Marcos Paulo Reis, Adriano Bastos e Rodrigo Lobo. Estes nomes são conhecidos por quase todos os corredores do Brasil. E por alguns motivos. À eficiência no treinamento de centenas de atletas amadores, eles aliaram características empreendedoras para criar algumas das mais famosas assessorias esportivas do País.
Abordagem individualizada, estímulo à convivência entre os alunos e muitos anos de bagagem são apenas alguns dos segredos destes três treinadores, que têm seus nomes estampados nos uniformes de atletas nas principais provas do Brasil.
Marcos Paulo Reis, 55 anos, apaixonou-se pelo esporte ainda garoto, na sua Niterói (RJ). Velejava, corria, nadava e sonhava ser repórter de campo de futebol. Acabou cursando educação física na Uerj e aos 17 anos já trabalhava como auxiliar técnico de natação dos mirins do clube Canto do Rio, em Niterói. Em 1989, arriscou uma mudança para São Paulo, para ficar próximo da futura primeira esposa.
Começou vida nova em um quarto de pensão perto da Avenida 23 de Maio. Ralou dando aulas de natação da manhã até a noite, até ser contratado por Ricardo Santos para uma tradicional academia paulistana, o Projeto Acqua. Ali Marcos virou treinador e passou a atender os melhores triatletas de São Paulo.
Os ótimos resultados o tornaram técnico da seleção brasileira da modalidade em Mundiais e nas Olimpíadas de Sydney (2000) e Atenas (2004).
Visionário e empreendedor nato, Marcos montou um planejamento de corrida e triathlon para alguns alunos do Acqua – o que seria o embrião de sua futura assessoria, a MPR.
“Eu escrevia os treinos em papel de pão. Aí eu casei pela segunda vez e decidi que tinha de fazer dinheiro com esses treinos. Comecei a mandar planilhas toda sexta-feira e a cobrar; e comandava treinos práticos no Ibirapuera.”
A partir de 1993, o negócio dos treinos individualizados começou a prosperar, mas o surgimento do Pão de Açúcar Clube, de corrida de rua, alterou um pouco os seus planos.
“Eles mudaram o mercado do treinamento. Me ensinaram o DNA do esporte em larga escala. O João Paulo Diniz queria que o clube crescesse. Me chamou para tocar, como treinador e também coordenador. Quando me convidaram, comecei a trabalhar com cerca de 500 corredores amadores, e no final aumentei esse público, que englobava várias cidades, para 3 mil. Aprendi como colocar o esporte dentro das empresas. Deu muito certo.”
No final da década de 1990, Marcos Paulo deixou o Pão de Açúcar e focou sua própria assessoria, a MPR, que se tornaria referência no Brasil, atendendo a todo tipo de aluno, da turma extremamente competitiva aos que desejam apenas cuidar da saúde.
Os treinadores da MPR conhecem o nível de cada um dos alunos e alteram a periodização – dentro do ciclo de treinamento predeterminado para cada aluno – à medida que eles evoluem. Também há um planejamento para cada cliente desde o começo do ano.
A empresa é expert no diagnóstico de seus alunos. Alessandro Hayashi, 45 anos, só aprendeu a correr de forma inteligente quando entrou para a MPR.
“Eu corria sem orientação e logo de cara eles perceberam que eu forçava demais. Mudaram todo o meu treino, era como se eu tivesse uma aula nova todo dia. Aprendi a diminuir o ritmo e respeitar minhas limitações, e eles ainda me recomendaram o trabalho de musculação. Senti uma verdadeira mudança de chave em minha condição de corredor.”
O feedback constante é vital para a evolução dos alunos. “A gente não tenta passar o treino mais forte ou o melhor, tentamos indicar o mais correto para cada aluno, dentro das capacidades dele. A partir disso transformamos o aluno, após um longo processo, em um bom corredor, triatleta ou corredor de montanha. Aqui não há espaço para paraquedistas, aqueles que procuram uma assessoria para virarem bons corredores ou fazerem uma maratona após um curto prazo de treinamento”, explica Marcos Paulo.
Além do treinamento presencial – nos parques Ibirapuera e do Povo, e na USP –, a MPR possui uma intensa ligação virtual com seus alunos. Eles conectam o Garmin depois do treino e fazem o upload direto para o aplicativo da MPR, para os treinadores analisarem.
