Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Muitas horas de treino, algumas variações de estímulos, descanso e uma alimentação balanceada. O caminho para a evolução na corrida é um processo lento e muito associado à dedicação do atleta. Em alguns casos, a dedicação nem sempre é suficiente para garantir os resultados desejados. Mas e se houvesse uma fórmula acessível e rápida que te levasse adiante? E se, como num passe de mágica, fosse possível ficar mais forte, mais rápido, mais resistente e, acima de tudo, mais vitorioso? Essa linha de raciocínio acompanha atletas de elite de diversas modalidades há décadas e pavimentou um dos caminhos mais obscuros da história do esporte: o doping.
Premiações milionárias, pressão por resultados e o desejo de superar os próprios limites a qualquer custo estão entre as razões que tornaram os casos de doping cada vez mais comuns nos últimos anos.
Lance Armstrong, o ídolo desmascarado do ciclismo, e Ben Johnson, o primeiro herói a se tornar vilão no atletismo, encabeçam a lista de grandes nomes do esporte que foram do céu ao inferno por uso de substâncias proibidas. O que parecia uma exclusividade dos atletas de elite, no entanto, chegou com força ao esporte amador nos últimos anos. Diferentemente de Armstrong, Johnson e tantos outros atletas profissionais, os corredores amadores que incluem eritropoietina, anabolizantes e hormônios do crescimento em suas vidas dificilmente são descobertos.
Embora o assunto seja um grande tabu no Brasil e no exterior, o doping entre amadores é uma triste e preocupante realidade. Uma pesquisa feita pela BBC, a maior emissora de rádio e TV do Reino Unido, consultou 1.025 pessoas e revelou que 35% dos esportistas amadores dizem conhecer pessoalmente alguém que se dopou. Metade contou que o uso de substâncias que melhoram o desempenho é “generalizado” entre aqueles que praticam esportes de forma competitiva.
Entre os corredores entrevistados anonimamente pela BBC, 30% reconheceram que saberiam onde comprar substâncias dopantes caso quisessem. E 13% admitiram que consomem algum produto para “turbinar” o próprio corpo.
“O uso indiscriminado de drogas sempre aconteceu, mas, nos últimos anos, notamos uma intensificação devido à falta de fiscalização na produção e comercialização dessas substâncias. O acesso é fácil em academias e também falta orientação profissional”, afirma Carlos Augusto Fernandes Tavares, mestre em endocrinologia pela USP.
A médica do esporte Karina Hatano lembra que, além da grande oferta de substâncias no mercado, o doping amador “tornou-se mais recorrente com a divulgação dos casos de profissionais que melhoravam suas performances com substâncias proibidas”. A associação na cabeça dos trapaceiros que veem quenianos e russos, por exemplo, se dopando e vencendo é clara: se quem chega ao topo está usando, por que não usar?
Para um número cada vez maior de pessoas, a deslealdade com outros competidores e a agressão à saúde não são argumentos suficientes para se manter longe de seringas, pílulas e outras trapaças.
Durante a produção desta reportagem, a O2 conversou com mais de uma dezena de treinadores de corrida, médicos e nutricionistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Todos concordam que houve um aumento expressivo dos casos de doping entre corredores amadores e que o acesso a substâncias dopantes é fácil. No entanto, poucos falam sem receio sobre o tema. É como se o doping ocorresse sempre longe de seus territórios. Na contramão da pesquisa da BBC, nenhum deles afirmou conhecer alguém que se dopou, muito menos mostrou conhecimento sobre como obter os medicamentos.
Um treinador limitou-se a dizer que o campeão de vendas entre os amadores que correm de provas longas é a eritropoietina, também conhecida como EPO. Trata-se de um hormônio produzido naturalmente nos rins, mas que também é criado em laboratórios. Uma injeção de EPO insere mais glóbulos vermelhos no sangue, transportando mais oxigênio aos músculos. Com uma oferta maior de oxigênio no corpo, o atleta sente menos o desgaste físico e vê seu rendimento melhorar.
Não é exagero dizer que a eritropoietina desperta mais curiosidade do que outros itens essenciais na rotina de um corredor. No SEM Rush, site que mapeia tendências de busca no Google, a procura pelo termo “eritropoietina” é 263,8% maior do que por “gel de carboidrato”.
