A El Origen Aconcágua é uma ultramaratona que acontece entre as cidades de Villa La Angostura e Villa Traful, na Patagônia. Neste ano, o desafio rolou entre os dias 1 e 3 de março, e reuniu pessoas de todo o mundo – inclusive brasileiros, que corresponderam a 20% do quórum da prova. A marca registrada da aventura é seu duro percurso, dividido em distâncias de 30, 50 e 100 quilômetros, as quais você pode fazer em solo ou em dupla. Moniqui Agnes, 39, participou da prova nos 30 km solo, e levou pra casa o troféu de primeiro lugar da modalidade. A seguir, a atleta conta a experiência de correr pelas montanhas da Patagônia.

Preparação

“Sempre corri distâncias curtas no asfalto, entre 4 e 6 km e já subi no pódio em algumas provas que participei. No início de julho de 2017, decidi que queria um novo desafio.

Depois de ler um pouco sobre a prova El Origen, não pensei duas vezes para realizar a inscrição. Como sou bastante competitiva, iniciei minha preparação em setembro e coloquei na cabeça que iria vencer a prova, mesmo que estivesse iniciando um treino diferente do que estava acostumada e que precisava de paciência para a transição de modalidade”.

Ao assumir esse compromisso, mudei quase toda rotina da minha vida: vendi meu carro e adotei a bicicleta como meio de transporte, alterei minha alimentação e todos os meus horários. Fiz uma revolução ao longo dos meses! Tomei um pouco de cuidado com os treinamentos, porque estava me recuperando de duas lesões na canela. Ao todo, foram 162 dias de preparação, tempo considerado curto pelos especialistas.

Escolhi uma assessoria esportiva, clínica de fisioterapia, nutricionista e fui aproveitando os conselhos de cada expert que conhecia ao longo dessa jornada. Algumas pessoas diziam que eu jamais chegaria ao topo do pódio, mas sabia que podia confiar no meu potencial.

Treinamento

Para tentar simular a altitude, comprei uma máscara que exigia mais fôlego para conseguir respirar. Esse exercício fortaleceu minha capacidade respiratória e me preparou para os momentos que exigiam mais da respiração.

Aos finais de semana, me juntava a uma galera para treinar em lugares diferentes, como o Pico do Urubu, Pico do Lobo, Pico do Jaraguá e a Serra do Japi. Dessa forma, conseguia correr em terrenos mais técnicos e parecidos com o cenário da El Origen.

Estava com um rendimento acima da média e me sentindo muito apta para correr. Ainda tive a oportunidade de realizar um estudo de performance, em que médicos avaliaram o meu desempenho. Alguns deles até me recomendaram participar dos 50 ou 100 km, mas tinha uma superstição muito forte com os 30 km.

Tudo acontecia comigo com o número 3: a prova terminaria no dia 3, no 3° mês do ano e seria realizada em 3 dias. Além disso, todos os números do meu celular são múltiplos de 3. E como se não bastasse, venci 3 provas seguidas no final de 2017, em outubro, novembro e dezembro, que serviam de preparação para El Origen.

El Origen

Confesso que foi uma prova bem complicada. O percurso saiu 2 ou 3 dias antes, então ficou muito difícil estudá-lo e treinar com precisão. No dia que antecede a prova, a organização faz uma palestra informativa sobre o evento, cronogramas, regras, percurso etc.

Ao contrário das corridas de rua, o tempo de uma ultratrail pode interferir muito no cenário da prova devido as dificuldades nas montanhas. Por isso, a meditação foi uma das principais aliadas entre um dia e outro para relaxar a mente e me manter concentrada.

No 1° dia, o percurso foi fácil, mas sofri com a altitude. Corria sem conseguir respirar. Foi meio tenso. A temperatura variou entre 8 e 17°C durante o dia e à noite, 4°C. Até que estava agradável para correr. Quando terminei a primeira etapa, chorei de raiva por conta do meu desempenho, mesmo estando muito próxima da primeira colocada.

O 2° dia foi basicamente permeado de descidas. Acelerei até cruzar a linha de chegada. Quase cheguei com a primeira colocada, mas ela acelerou mais do que eu na reta final. Mesmo com duas etapas concluídas em segundo lugar, sabia que ainda tinha chance de vencer, pois a El Origen é a soma de todos os tempos.

O 3° e último dia era minha especialidade: 9 km de subidas. Não sei por que, mas tenho um ótimo desempenho em provas íngremes e sabia que as outras competidoras estariam mais cansadas. Foi uma aventura! Dei um gás enorme e pouco me importei com barrancos, troncos e pedras. Obtive uma vantagem imensa e fui campeã da etapa com folga.

Já imaginava que havia vencido a El Origen, mas a sensação de descobrir que o pódio era meu, é impossível de descrever. Uma experiência incrível em um lugar incrível!

Números de Moniqui Agnes nos 30 km da El Origen:

1° dia: 1h27min59s

2° dia: 1h10min15s

3° dia: 1h35min30s

TOTAL: 4h12min59s