O alto desempenho é marca registrada da assessoria. Muito dessa fama veio pela experiência anterior de Marcos Paulo como treinador dos melhores triatletas do País e por transformar alguns bons corredores amadores em “superamadores”.
Um exemplo foi a turma retratada no livro Operação Portuga, que conseguiu superar a marca (2h43min) do então melhor
maratonista da MPR, o Portuga (Amilcar Lopes).
Hoje, uma parcela considerável dos alunos da assessoria consegue atingir um tempo de sub-3h nas maratonas.
Marcos Paulo é famoso por pegar no pé de seus alunos nos treinos presenciais. A aluna de longa data Graciema Bertoletti, de 46 anos, assina embaixo: “Ele conhece muito a gente, sabe quem precisa de um tapinha nas costas, de uma meta mais agressiva ou conservadora”.
Além de trabalhar pelos objetivos de seus clientes, a MPR estimula o relacionamento entre eles. “O café da manhã depois dos treinos faz a gente conhecer as pessoas sem aquele interesse meio mecânico que ocorre em muitos trabalhos”, revela Fernando Sampaio, 59 anos. Além de formar corredores amadores e mudar vidas por meio do esporte, a assessoria se preocupa em construir amizades.
*Mais informações em www.mpr.fit
A trajetória do paulistano Adriano Bastos, 41 anos, é a do grande atleta que também se torna um grande treinador. Desde 2007 ele dirige a assessoria esportiva que leva seu nome.
A empresa atende todo tipo de público: os que buscam saúde e qualidade de vida; a galera que não é de performance, mas gosta de se desafiar e evoluir; e a turma que busca um desempenho forte. Ex-triatleta, Adriano migrou para as corridas nos anos 90 e se tornou maratonista.
Venceu oito vezes a Maratona da Disney e várias provas nacionais, como o tetracampeonato na Maratona de Floripa (SC).
Sua visão para pensar no futuro fez Adriano investir no curso de educação física (FMU). Assim ele ganhou bagagem teórica para trabalhar no sonho que tinha desde os tempos de triathlon:
“Treinei com o Marcos Paulo. Ver de perto o ambiente da MPR despertou a minha vontade de ser treinador e de ter uma assessoria também”.
Quem elabora a planilha de cada um dos cerca de 350 alunos é o próprio Adriano. É ele quem também dá o feedback, via WhatsApp, para adequar e alterar as planilhas de cada um.
“Ficou doente ou fez uma prova, melhorou seu tempo e precisa de um novo direcionamento de zonas de ritmo, eu estou sempre de olho. As planilhas são atualizadas de acordo com o que está acontecendo com o aluno, conforme os objetivos dele”, diz Adriano.
“No primeiro contato com o Adriano, ele me perguntou quantas vezes eu treinava, o que fazia, como era minha alimentação e quais eram os meus objetivos. Logo ele descobriu em que nível de corrida eu estava e então reprogramou todos os meus treinos. Em alguns meses com ele e sua equipe melhorei bastante meu tempo na maratona, fiz 3h15min em Curitiba no ano passado”, conta Diego Souza, de 28 anos.
Fernanda da Silva, 27 anos, começou a correr sem orientação para perder peso, sonhando em ser maratonista. Estreou em Paris, em 2017, marcando 3h47min e sofreu tantas dores que jurou nunca mais fazer isso. Ao descobrir a assessoria de Adriano, “entendi o que é planejamento, volume e ritmo; e até a minha pisada e postura eles corrigiram”.
“Temos essa referência, de que quem corre com o Adriano, corre lá na frente. Até brincam, quando estamos nas provas, que vamos ver os rosinhas (a camisa da assessoria) lá na frente”, afirma Adriano Bastos.
Como foi maratonista profissional por 17 anos, Adriano transmite aos seus alunos essa bagagem de atleta, adequada à realidade deles. Um exemplo é o planejamento para uma maratona: a quantidade e tipo de tiros nos treinos, a evolução gradativa do longão de fim de semana etc.
Segundo Adriano, 90% dos seus alunos fazem o treino por tempo, não por distância. Dessa forma, fazem o mesmo treino quem está começando a correr e o pessoal de alta performance (em alguns dias).
“Isso é bacana porque integra os alunos. Em um treino de tiros de 1min40, com intervalos de descanso, o aluno avançado vai percorrer uma distância maior, mas estará fazendo o treino junto do iniciante.”
