Papo de Corrida

Kipchoge já pode ser apontado como o melhor maratonista da história?

Quem consegue parar Eliud Kipchoge? Este queniano de 33 anos, 1,66m e 56 kg construiu uma aura de corredor invencível nos últimos quatro anos e, após sua vitória na Maratona de Londres, em abril, passou a ser apontado por muitos como o melhor maratonista de todos os tempos, superando nomes como Haile Gebrselassie, Paul Tergat e Abebe Bikila.

Motivos para que o nome de Kipchoge seja exaltado não faltam. Se o assunto é major, seu retrospecto é quase impecável. Das nove grandes maratonas que disputou de 2013 até hoje, venceu oito e foi o segundo mais rápido em uma delas. O único homem a derrotá-lo nesse período foi Wilson Kipsang, na Maratona de Berlim de 2013. Tricampeão em Londres, bicampeão em Berlim e dono de um título em Chicago, Kipchoge agora concentra suas forças em quebrar o recorde mundial da distância em que é soberano – e há quem defenda a ideia de que é questão de tempo para que isso aconteça. Sua melhor marca pessoal é oito segundos inferior a do recordista mundial, o compatriota Dennis Kimetto, que registrou 2h02min57s na Maratona de Berlim de 2014.

Além do currículo vitorioso em majors, Kipchoge conquistou o ouro olímpico nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, e chocou o mundo ao quase correr 42 km abaixo de duas horas no Breaking2, experimento promovido pela Nike no autódromo de Monza, em 2017.

O Ativo consultou Lauter Nogueira, comentarista de atletismo do Grupo Globo, e Clodaldo do Carmo, ex-atleta olímpico e supervisor de atletismo no Esporte Clube Pinheiros, para saber se Kipchoge já pode ser considerado o melhor maratonista do mundo. Confira as análises:

 

Lauter: “Kipchoge domina a distância de uma forma brilhante”

“Eu acho que ele já pode ser considerado o melhor de todos os tempos, sim. Não seria muito difícil dar esse prêmio para ele. Ele faz parte de um grupo muito interessante de maratonistas. Até os anos 1990/2000, os maratonistas não tinham como seu forte as provas de pista. Quem rompeu com essa sina foi o Haile Gebrselassie, um multimedalhista olímpico que conseguiu recordes mundiais. Acharam que esse cara havia atingido o limite. E não foi bem assim.

Depois, surgiram outros atletas que acabaram quebrando os recordes do Gebrselassie. Veio o Kenenisa Bekele, nascido na mesma região do Gebrselassie. Era um atleta com o mesmo método de treinamento e que convivia com a expectativa de ser o futuro grande nome da maratona. Mas, em nenhum momento, ele se mostrou tão à vontade nos 42 km.

Kipchoge vence a Maratona de Londres de 2018

O Kipchoge é um caso à parte. Aos 18 anos, ele se tornou campeão mundial nos 5 mil metros no Mundial de Paris. Ali estavam os mais velozes do mundo. Ele venceu o Bekele, que estava no auge. Mostrou sua força na velocidade e continuou ganhando medalhas. No começo desta década, tentou fazer a transição para a maratona e teve uma contusão. Respeitou o próprio corpo e, lá na frente, colheu os frutos.

A transição que ele fez para o asfalto é a mais perfeita que já existiu até hoje. Das nove grandes maratonas, são oito vitórias. Ele domina a distância de uma forma brilhante. Se você analisa o Kipchoge, entende o que é essa carreira avassaladora. Ele tem o corpo perfeito para a distância e a cabeça preparada para enfrentar o que vier pela frente. É um atleta com uma vida espartana, a ponto de dizer que o maratonista não pode sentir conforto demais. Venceu uma Maratona de Berlim em 2015, numa demonstração clara de que consegue seguir em frente mesmo com percalços.

Ele já mostrou que está pronto para pulverizar esse recorde mundial. Eu só gostaria que ele tivesse cinco anos a menos.”

 

Clodoaldo do Carmo: “Recorde mundial é questão de tempo para Kipchoge”

“Eu acredito que já é o melhor de todos os tempos. Li há poucos dias uma entrevista do Patrick Sang, seu treinador, analisando a construção da carreira do Kipchoge. Ele cita todos os passos que percorreu, desde as provas mais rápidas até a maratona. E é incrível a consistência que o Kipchoge teve em muitos momentos de sua carreira.

Outros atletas falharam em grandes competições e não tiveram a mesma consistência do Kipchoge. Talvez o Haile pudesse ter sido essa pessoa, mas acho que ele migrou para o asfalto em uma idade muito avançada, além de ter sofrido com problemas físicos que não permitiram que isso acontecesse. Eu colocaria o Kipchoge e o Haile como os maiores, mas o queniano tem uma solidez maior.

Tudo aponta que o domínio dele vai ser mais duradouro. É uma questão de tempo para que ele atinja o recorde mundial. Se estiver na prova certa, com um clima adequado e coelhos que consigam distribuir a prova de uma forma adequada, ele vai quebrar essa marca. É o atleta mais gabaritado para isso.”

 

Pedro Lopes

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