Há cinco anos, durante a Maratona de Boston, duas bombas caseiras feitas com panelas de pressão foram detonadas próximo à linha de chegada da corrida mais importante da cidade e uma das maiores do mundo. O que era para ser festa — a prova caiu em 15 de abril, o dia do Patriota — tornou-se um episódio de filme de terror, com 264 feridos e três mortos, entre fumaça, confusão e gritaria.
Apesar da tragédia, o atentado terrorista uniu os cidadãos em nome da solidariedade e da superação. O movimento #BostonStrong coloriu as ruas com azul e amarelo, e com a ajuda dos outros esportes, manteve a grandeza da major.
Partindo da pequena cidade de Hopkinton, os corredores estavam curtindo a experiência única de estar em um seleto time de participantes. Para correr a Maratona de Boston, é necessário ter um índice duro de conquistar: por exemplo, para correr em 2018, homens com idade entre 35 e 39 anos precisam ter completado, após setembro de 2016, uma maratona em 3h10min. Já as mulheres, em 3h40min.
Em 2013, a brasileira Fabiana Tito estava entre os 30 mil atletas, e um pequeno percalço parece ter salvado sua vida. “Tive de parar para ir ao banheiro durante o percurso e perdi uns 3 ou 4 minutos”, conta Fabiana, que estava a 800 metros da primeira explosão. Apesar da confusão depois do susto, a corredora seguiu adiante com os demais participantes, já que estavam próximos da linha de chegada. “Mas logo na sequência todos foram impossibilitados de completar a prova”, lembra a atleta, que percebeu a gravidade do acontecimento ao ver o desespero e as lágrimas dos competidores à sua frente.
Enquanto isso, a mãe de Fabiana acompanhava o trajeto da filha por meio do aplicativo oficial da prova, atualizado a cada 5 km percorridos. Passado o 40º km, as atualizações pararam de chegar. Fabiana conseguiu tranquilizar a mãe só depois de uma hora, quando chegou à casa de uma amiga que a acompanhava na prova.
Yeda Baciglieri também passou pelo desespero familiar: de última hora, sua mãe desistiu de esperá-la na linha de chegada e evitou uma tragédia. Logo após o atentado, a corredora seguiu para Nova York. “Os nova-iorquinos me paravam na rua quando viam minha jaqueta de Boston. Mesmo em San Francisco, no ano seguinte, também fui parada. A blusa era um sinal de que você esteve lá e sobreviveu.”
A #BostonStrong tomou conta dos Estados Unidos: era possível encontrar a hashtag em shows, esportes e em vários outros eventos. Um dos maiores personagens dessa reascensão foi Jeff Bauman, americano que perdeu as duas pernas por conta das bombas e se tornou famoso com a publicação de sua fotografia ao ser socorrido.
Bauman ainda foi peça-chave para identificar Tamerlan Tsarnaev, um dos irmãos responsáveis pela instalação das bombas. Ele disse ter olhado nos olhos do terrorista, o que o ajudou a fornecer uma descrição precisa aos policiais, que chegaram aos dois principais suspeitos: Tamerlan e seu irmão Dzhokhar. Em confronto com a polícia durante tentativa de fuga, Tamerlan foi morto a tiros; Dzhokhar foi preso e condenado à morte em 2015, mas apelou da decisão e segue sem pena definitiva.
Bauman foi homenageado pelas principais equipes esportivas da cidade: em um jogo da Stanley Cup, a série final da Liga Nacional de Hóquei, ele carregou uma bandeira com os dizeres Boston Strong pelo rinque. No Fenway Park, um dos estádios mais lendários do beisebol, fez o primeiro arremesso tradicional pelo Boston Red Sox, um ritual que marca a abertura das partidas principais e que normalmente é realizado por celebridades. Em 2016, utilizando suas próteses, Bauman completou a primeira corrida de sua vida.
Não foi a primeira nem a última vez que os norte-americanos usaram o esporte como válvula de escape para uma catástrofe. O 11 de Setembro foi sucedido por uma icônica performance da banda U2 no intervalo do Super Bowl. No ano passado, o Furacão Harvey deixou milhares de texanos desabrigados e J.J. Watt, jogador local de futebol americano, foi responsável por arrecadar mais de US$ 37 milhões em auxílio para os necessitados.
A história de Bauman, durante e depois da Maratona de Boston, foi transformada no livro Stronger pelo autor Brett Witter, adaptado em 2017 para o cinema e lançado, no Brasil, como O que Te Faz Mais Forte, com Jake Gyllenhaal no papel de Bauman. A obra se junta a O Dia do Atentado, filme de 2016 que narra a busca da polícia estadunidense aos terroristas responsáveis pelas explosões.
No ano seguinte, a Maratona de Boston emanava uma energia completamente diferente. Homenagens foram prestadas aos sobreviventes, e uma medalha simbólica foi entregue a quem foi impedido de completar a prova, como Fabiana Tito. Convidada para correr novamente os 42 km, ela sentiu logo de cara as diferenças na segurança: para ir até a largada, os participantes não podiam carregar muitos objetos e tinham suas sacolas revistadas.
Durante o trajeto, uma surpresa: “Muita gente se emocionou com a quantidade de pessoas que estavam nos apoiando nas ruas, inclusive eu”. Em 2015, dois anos depois das explosões, Yeda voltou para correr a maratona e também notou a segurança reforçada: “Não podíamos embarcar com mochila, o que complicou por causa do frio”. Segundo Yeda, até quem estava assistindo precisou ser revistado.
Neste ano, a Maratona de Boston chega à sua 122ª edição e segue como uma das seis mais importantes de todo o mundo. O trauma de 2013 jamais será esquecido, mas a vontade de correr essa prova histórica deixa a cidade ainda mais forte e pronta para seguir em frente.
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