais mais bonitos do mundo. De fato, a ex-judoca não sabia se seu tempo estava na casa de 2h28min ou 2h38min, mas gostou da experiência em Noronha. Ainda mais por ter recebido dicas de Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze na maratona das Olimpíadas de 2004, em Atenas, competição da qual Danielle Zangrando também participou.
“Estivemos juntos nos Jogos Olímpicos e nos reencontramos lá. Receber dicas de um campeão como esse não é para qualquer um”, gaba-se, com bom humor, Danielle. Para 2017, pensa em correr mais uma ou duas provas na distância. A Meia-maratona da Sininho, exclusivamente para mulheres, na Califórnia, e a Meia do Rio podem entrar no calendário da paulista neste ano.
MULTIATLETA
Danielle Zangrando ainda se motiva com os benefícios da corrida para outro de seus hobbies, o tênis. Depois de se aposentar, ela retomou o esporte que também praticou durante a adolescência — são duas aulas semanais e, ocasionalmente, torneios de sábado ou domingo. “No tênis ainda sou faixa azul (superior apenas à branca no judô), mas é um esporte pelo qual sou apaixonada. A corrida me ajuda muito porque consigo chegar nas bolas. Acertar a bolinha é só um detalhe”, diverte-se a ex-atleta, formada em direito e jornalismo.
Trabalhando como comentarista, a santista viu o judô nacional conquistar três medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 — ouro com Rafaela Silva e bronze com Mayra Aguiar e Rafael Silva. Foi uma das modalidades que mais renderam pódios ao Brasil no evento, empatada com a canoagem e o vôlei.
Assim como em Londres 2012, o ouro foi de uma atleta feminina. Na capital da Inglaterra, Sarah Menezes foi a única brasileira no lugar mais alto do pódio do judô, modalidade em que o País tinha sucesso internacional apenas no masculino. Até Danielle aparecer no Mundial de 1995, em Chiba, no Japão, e conquistar a medalha de bronze aos 16 anos de idade.
O resultado da santista, também ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, ajudou a atrair a atenção ao judô feminino, que ficava de lado na época em que ela precisava correr, ao lado dos atletas da equipe masculina, para se manter no peso e lutar na categoria 57 kg. As mulheres só começaram a disputar medalhas nas Olimpíadas de 1992, 28 anos depois dos homens, e o Brasil demorou ainda mais para começar a alocar recursos para a seleção feminina.
Com investimento, uma geração especialmente talentosa correu para equiparar os resultados entre os dois sexos. Dos quatro ouros que o País tem na história do judô nos Jogos, dois vieram de mulheres. Os dois últimos.
“Antes as conquistas eram um pouco solitárias, faltava investimento direcionado para o feminino. Foi começar só em 2006. Quem sabe se viesse desde a minha época, não tivesse levado tanto tempo para ter uma equipe boa como essa dos últimos ciclos olímpicos. Vamos ver se conseguimos manter depois de 2020”, avalia Danielle Zangrando.
Na posição de comentarista, ela sabe que precisa cobrar melhores resultados dos atletas. Bem diferente do que tenta fazer com ela mesma toda vez que calça os tênis e sai para correr.
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