O currículo de Fernanda Keller a transforma em uma personagem perfeita para as páginas da edição Corpo da revista O2. Por quase 30 anos, ela colocou seu corpo à prova em uma das competições mais difíceis do mundo. Foram 25 participações no Mundial de Ironman, no Havaí, terminando seis vezes entre as três primeiras e em 14 oportunidades entre as dez melhores.
Keller cresceu junto com a modalidade e a competição, hoje uma das marcas mais fortes do esporte mundial. A carioca viveu a transição do ineditismo e a paixão para o profissionalismo com que a maioria dos atletas encara os 42km de corrida, 180km de bicicleta e 3.8km de natação anualmente em Kona.
“Minha alma é de atleta. Meu espírito é de atleta. O corpo é consequência”, explica após algumas horas de fotos para o especial da revista. “A gente tem uma sensação de nostalgia que ninguém vai ter, aquele pioneirismo, o esporte por uma paixão. Era um negócio muito mais de sentimento. Hoje as pessoas fazem para postar”, diz.
Foi justamente a paixão que levou Fernanda Keller a 25 participações no Mundial de Ironman. Já tinha diminuído o ritmo dos treinos e prestes a completar três anos sem competir no Havaí quando se classificou pela última vez. Mesmo com a vaga garantida, não treinou como gostaria e passou a conviver com o temor de não conseguir acabar a competição.
Mas aos 53 anos, usou o que a experiência lhe deu de melhor, o conhecimento do próprio corpo, para fechar a competição depois de 12h21min40s de esforço no início de outubro passado. E sorrindo, diferentemente de muitos dos outros que cruzam a linha de chegada no Havaí. “A deusa Pele me ajudou e consegui terminar. E mais importante, estava muito contente com aquele façanha”, recorda.
O autoconhecimento, que Keller trabalha também com meditação, ainda a deixa confiante para dispensar ocasionalmente aparatos tecnológicos para se exercitar. Em um treino recente com o cantor Marcelo D2, esqueceu em casa o relógio, mas não precisou de auxílio para saber em que ritmo estava e o quanto podia acelerar ou diminuir, espantando o artista. “São muitos anos, tenho o relógio já na minha cabeça”, garante.
Todos esses anos entre a elite do triathlon transformaram a atleta carioca em inspiração para amadores e profissionais. Já eleita a mulher mais influente do esporte mundial pela revista Forbes, comanda o Instituto Fernanda Keller, projeto de inclusão social de jovens e crianças através do esporte.
Mas ela prefere inspirar as pessoas a praticar o triathlon pelo exemplo em vez do discurso imperativo, garante. “Eu simplesmente falo do meu esporte como pessoa apaixonada que sou. Quando eu falo no que eu faço, meu olho brilha”.
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