Papo de Corrida

Eliud Kipchoge comenta recorde mundial e seus planos para o futuro

No último dia 16 de setembro, Eliud Kipchoge, “o” queniano de 1,67 metro e 56 kg, quebrou o recorde mundial na Maratona de Berlim com 2h01min39s. Ele sustentou um pace abaixo de 2’53” por quilômetro ou, ainda, a 20 km/h se estivesse correndo em uma esteira.

O vídeo de sua chegada viralizou pelo mundo, e emociona até quem não é muito ligado no assunto. Ao cruzar a faixa do pórtico, Kipchoge esboçou um largo sorriso, deu um salto em direção a Patrick Sang, seu primeiro e único treinador, e o abraçou.

Conversamos com a lenda sobre sua recente conquista e seus planos para o futuro. Confira a entrevista abaixo e saiba o que Kipchoge sentiu ao passar pela linha de chegada.

O2: Acha que a prova de hoje (16 de setembro) pode ser considerada perfeita para você?

Eliud Kipchoge: Foi perfeita. Eu corri sozinho nos últimos 17 km, mas não acho que o recorde possa ser atribuído a isso. Só pensava que tinha que manter o pace até o último quilômetro.

02: Você quebrou o recorde mundial. Quando “caiu a ficha” de que isso iria acontecer durante a corrida?

Eliud Kipchoge: Tive a certeza do recorde depois do km 30. No final de uma prova, vemos um monte de corredores com cara de dor.

02: O que você faz para não senti-la? Existe alguma estratégia?

Eliud Kipchoge: A dor está em todo lugar quando se corre uma maratona. Mas você precisa tentar afugentar esses pensamentos (de que está sentindo dor) e só se concentrar na corrida.

02: O que você pensa durante uma corrida importante como esta? Como é que você faz para superar seus limites?

Eliud Kipchoge: Eu não acredito em limites. Quando eu treino, tento ouvir meu corpo e me desafio a ir além no momento certo. É importante se ouvir.

02: O “muro” do sub-2 da maratona continua firme e forte, embora você esteja a 99 segundos de quebrar essa barreira. O que acha que precisa acontecer para esse recorde ser superado em uma prova de asfalto?

Eliud Kipchoge: Na verdade, estou a apenas 25 segundos de bater essa marca (no ano passado ele participou do projeto Breaking2 da Nike em Monza, na Itália, onde fez os 42 km em 2h00min25s). Não tem segredo, tampouco incentivo científico para isso. Tudo o que se precisa é acreditar, ter um excelente time que acredite em você e no desafio. E, claro, vestir o tênis perfeito e ser mais forte do que qualquer outro corredor por aí. Então, tudo se torna possível.

02: Você correu com um tênis desenvolvido com sua ajuda e ajustado para seus pés (o Vaporfly 4% Flyknit, que se esgotou em apenas algumas horas no primeiro dia de vendas no Brasil). Acredita que o modelo contribuiu para esse recorde?

Eliud Kipchoge: Esse tênis é para qualquer corredor, não só para mim. Eu testei o modelo e dei minhas impressões para a Nike. E, sim, posso dizer que ajudei a desenvolver um tênis mais rápido do que qualquer outro já produzido. Entretanto, ainda é preciso ser bom e correr rápido.

02: Quais são os três requisitos básicos para se correr uma maratona?

Eliud Kipchoge: Treino consistente, paixão e autodisciplina. Esta última está relacionada a ser focado e levar uma vida simples.

02: Qual o seu conselho para quem está treinando para sua primeira maratona?

Eliud Kipchoge: Novamente, o treino é importante. Mas é mais importante injetar paixão no processo. Você precisa crer fortemente que está apto a correr a distância pretendida. Essa é a mágica da maratona.

02: Você fica nervoso antes de uma prova?

Eliud Kipchoge: Bom, a tensão está lá, mas ela é importante: sem ela, não há chance de vencer a prova.

02: O que você sentiu ao cruzar a linha de chegada? Ficou surpreso?

Eliud Kipchoge: Eu me senti ótimo, mas fiquei surpreso. Sabia que em algum momento quebraria o recorde, mas não tão rápido.

02: Você participou da major no ano passado. Qual o seu comparativo entre esta edição e a última?

Eliud Kipchoge: Eu sempre apreciei a Maratona de Berlim, mas no ano passado o tempo estava ruim. Esta edição foi presenteada com um clima ótimo.

02: Sente que realizou seus sonhos mais loucos hoje?

Eliud Kipchoge: Com certeza, sim! Como falei, eu esperava bater um recorde, achava que fosse fazer abaixo de 2h02min57s, mas não na faixa das 2h01min.

02: Você tem uma medalha de ouro olímpica (maratona Rio 2016) e acabou de quebrar o recorde mundial. Quais são seus próximos planos?

Eliud Kipchoge: Meus planos são uma folha em branco. Eu tinha um plano para Berlim, que consegui executar. Agora quero um tempo para me recuperar, ler livros que contem histórias ao redor do mundo, gosto muito. Também tenho família, quero aproveitar meu tempo livre com ela.

02: Qual é sua maratona favorita?

Eliud Kipchoge: Hoje é a de Berlim. É plana e rápida.

02: Você mencionou que tinha um plano para Berlim. Qual era?

Eliud Kipchoge: Era simples: correr em um pace baixo para fazer a primeira parte da prova entre 1h01min ou 1h01min15s. E deu certo.

02: Como era a energia das pessoas durante a prova?

Eliud Kipchoge: O público foi incrível. Sem as pessoas torcendo, certamente seria mais difícil. O apoio delas era música para os meus ouvidos.

02: Teve alguma coisa que deu errado na prova?

Eliud Kipchoge: Nada, absolutamente nada. Fiquei feliz com a corrida, superfeliz com o resultado e meu plano funcionou.

02: Você deixou seus adversários para trás logo no começo da maratona. Esperava que isso fosse acontecer?

Eliud Kipchoge: Sequer pensei nos outros competidores, porque estava focado no pace e no tempo de prova.

02: Seus pacers o deixaram no km 25. Isso estava planejado?

Eliud Kipchoge: Não esperava ficar sozinho. Mas sou realmente grato aos pacers que ficaram ao meu lado até o trecho dos 25 km.

02: Acredita que é capaz de superar seu próprio recorde?

Eliud Kipchoge: Eu acho que o ser humano não tem limites. Tudo é possível, e os recordes estão aí para serem quebrados.

02: Participará dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020?

Eliud Kipchoge: Sim, vou continuar correndo e tentar ser bem-sucedido na missão. Nunca pensei em parar.

02: Como você se motiva para continuar correndo? Tem muita gente que corre uma maratona e depois desanima. O que você faz?

Eliud Kipchoge: É fácil. Eu amo esporte, então não consigo parar!

02: Você está sempre sorrindo, mesmo durante uma prova difícil. No que pensa nesses momentos?

Eliud Kipchoge: Maratona é vida. Se você realmente quer ser feliz, precisa aproveitar a vida. É por isso que sorrio. Eu me divirto correndo maratona

Amanda Preto

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Amanda Preto

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