Aos 75 anos, Drauzio Varella é um homem que não dá sinais de cansaço. Articulado, o médico cancerologista tem clareza na fala, raciocínio rápido e a energia necessária para encarar uma agenda atribulada, que envolve programas de TV, palestras, pesquisas científicas e maratonas.
O segredo para alcançar uma velhice ativa foi descoberto aos 49 anos, após a recomendação de um amigo. “Ouvi que aos 50 anos começava a decadência do homem. Eu estava cheio de ideias, trabalhando feito um louco. Foi ali que eu disse: ‘A minha não vai chegar’. Na época, eu ia muito a Nova York pelo trabalho. Decidi, então, que iria correr a Maratona de Nova York quando fizesse 50 anos. Comecei e não parei mais”, lembra.
Há 25 anos, Drauzio completava a Maratona de Nova York em 4h01min e consolidava uma relação próxima com a corrida, esporte que o acompanha de três a quatro vezes por semana até hoje. Com mais de 20 maratonas na bagagem, ele sai da cama às 5h para correr em Higienópolis, bairro onde mora. Mais do que um exercício rotineiro, trata-se de uma dose extra de otimismo no cotidiano.
“A corrida te dá um otimismo para encarar a vida. Você continua com os mesmos problemas, mas essa disposição que a atividade física traz não é uma coisa puramente física, também envolve um componente psicológico.” Quem acompanha seus conselhos e análises sobre temas relacionados à medicina na TV e em sua coluna na Folha de S.Paulo não imagina que, até os 36 anos, o cigarro não saía de suas mãos e o sedentarismo estava presente em sua vida.
Drauzio fumava de 15 a 20 cigarros por dia e “não corria nem meio quilômetro”. Aos 70 anos, o médico que não corria nem meio quilômetro e tinha o cigarro como fiel companheiro chegou ao Olimpo da corrida, a Maratona de Boston.
Drauzio Varella conseguiu o índice necessário para ir a Boston e, duas décadas depois de mergulhar no esporte, correu os 42.195 metros da maratona mais competitiva do mundo em 4h02min — quase o mesmo tempo de sua estreia em Nova York.
“Naquele dia, em Boston, eu pensei: ‘Vinte anos depois, aqui estou eu repetindo o tempo da primeira prova’. Talvez seja um sinal de que a decadência não chegou para mim [risos]. Eu vou do jeito que consigo, já que corro quando posso, quando arrumo tempo. E não é nada fácil arrumar tempo”, conta, bem-humorado.
Em 2015, ele juntou suas experiências no mundo da corrida aos conhecimentos médicos no livro Correr – O exercício, a cidade e o desafio da maratona. Disseminar os benefícios da corrida é um dos caminhos para que os brasileiros envelheçam como ele: com qualidade de vida.
“Praticar esporte ajuda a não transformar o envelhecimento em adoecimento. É a diferença para envelhecer sem ficar obeso, sem ter pressão alta, sem picar o dedo por causa de diabetes”, diz. “Vou correr até quando aguentar. Quero ver até onde vai dar. Vai chegar uma hora em que não vai dar mais.”
Manhã de 14 de abril deste ano, Parque Villa-Lobos. Com vários smartphones direcionados para o seu rosto, Drauzio Varella parece levemente incomodado em ser o centro das atenções. Cercado por dezenas de pessoas em um evento de lançamento de um tênis de corrida, o médico, ainda com a camisa suada depois de percorrer alguns quilômetros, recebe uma enxurrada de pedidos de selfies.
E arranca risadas dos presentes com respostas diretas e com certa dose de sarcasmo. “Doutor, como eu faço para começar a correr?”, perguntou um homem, filmando a conversa. Calado por alguns segundos, Drauzio olha o interlocutor nos olhos e diz: “Comece”.
Responder a centenas de perguntas sobre absolutamente tudo que envolve saúde é o ônus de ser o médico mais famoso do Brasil. “Aumenta muito a responsabilidade. Em tudo que eu falo, tenho que pesar para saber se vou ser bem compreendido, se isso vai ajudar as pessoas ou se vai acabar criando problemas. Você também fica mais criterioso nas críticas que faz, porque essas críticas podem ter consequências. Por outro lado, você tem acesso aos meios de comunicação e tem esse lado do assédio. Você fica tirando fotografia o tempo inteiro. Eu levo na tranquilidade, mas, às vezes, você não está no momento”, diz.
Além de Nova York e Boston, uma terceira major tem um lugar guardado no coração de Drauzio: Tóquio. “Gostei muito de correr por lá. A organização é perfeita. Nos últimos 2 ou 3 km, diminuí o passo para sentir o prazer de estar naquela cidade, naquele lugar.”
Ver os maratonistas mais rápidos do mundo a poucos metros nas ruas japonesas foi marcante para Drauzio. “Em Tóquio, o trajeto da maratona faz uma espécie de alça, e é possível ver os corredores mais rápidos do mundo no caminho contrário. Eu nunca tinha visto até então. Fiquei emocionado. Eles mal encostam o pé no chão. Quando eles passaram por mim, já estavam na reta final da prova e eu havia acabado de chegar ao km 21”, recorda.
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