Papo de Corrida

Maratona de Barcelona: um falso plano na luta pelo índice de Boston

A Maratona de Barcelona de 2018 faz parte de um projeto particular maior, que começou em 2015 quando fomos para Boston – o Marcel, que desde sempre foi ligado em performance, para correr; e eu, Paula, para assisti-lo. O clima da cidade, a animação das pessoas, o valor dado aos atletas… Tudo me contagiou e decidi que gostaria de voltar para lá, mas como atleta.

Com esse objetivo em mente, procuramos uma maratona no 1º semestre de 2018. De preferência, plana e fria, condições que facilitariam alcançarmos nossos objetivos de buscar classificação para Boston. Escolhemos Barcelona: cidade linda, muitos pontos turísticos, aparentemente plana (só aparentemente) e potencialmente fria.

Chegamos à cidade na quinta feira anterior à prova. Voo direto, transporte fácil do aeroporto ao centro, malas no quarto e um breve descanso. Estávamos prontos para um passeio na região da largada, já recheada de pontos turísticos, como A Fonte Mágica e o Castelo de Montjuic.

Resolvemos visitar a expo da prova na sexta-feira – nenhuma fila para a retirada de kits e alguns estandes oferecendo produtos esportivos. Um ponto divertido da feira era um espaço mostrando as dificuldades que poderíamos encontrar na prova e a estratégia para vencê-los.

Mas o ponto alto era uma pulseira personalizada oferecida pelo patrocinador da corrida, em que marcávamos nosso tempo objetivo e ele passava o pace e o tempo de passagem a cada 5 km. Muito útil. Já o sábado foi de muito descanso porque o domingo era o grande dia.

 

A Maratona de Barcelona

A logística para a prova é sensacional. A largada da Maratona de Barcelona é em um ponto central da cidade às 8h30. Com muitos hotéis próximos ao local, a maioria dos atletas pode fazer tudo com calma, dormir bem e ter um bom café da manhã.

Eu e o Marcel deixamos o hotel e fomos juntos ao guarda volumes. A prova tem dois pontos de vai-e-vem, onde provavelmente nos veríamos. Instruções dele para mim quando nos cruzarmos: “Nada de falar se estamos bem ou mal. Só um tchau e pronto, não vamos mexer com o psicológico do outro”.

Mochilas no guarda-volumes cada um se dirige ao seu curral de largada. Não precisa comprovar tempo, mas a entrada é monitorada por cor. Funciona perfeitamente.

8h30. Explode nas caixas de som Freddie Mercury e Montserrat Caballe cantando Barcelona. Papéis azuis e brancos voam e a corrida começa. Tem muita gente, mas desde o primeiro minuto é possível fazer seu ritmo. Ruas largas, torcida agitada, adultos, crianças… Todos querem um High five. Escuto “Vamos, Paula” “Ânimo, Paula” o tempo todo. Hidratação perfeita – primeiro posto com 5 km, depois a cada 2,5 km água e isotônico, além de três pontos distribuindo gel. Tudo perfeito.

Quase tudo. O percurso não era tão plano, como esperava. Subidas leves, muito leves, mas longas, muito longas. E aos poucos elas vão minando as pernas. Faço força para me manter no plano de correr a 4min55s/km. A torcida empurra gritando meu nome, os corredores ao meu lado fazem parede para me proteger do vento.

O primeiro vai e vem da Maratona de Barcelona é entre o 18º e 22º km. Estou subindo sem parar e vejo o Marcel já na descida. Quero dizer que está difícil. “Sobe pra caramba” pensei. Não falo nada, mas me emociono em saber que ele estava ali lutando como eu. Ele acena para mim. “Estava muito inteiro naquele ponto, tinha certeza que era meu dia. Passei a meia como planejei e bem”, ele me contou depois.

Concentro, penso no objetivo e sigo. No km 30 a coisa começa a pegar: o vento vem de frente e os corredores que faziam a parede se afastam um pouco. “Tem que ter cabeça”. Sou eu conversando comigo mesma, naquele momento em que preciso mostrar que sou mais forte.

“Boston já está na minha mão, tenho certeza. Estou bem, mas quero meu recorde” pensava Marcel nessa hora.

Os 12 km finais de luta são de olho no relógio. Passo no Arco do Triunfo, só faltam mais 5 km. Sprays de água para refrescar, pernas cansadas, objetivo no limite. A luta segue.

Reta final, vejo meus pais gritando meu nome, vários pórticos, um atrás do outro, só quero terminar. Finalmente chego: 3h31min35s depois da largada – índice de Boston na mão, será que entro?

Encontro o Marcel com um sorriso no rosto: “3h08min48s, estou em Boston. Não bati meu melhor tempo por 40 segundos mas nem ligo. Corri muito, deixei tudo que dava nestes 42 km e estou orgulhoso de você também”, disse.

Não sei se o índice será suficiente para entrar. Por via das dúvidas vou correr a Maratona de Floripa em 28 de agosto para tentar melhorar meu tempo. “Desta vez vou correr a prova toda ao seu lado” Marcel prometeu.

A luta segue com o retorno dos treinos, fortalecimento e dieta. Mas a Maratona de Barcelona foi inesquecível.

*Por Paula Bonança

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