O treinador acredita que o sistema que adota favorece o clima de apoio, sem competição, entre seus alunos. “Nossos alunos se ajudam, se apoiam. Interagem.”
Além desse treino integrado, os corredores de desempenho também trabalham tiros e fazem o longão por distância, pois já dominam o ritmo, o que é difícil para os corredores com menos bagagem.
Graças a patrocínios e às muitas parcerias, a assessoria oferece descontos para seus alunos em tênis e outros artigos esportivos, relógios, frequencímetros, GPS e até em massagens.
Mais que interação, o pessoal que treina com Adriano mostra uma camaradagem verdadeira, percebida facilmente nas manhãs de sábado na USP (outros pontos de treino rolam no Ibirapuera, no Parque do Povo e no Museu do Ipiranga).
Na tenda da assessoria, corredores de vários níveis conversam com o tom carinhoso e bem-humorado de amigos próximos. Alguns descansam, outros alongam ou batem um saboroso e completo café da manhã, bem diferente da básica combinação de água, isotônico e bananas da maioria das outras assessorias.
A aluna Fernanda da Silva conversa com todo mundo, e até serve especiarias do rico desjejum a este jornalista da 02. Tem até mexerica já descascada, pedacinhos de coco, bolo de fubá e uma cocada levinha feita pelo irmão do Adriano.
*Mais informações no site adrianobastos.com.br
A história de Rodrigo Lobo, dono da mais procurada assessoria da região do ABC paulista, é comum a muitas crianças e adolescentes brasileiros. Estimulado pelos pais, jogava futebol, futsal e nadava, mas dos 8 aos 11 anos tornou-se uma criança muito sedentária.
“Era muito videogame, comia muita porcaria, comecei a ganhar peso e a sofrer bullying na escola. Era o ‘gordinho’. Aí decidi virar o jogo”, revela Rodrigo.
A chave da virada começou na piscina. Sua mãe descobriu uma academia, a saudosa Podium, que tinha um grupo grande de adolescentes. E onde o treinador Marcelo Ramos, o “China”, estimulava a molecada a disputar provas em piscinas e em águas abertas.
Na mesma acadêmia, no final dos anos 90, um grupo de corredores, treinado pelo professor Agnaldo, instigou os garotos da natação a irem para a rua. Rodrigo viu que levava jeito e estreou numa prova de 6 km fazendo em 24 min.
Aos 17 anos, Lobo entrou na faculdade de educação física da USP com o objetivo de ajudar as pessoas a mudarem de vida com o esporte. Além da teoria, ele aumentou sua experiência competitiva ao se apaixonar pelo triathlon.
Um de seus melhores resultados veio no Ironman de Floripa, em 2014: completou a disputa em menos de 9 horas, sendo o oitavo melhor amador da prova. Alguns anos antes, em 2009, inaugurara sua assessoria informal em São Bernardo. Hoje a empresa dá treinos também em São Caetano e Santo André.
“Os treinos passados pela equipe do Lobo são específicos naquilo que realmente desejamos, seja um 5 km veloz, uma maratona ou uma corrida de montanha. É tudo planilhado e recebido por aplicativo”, conta o aluno Sandro Martines, 39, empresário da metalurgia.
Outras ferramentas da assessoria são um canal no YouTube e a videoconferência semanal para os alunos, com temas técnicos e esclarecimento de dúvidas.
Lobo costuma estar junto dos alunos em algumas competições de corrida e triathlon, para viver a energia deles.
“Eu treino na Lobo pois considero o ambiente bem familiar. Aqui somos realmente um time, vibramos com todas as conquistas, seja a melhora de um pace de 8min para 7min50/km até quem consegue índices para Boston”, afirma Sandro Martines.
O triatleta Ricardo Farina, 47 anos, destaca que “aqui está sempre um ajudando o outro. De repente hoje é meu treino regenerativo e eu acompanho a pessoa que é um pouco mais lenta. Ela percebe que não existe essa divisão entre os mais fortes e mais fracos”.
“Não fazemos nada diferente, fazemos o que funciona, entre intervalados, fartleks e treinos longos. Não tem segredo. E temos um grupo de treinadores que cuidam de atletas mais exigentes, que se preocupam mais com o rendimento.”
O tipo de aluno que motivou Lobo a criar a assessoria é aquele que precisa cuidar melhor da saúde para ganhar uma nova perspectiva de vida.