Uma parcela dos interessados pela eritropoietina conta com a ajuda de médicos para aumentar a resistência em provas e treinos. Turíbio Leite de Barros, ex-fisiologista do São Paulo Futebol Clube e um dos nomes mais conceituados da área, diz que é fato conhecido dos profissionais da área a existência de médicos que prescrevem EPO e anabolizantes. À boca pequena, comenta-se que a fama de alguns médicos entre atletas amadores e pessoas que buscam ganho estético cresceu justamente pela facilidade em obter substâncias dopantes por meio deles. Turíbio pondera que “ninguém é inocente nessa história”, uma vez que “quem procura já sabe o que quer encontrar”.
Embora ninguém seja inocente, como sugere Turíbio, não há uma contravenção penal do ponto de vista criminal. Um médico tem autorização para prescrever um anabolizante. A contravenção se dá no campo da ética, já que a justificativa para o uso da substância está associada a fins esportivos, não por indicação terapêutica.
O uso de EPO só é permitido pela Anvisa, agência que regula o setor de medicamentos no Brasil, no tratamento de doenças ligadas à produção de glóbulos vermelhos. Um paciente com anemia secundária à insuficiência renal crônica tem na eritropoietina um importante aliado para melhorar sua circulação sanguínea.
A reportagem da O2 já havia escutado bastante sobre os efeitos do EPO e como alguns profissionais da classe médica intermediavam sua compra. Faltava chegar a ele de fato. No fim das contas, o acesso foi mais fácil do que você imagina.
O documentário Ícaro deu notoriedade ao cineasta americano Bryan Fogel entre os dois últimos anos. Ciclista amador nas horas vagas, ele queria mostrar ao mundo que era possível se dopar e não ser flagrado em exames antidoping nas competições de que participava. A produção culminou na divulgação do escândalo de doping patrocinado pelo governo russo e ganhou o Oscar de melhor documentário no início de 2018.
Diferentemente de Fogel, a reportagem da O2 não tinha a pretensão de burlar um sistema antidoping nem um especialista em dopagem para orientá-la na procura por EPO. Sequer havia alguém da nossa equipe disposto a injetar eritropoietina no próprio corpo para comprovar os efeitos da droga. O objetivo na busca por EPO era apenas checar se o hormônio era tão acessível como todos diziam.
Sem um médico para indicar o caminho até o EPO e sem conhecimento algum de doses ou preços, vasculhamos o Google em busca de um local que vendesse o hormônio. O primeiro estabelecimento supostamente confiável indicado pelo Google foi uma loja de suplementos esportivos no Rio Grande do Sul. “Infelizmente, não trabalhamos com eritropoietina. Também não temos um produto similar para oferecer”, disse a atendente pelo telefone.
Na tentativa seguinte, fomos parar no site de uma loja de medicamentos de Minas Gerais. O site informava que a missão da empresa era “viabilizar tratamentos prescritos pelos médicos, facilitando o acesso a medicamentos especiais e de última geração, comercializados no Brasil ou importados”. Resolvemos ligar. “Meu nome é Pedro. Eu gosto de correr e estou interessado em eritropoietina para melhorar minha performance.”
A funcionária com quem fiz o primeiro contato confirmou que a empresa vendia a eritropoietina e pediu um número de telefone para que o consultor de vendas pudesse retornar. Menos de uma hora depois, Ramon, o consultor de vendas, entrava em contato.
Ramon me explicou que a empresa trabalhava com doses variadas de eritropoietina, de 2.000 UI (leia-se unidades internacionais, sistema de medidas utilizado no ramo farmacêutico) a 10.000 UI. A dose de entrada custaria R$ 35, sem os custos de entrega. Perguntei como eu deveria fazer a entrega da prescrição médica. “Se você quiser, me envia depois por WhatsApp”, respondeu ele.
Combinei com Ramon que eu consultaria o meu médico para verificar qual era a dose mais adequada para meus treinamentos e desliguei o telefone. Dez minutos depois — e sem consultar médico algum —, liguei para a mesma empresa decidido a comprar a dose de 10.000 UI, a mais forte disponível ali.
Outra vendedora me informou que o custo total da eritropoietina de 10.000 UI seria de R$ 221 — R$ 121 do hormônio, R$ 15 do isopor e R$ 85 destinados à transportadora que faria a entrega na minha casa, em São Paulo. Para que o EPO não perca suas propriedades, é preciso que o transporte seja feito em embalagem térmica fechada com gelo, evitando a troca de calor com o ambiente.
