Por diferentes razões, a corrida cresceu no Brasil nos últimos anos. Hoje, já não se traça o perfil do corredor com a mesma facilidade de 15 anos atrás. Homens, mulheres, jovens, idosos, brancos, negros, altos, baixos, magrinhos, gordinhos… Todos fazem parte e são bem-vindos a integrar o time da corrida. A edição 177 da revista O2 apresentou diferentes histórias (veja a do corredor Rodrigo Bueno aqui) e mostrou como a corrida quebrou estereótipos. Esta é a quinta delas, do advogado Antônio Pinto.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que o Brasil possui 24 milhões de idosos. Avanços da medicina e da tecnologia nas últimas décadas elevaram a expectativa de vida — muita gente está ultrapassando facilmente os 70 anos. Trabalhando, viajando e, por que não, praticando esporte.
O advogado Antônio Pinto, de 80 anos, é o exemplo de uma velhice saudável. Muito antes de cogitar a ideia de ser um corredor, já tinha o esporte em suas veias. Pinto jogou futebol pelo Clube Atlético Ypiranga, equipe paulistana que, no século passado, disputava o Campeonato Paulista com Santos, Corinthians, São Paulo e Palmeiras. Uma lesão no joelho o afastou das peladas com os amigos há dois anos. Mas a corrida, hábito que entrou em sua vida há duas décadas, faz parte de sua rotina.
Contrariando as crenças de uma sociedade em que o idoso é visto como alguém frágil, como se estivesse fadado a uma vida sem graça até o fim de seus dias, o octogenário traça planos para correr uma meia-maratona na Itália ainda neste ano. Roma e Verona são as opções que ele vem estudando com Ademar, seu fiel parceiro em provas mundo afora.
Dono de um escritório de advocacia empresarial — que ele acompanha de perto de segunda a sexta-feira, porém com uma jornada de trabalho reduzida —, Pinto se prepara para o desafio que o aguarda na Itália na pista de 60 metros que construiu em sua casa, na zona sul de São Paulo, e no Parque Ibirapuera. Ele dá de ombros para uma frase que costuma ser repetida quando um idoso leva uma vida ativa: “Não está na hora de parar?”. “O idoso é tratado como uma pessoa inferior, o que não ocorre na Europa, por exemplo. O idoso tem que ser respeitado como um ser humano comum. No Brasil, somos colocados à parte da sociedade. Eu não gosto de me sentir diferente”, observa.
Definitivamente não chegou a hora de parar. De trabalhar, de correr, de curtir seus três netos nem de viver a vida como bem entender. “Pretendo correr por mais alguns anos. Mantendo corridas regularmente, consigo seguir um ritmo de vida normal e agradável. Não me deixo vencer pelo cansaço nem pela dificuldade.”
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