“Quando eu procurei a assessoria, estava com 102 kg, tinha ido parar no hospital com a pressão em 27 por 11. “Eles entenderam a minha situação e necessidade, e foram me orientando. Eu queria aprender a nadar. Aí fui evoluindo, já consegui fazer quatro maratonas, quatro provas de Ironman 70.3 e estrearei este ano no Ironman”, contou Ricardo Farina. *
*Mais informações no site loboassessoria.com.br
A boa assessoria de corrida e triathlon mostra seu profissionalismo logo no primeiro contato. “Na entrevista inicial, enquanto em outra assessoria eles não perguntaram nada de minha experiência na corrida e já foram falando os valores dos planos, na MPR eles quiseram saber a minha história e objetivos, ou seja, queriam me conhecer mesmo”, diz o gerente de TI André Paulo Ceron, de 44 anos.
Quem deseja evoluir na corrida ou começar no esporte precisa procurar uma assessoria com o seu perfil: “Tem assessorias mais competitivas e outras mais familiares. A partir dessa escolha, você precisa se informar se a assessoria tem profissionais capacitados”, afirma Rodrigo Lobo.
“Não basta receber uma planilha, você precisa também estar nas mãos de bons profissionais”, afirma Adriano Bastos.
“Tem muitas assessorias amadoras que acabam fazendo um trabalho informal. Não se preocupam com o indivíduo, só com o treino. Não há uma sintonia entre o treinador e o atleta. E muitas delas não são regulamentadas, não têm empresa aberta. Cobram barato, a galera vai pelo preço e isso pode ser muito perigoso para a saúde”, alerta Rodrigo Lobo.
Segundo Adriano Bastos, descobrir o conceito da assessoria no mercado é fundamental: se tem representatividade e se as pessoas que treinam lá estão satisfeitas. Ele acredita que uma assessoria minúscula provavelmente não dará um bom suporte ao aluno, como oferecer pontos de treinamento espalhados pela cidade e apoio durante as provas.
Marcos Paulo alerta para os riscos dos treinos exclusivamente via internet. “Não podemos fugir das redes, mas tem de ter conteúdo e credibilidade. Você pode ler sobre a experiência de um corredor blogueiro, mas tem que checar se é especialista na área, se tem diploma. Não podemos seguir recomendações de pessoas que não são treinadores, nutricionistas e médicos e estão dando dicas.”
Outro risco, segundo Marcos, é superestimar os influenciadores digitais. “Temos que valorizar quem vence o sobrepeso e doenças, e consegue correr maratonas, pela lição de vida. Esses caras que se superam são importantes para quem está começando. Mas precisamos tomar cuidado porque eles conquistaram algumas coisas ralando muito. Tiveram horas de treino. Tiveram treinadores. Em vez de copiá-los, sem saber como eles se desenvolveram durante o caminho de cada um, precisamos estar embasados em conhecimentos de fisiologia e de detalhes técnicos da corrida, e isso só um treinador pode dar.”
Os aplicativos de corrida e saúde são outra preocupação para Marcos Paulo. “Os aplicativos são genéricos, conversam com a massa. Diferente do treino individualizado, que é a marca das assessorias, esses apps nunca vão entender o detalhe de cada um, o erro do treino, o que precisa melhorar.”
Adriano reforça o perigo dos aplicativos. “Muitas pessoas não têm noção de que o treino sugerido pode estar acima da sua capacidade. Em nutrição, o problema é o mesmo, como seguir um app que recomenda uma dieta fora do que é necessário em uma demanda calórica exigida pelo treinamento. Você faz um treino de intensidade, vai lá e segue a dieta sem as substâncias de que precisa. Pode acontecer também, em treinos de resistência, de você entrar em uma dieta em que faltarão os carboidratos necessários. O resultado é que você não renderá nos treinos e ficará muito cansado.”
“No treinamento genérico, você segue algo que não está direcionado para a sua rotina e nível de condicionamento. Se o foco de um aluno é a Maratona de Chicago, levo em consideração também as provas menores, de 5 km, 10 km e 21 km. O treino padronizado dos apps não considera a preparação gradual. Às vezes o cara treina seguindo a planilha padrão, sem dar tempo para o corpo se recuperar para correr a prova do fim de semana”, explica Adriano. “Na assessoria, o treinador alivia nos treinos da semana de prova.”
Por Zé Augusto de Aguiar
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