Seis dias após a transferência dos R$ 221, chegava à minha casa o isopor azul-claro que continha o EPO. Lembra da descrição no site da empresa? Só metade da proposta foi cumprida: a empresa facilitou o acesso ao medicamento, mas ignorou a parte da prescrição médica. Chegar ao EPO foi quase tão fácil quanto adquirir um novo tênis de corrida.
Embora a inexistência da prescrição médica indique uma compra obscura, a entrega saiu exatamente conforme o combinado. Sem atraso, com o isopor lacrado, orientações para o armazenamento do produto e a caixa do hormônio cercada por três placas de gelo para que o EPO fosse conservado entre 2°C e 8°C, como a fabricante pede na embalagem.
Ao retirar a caixinha do isopor, veio um pequeno susto, desfeito 2 minutos depois com uma rápida pesquisa ao site da Fundação Oswaldo Cruz, filiado ao Sistema Único de Saúde (SUS). A embalagem informava que ali havia um frasco-ampola com 1 ml de alfaepoetina. A reação imediata foi pensar que haviam se confundido com os nomes e enviado outro produto. O site da Fundação Oswaldo Cruz esclarece: alfaepoetina e eritropoietina são nomes diferentes para a mesma propriedade.
A alfaepoetina comprada pela reportagem da O2 foi produzida pela Blau Farmacêutica, empresa nacional cuja indústria fica em Cotia, na região metropolitana de São Paulo. Até a publicação desta reportagem, a Blau não havia enviado seu posicionamento à O2.
O produto que escolhemos, de 10.000 UI, é cinco vezes mais potente que a dose de entrada. Que o EPO de 10.000 UI seria capaz de dar mais fôlego a quem se habilitasse a usá-lo, não restava dúvida. Mas quais seriam as possíveis reações negativas ao uso do hormônio?
Segundo Alexandre Vergete, cardiologista e médico do exercício, o uso da eritropoietina por pessoas saudáveis, sem qualquer anemia grave, como as que prejudicam os doentes renais, aumenta a viscosidade do sangue, gera alterações vasculares e pode conduzir a uma trombose (formação de um coágulo sanguíneo em uma veia, geralmente nas pernas). Infartos e derrames também estão entre as possíveis consequências. Quanto maior o período de utilização da substância, maior é o risco de desenvolvimento dos efeitos colaterais. Nas autópsias de ciclistas mortos pelo uso de EPO, existem relatos de que, de tão viscoso, o sangue dos atletas podia ser comparado a iogurte.
Em uma sessão de hemodiálise, um paciente com problema crônico renal recebe uma dose de eritropoietina de 40 a 50 UI por quilo. Considerando o peso médio do brasileiro (70 kg), a dose seria de 2.800 UI a 3.500 UI. Caso alguém da O2 decidisse injetar a dose de EPO de 10.000 UI em seu corpo, receberia uma dose hormonal de 285,7% a 357,1% maior do que um paciente com problema renal crônico em uma sessão de hemodiálise.
Trombose, risco de infarto, alterações vasculares, deslealdade com outros competidores… Com tantos aspectos negativos em jogo, o que explica o fato de o doping no esporte amador ter crescido tanto?
A resposta passa pela forma como a corrida começou a ser encarada nos últimos anos. Conceitualmente, amador é aquele que cultiva qualquer arte ou esporte por amor ou prazer, não por ofício. Mas, mesmo para os que ganham a vida de outras formas, o que era prazer virou quase um ofício.
O culto à performance foi potencializado pelas redes sociais. Embora o tema seja complexo e divida opiniões, modalidades como a corrida e o triathlon estão ligadas à cultura do heroísmo. Quanto mais você corre, mais admirado você é. Quanto mais rápido você é em uma grande prova, mais curtidas você tem. Mais do que uma questão esportiva, o caminho do doping passa, segundo o psicólogo Marcelo Abuchacra, por um dos sete pecados capitais: a vaidade.
