Papo de Corrida

Japinha quebra sina de roqueiros e vê corrida como fonte de bem-estar

A banda paulista CPM 22 estourou nacionalmente em meados da década passada com sucessos como “Regina Let’s Go”, “Não Sei Viver Sem Ter Você” e “Um Minuto para o Fim do Mundo”. Nos shows que o grupo faz pelo Brasil, quase tão frequentes quanto os pedidos pelos hits que fizeram a cabeça do público jovem nos anos 2000, são as ocasiões em que o baterista Ricardo Japinha é associado ao estereótipo do “roqueiro doidão”. “Como eu toco com bastante energia, os caras sempre acham que estou usando algum tipo de aditivo. Show sim, show não, se aproximam, tiram algo do bolso e perguntam: ‘Você é doidão, né? Quer isso aqui?’.”

As recusas são acompanhadas de uma breve descrição sobre um estilo de vida pouco comum no meio do rock. Japinha não bebe, não fuma, é ovolactovegetariano (de origem animal, ingere apenas ovo e leite) e gosta de correr. Os únicos “aditivos” que explicam sua vibração atrás dos tambores são a cafeína e os suplementos pré-treino. “Sem demagogia, todos sabem que esse estereótipo no meu meio é clássico. Faço questão de tentar quebrar essa imagem”, conta o músico de 43 anos.

A corrida entrou na vida do baterista ainda na adolescência, por meio de um professor de educação física que “parecia um carrasco”. Para que os alunos conseguissem a aprovação na disciplina, era preciso passar por um teste de Cooper, uma avaliação que verifica o nível de condicionamento físico, e correr durante 12 minutos. Além de um certo temor às vésperas do teste, o professor de estilo ditatorial conseguiu transmitir aos alunos o gosto pelo esporte.

 

 

Mais do que uma ferramenta para manter a forma e proporcionar bem-estar, os treinos de até 7 km em parques paulistanos (Jardim das Perdizes, onde conversou com a reportagem da O2, Ibirapuera e Aclimação são os favoritos do músico) ajudam nos shows. “Quando você toca um instrumento, precisa estar com o cérebro oxigenado para coordenar os movimentos, sentir a música. A bateria dita o ritmo da banda. Você não pode acelerar nem atrasar muito. Se você está equilibrado fisica e mentalmente, seus movimentos ficam mais soltos. E a corrida me ajuda a melhorar essa capacidade pulmonar e muscular. Me faz um bem danado.”

Sem preocupação com o relógio

“O tempo corre contra mim. Sempre foi assim e sempre vai ser.” O trecho do refrão de um dos grandes sucessos do CPM 22, “Um Minuto para o Fim do Mundo”, não se aplica à forma como Japinha encara a corrida. O baterista leva uma relação despreocupada, embora, vez ou outra, olhe para o relógio para checar seus tempos. “Não sou ‘noiado’ a ponto de não respeitar as minhas limitações. Não quero ficar com hiperventilação para chegar a um pace abaixo de 5 km/min. Se eu der uma ‘suadinha’ para fazer o meu dia melhor, estarei fazendo bem para o meu corpo e para a minha mente. Se der para melhorar e tiver tempo para treinar, vou me sentir melhor ainda.”

Em agosto, o baterista foi convidado pela O2 para disputar a Night Run nas dependências da USP, ponto tradicional entre corredores paulistanos, e completou o percurso de 5 km em 28 minutos. Ele atingiu seu auge nas competições há dez anos, quando correu 10 km abaixo de 50 minutos. Na mesma época, se misturou a um mar de gente na Avenida Paulista para participar da São Silvestre, a maior corrida amadora do País.

“Um gás a mais”

O “aditivo” que Japinha mais utiliza para correr é o mesmo que lhe deu fama: a música. “Música e corrida têm tudo a ver. A música, por ter ritmo e emoção, te impulsiona a acelerar. Dá um gás a mais. Sem música, parece que a potência diminui pela metade”, diz.

E o que Japinha escuta quando está correndo? O rock, claro, vem em primeiro lugar. Bandas como AC/DC, Van Halen, Offspring, Green Day, Motorhead e Metallica estão entre as preferidas para os treinos. O pré-requisito é ter batidas constantes e marcações fortes. “Gosto do rock com a característica de empolgar, com uma cadência que te põe para cima.”

Mas a música eletrônica e o reggae dividem espaço com o rock em seu serviço de streaming. New Order, Daft Punk, Pet Shop Boys e outros eletrônicos com voz também embalam os treinos. Quando chega o momento de correr na praia, nada cai tão bem quanto o reggae de Peter Tosh, UB40, Planta e Raiz e Tribo de Jah.

Pedro Lopes

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