Papo de Corrida

Menos ressaca, mais corrida: quando os treinos viram “arma” para fugir da noitada

Corpo e mente derrubados. Sensação de enjoo e arrependimento. Indisposição até para buscar água na geladeira. Claridade do dia causando um enorme incômodo aos olhos. Se você já deu alguns goles a mais na vida, certamente imagina do que estamos falando: ressaca.

Há quem venha trocando essa combinação descrita acima pelo bem-estar provocado pela corrida. Para uma parcela de jovens que se dividem entre passadas e o agito noturno, os treinos das manhãs de sábado nas assessorias esportivas tornaram-se um bom motivo para correr mais e beber menos.

Nascida e criada em Santa Bárbara D’Oeste, a 120 km de São Paulo, a advogada Thaís Naidelice, de 32 anos, passou parte de sua juventude mergulhando na farra. A “vida louca”, o excesso de bebida alcoólica e as comidas nada saudáveis que acompanham as noitadas cobraram um preço há oito anos.

“Inchada de bebida”, ela ficou assustada quando viu em um exame seu nível elevado de triglicérides. A recomendação do médico era para que a jovem passasse a tomar alguns medicamentos. Thaís preferiu seguir outro caminho. Passou a controlar sua alimentação, segurou a onda na bebedeira e pegou gosto pela corrida.

O que era apenas uma estratégia para amenizar os danos da etapa baladeira virou paixão. Thaís ganhou rodagem com provas menores, viu seu corpo mudar “da água para o vinho” e até finalizou uma maratona em 3h36min. Passada a fase dos quilinhos e dos goles a mais, brigar por tempos cada vez melhores entrou na lista de objetivos da advogada.

“Acordar sabendo que eu vou liberar endorfina é a melhor sensação do mundo. Você acaba saindo um pouco da vida louca da balada porque começa a perceber que o exercício físico faz muito bem em todos os sentidos. Meu corpo mudou da água para o vinho. Os treinos de corrida viraram um compromisso para mim. Como meu objetivo é sempre melhorar meu tempo, eu sei que, se eu sair na sexta à noite e exagerar na bebida, meu desempenho não vai ser o mesmo no sábado”, completa.

 

 

O compromisso com a corrida a tira da cama quando o sol está nascendo aos sábados para correr às 7h na USP, na zona oeste paulistana, onde a assessoria esportiva MPR reúne uma parte de seus atletas. O empenho nos treinamentos não significa que ela tenha abandonado completamente sua vida social e nem invada a madrugada em bares e festas vez ou outra.

A advogada busca equilibrar as saídas noturnas com as passadas matutinas, geralmente deixando o sábado à noite para beber e curtir com os amigos. Saindo menos, descobriu que preserva não só o corpo, mas também o bolso, já que evita gastos excessivos com a noite.

“Se eu vivesse só para a corrida, seria uma chatice. Eu vejo algumas pessoas abdicando do que gostam. Eu busco a felicidade por meio do equilíbrio. Gosto de sair, tomar uns drinques no bar. Assim como a corrida, isso vai me preencher, me deixar feliz. E vai me dar mais vontade de treinar e queimar o que eu consumi”, completa.

Um estudo norueguês acompanhou adolescentes de 13 a 19 anos de idade para avaliar a influência do consumo de álcool na prática de esportes entre os jovens. A pesquisa de Tove e Lars Wichstrom indicou que 50,7% dos jovens consultados praticavam atividades físicas. O grupo que não tinha assiduidade no esporte apresentava ligação mais estreita com a bebida e um histórico maior de episódios de embriaguez.

Bebida: inimiga do desempenho
A queda de rendimento na corrida pode ser explicada pelas consequências que o exagero no número de garrafas de cerveja ou nas doses de caipirinha têm sobre o corpo. Horas depois de uma noitada regada a álcool, há a diminuição da força, da velocidade, da capacidade respiratório e muscular.

Morando em Belo Horizonte desde o início do ano, o engenheiro paulistano Marcelo Gazola, de 27 anos, filiou-se à assessoria Run & Fun na capital mineira e não levou muito tempo para notar que, sem álcool no corpo, voava baixo nas manhãs de sábado.

“Quando você começa a evoluir, percebe que a diferença é gritante quando bebe no dia anterior a um treino. Você vê o pessoal fazendo bons tempos e fica p*** por estar morto. Se o corredor tiver a educação de tirar o pé na sexta-feira, tem o sábado livre para tomar sua cerveja. Não precisa cortar 100% do consumo de álcool. O que não pode é chutar o balde sempre”, diz.

Pedro Lopes

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