“O doping está virando uma cultura no Brasil. Há uma competitividade muito grande em nosso país. Algumas pessoas que não aceitam ‘nãos’ da vida e têm uma necessidade grande de mostrar aos outros que são capazes, que podem conquistar grandes objetivos. Mesmo que isso custe a própria saúde, elas querem aquela determinada performance quanto antes. A consequência imediata do doping é o resultado, e a consequência tardia pode afetar a saúde. Indiretamente, o doping é uma forma de ter visibilidade, status e atenção social”, explica Abuchacra.
“A vaidade do ser humano é absurda. O doping no esporte amador é ainda pior que no profissional, até porque não existe fiscalização. As redes sociais trouxeram uma exposição muito grande para todos. Quem não tem paciência de fazer um programa em longo prazo opta pelo caminho mais fácil”, acrescenta o treinador de corrida Marcelo Raffani.
A busca por projeção no mundo da corrida é corriqueira para os influenciadores digitais. Atrás de curtidas, comentários, seguidores e apoios de marcas relevantes, eles exibem em suas contas no Instagram músculos tonificados, tempos velozes, dietas balanceadas e físicos pouco compatíveis com o que dizem fazer. Apesar da falta de provas, sobram dúvidas de médicos e nutricionistas sobre a espontaneidade pregada por alguns influenciadores. Muitos relatam que, do outro lado da tela do celular, nem tudo é só “dieta e treino”.
“Às vezes, você não pode buscar para o seu corpo algo que você vê em uma foto, em uma página. É preciso analisar fisicamente aquele corpo. O doping é extremamente comum, sim, principalmente quando envolve ganho de músculo. A pessoa pode não usar o anabolizante, mas optou por uma terapia de reposição hormonal sem qualquer necessidade de fazer aquilo. Não é normal o ganho de uma definição muscular incomum em um espaço de tempo muito curto”, analisa Sérgio Maurício, ortopedista e médico do esporte.
No YouTube e nas redes sociais, pipocam ações de grandes marcas que estimulam a superação de limites e a obtenção de recordes pessoais entre influenciadores. Apesar das metas e do culto à performance, as empresas reforçam o compromisso com os valores do esporte. Sílvia Rodrigues, gerente de comunicação da Mizuno, diz que a marca japonesa procura “investigar” a reputação dos atletas que apoia.
“Se a nossa imagem vai estar associada a algum atleta, estudamos o histórico e a movimentação dele em geral. Se houver algum problema do tipo, não vamos apoiar. É uma questão de índole. O doping vai contra os princípios do esporte. Tem de ser uma pessoa que busca o melhor de forma saudável”, observa.
Em 2012, Dick Pound, então presidente da Wada, a Agência Mundial Antidoping, afirmou que só 10% dos atletas que participavam dos Jogos Olímpicos eram flagrados em exames antidoping. De lá para cá, os atletas que brilham nas pistas e no asfalto estão cada vez mais vigiados, mas muitos não são descobertos. Nas competições amadoras, o risco de ser flagrado é quase zero.
Jocelito Martins, fiscal dos exames promovidos pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), explica que a realização de análises clínicas envolve alguns fatores para que as organizações das provas amadoras decidam ou não fazer a checagem nos atletas. O custo é o principal obstáculo.
“Em provas cujo valor de premiação é alto ou que servem para a obtenção de índices pra eventos maiores, normalmente há o controle. Mas as provas de menor expressão geralmente não têm”, diz Martins.
Um organizador de prova amadora que quiser fiscalizar seus participantes deve, por meio da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), solicitar a infraestrutura e os profissionais capacitados à ABCD, que gerencia os exames no Brasil. Cabe ao contratante custear toda a logística do processo — viagem do árbitro, escolta aos atletas para que a coleta do material seja feita com idoneidade e, claro, a análise da urina, etapa mais cara do sistema antidoping.
Cada análise laboratorial custa entre R$ 970 e R$ 2.170, sem levar em consideração os valores com estrutura e logística. Para analisar a possível presença de EPO, é preciso desembolsar o valor mais alto. Em 2018, a organização da Mizuno Uphill, prova de longa distância em que amadores competem na mesma categoria que os profissionais, gastou R$ 15 mil para testar as quatro mulheres e os quatro homens mais rápidos, incluindo taxas, escoltas e local com a estrutura exigida.
Capaz de encher um corredor de energia sem deixar rastros, o EPO é a substância dopante mais falada hoje em dia, mas não está sozinho. Veja outras “bombas” que estão turbinando o rendimento de muita gente por aí:
São drogas artificiais que costumam promover ganho muscular. Existem mais de 20 tipos de anabolizantes, por uso oral ou injetável. Um dos exemplos é o Durateston, anabolizante que aumenta os níveis de testosterona, o principal hormônio masculino, no corpo. Quando usados sem prescrição médica, os esteroides anabolizantes podem causar impotência, câncer no fígado e problemas cardíacos.
Auxiliam no ganho de massa muscular e na recuperação de lesões. O hGH, como é conhecido, atua na secreção de proteína que conduz à produção e regeneração das células. Esse hormônio é fundamental para proporcionar o crescimento físico. A deficiência em sua produção causa, por exemplo, casos de nanismo. O excesso de hGH no organismo gera deformações no corpo, como aumento do nariz, dos lábios, das mãos e dos pés.
Contratado pela Nike para guiar atletas promissores em um projeto da marca no Oregon, nos Estados Unidos, Alberto Salazar foi o homem que ajudou a lapidar o talento de corredores como Mo Farah e Galen Rupp. A boa fama de um dos treinadores mais renomados do planeta começou a ruir em 2015, depois de uma denúncia da BBC. A reportagem apontou que Salazar havia experimentado testosterona e outros remédios controlados. As acusações ganharam mais atenção depois que o jornal The New York Times publicou que o treinador trabalhava em parceria com um endocrinologista do Texas para obter prescrições médicas a fim de melhorar o desempenho de seus atletas. Ex-assistente técnico de Salazar, Steve Magness contou que viu Rupp receber duas pílulas do treinador antes de uma corrida na Alemanha. Com a reputação do tutor abalada, Mo Farah preferiu deixar o projeto da Nike no Oregon e passou a treinar no Reino Unido.
Um exemplo de atleta que teve sua carreira arruinada em pouco tempo. Primeira colocada na maratona feminina nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e vencedora da São Silvestre em 2016, ela foi a primeira queniana da história a levar o ouro nos 42 km no maior evento esportivo do planeta. Em 2017, a atleta recebeu uma suspensão de quatro anos por doping. Um exame feito fora do período de competições indicou o uso de eritropoietina. Sumgong era reincidente em casos de doping. Ela já havia sido flagrada em um exame em 2012. De acordo com veículos estrangeiros, Sumgong seria uma das integrantes de um esquema de doping envolvendo médicos indicados pela Iaaf e a Federação Queniana de Atletismo.
O canadense Ben Johnson ganhou o status (passageiro) de lenda do esporte na final dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Ao correr os 100 metros rasos em 9s79, ele abocanhou a medalha de ouro e levou o recorde mundial. Quarenta e oito horas mais tarde, veio a notícia de que ele havia sido flagrado no exame antidoping por uso de esteroides anabolizantes. Três décadas depois, Johnson jura que foi vítima de uma armação.
Para tentar combater e acabar com o doping no esporte, a ABCD, no início de cada ano, estabelece um plano de distribuição de testes, dentro dos conformes e das determinações do Código Mundial Antidopagem e da Wada. Esse cronograma define a quantidade de testes antidoping, os atletas que serão testados, as modalidades esportivas prioritárias, os eventos com maior potencial de uso de substâncias proibidas e o direcionamento das análises.
Dentro dessa estratégia, que pode submeter atletas aos testes, estão todos os atletas com vínculo a alguma entidade de administração do esporte ou que participem de eventos chancelados por alguma entidade.
O plano envolve o controle e as penalidades previstas no Código Mundial Antidopagem sem distinguir atletas amadores ou profissionais. Em 2018, o plano da ABCD conseguiu cobrir 50 modalidades e realizar cerca de 6.500 testes em competições e fora delas.
O site da ABCD disponibiliza os resultados em duas listas: “Atletas com Violação de Regras Antidopagem” e “Atletas com Suspensão Definitiva”. A ABCD também realiza de forma contínua atividades e campanhas educativas sobre o combate ao doping. Além disso, mantém um canal exclusivo para denúncias via e-mail (denuncia@abcd.gov.br) para que os dados sejam encaminhados aos órgãos de controle e fiscalização de dopagem de forma sigilosa.
*Por Pedro Lopes e Leonardo Boscolo
Compartilhar link