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Por Sabrina Schirmer
Sempre gostei de atividades ao ar livre. Essa paixão me levou a praticar por muitos anos corridas de aventura em equipe em que corria, remava, pedalava e fazia técnicas verticais. Em 2012, na busca de maiores desafios, participei da primeira prova solo de corrida de montanha: 160 km na Argentina, desfrutando do visual da Cordilheira dos Andes. Foi incrível!
De lá para cá, a vontade de correr nas montanhas só aumentou. Atualmente existe um circuito mundial de ultramaratonas, realizado em vários continentes. Os atletas profissionais fazem várias dessas provas ao ano. Eu, pagando do próprio bolso, tenho uma meta mais humilde para fazer todo o circuito: uma prova grande por ano, durante 10 anos.
Infelizmente, para chegar lá, não basta querer. Você precisa ter uma pontuação conquistada em outras provas de “calibre”. Provas, estas, que seguem padrões internacionais regidos pelo ITRA (International Trail Running) e que ainda exigem sorte, já que em algumas ultramaratonas importantes, o número de vagas disponíveis é menor do que o de inscritos.
Contudo a minha vez chegou! Inscrita e sorteada, parti para a Itália para correr a North Face Lavaredo Ultra Trail, que acontece em Cortina d’Ampezzo. Era a oportunidade de conhecer as Dolomitas, cadeia montanhosa italiana, da melhor maneira possível: correndo! E, de quebra, depois da prova ainda passear pela Europa. A quilometragem do desafio era perfeita: 120 km sem parar, subindo e descendo montanhas em um total de 5.800 metros de altimetria.
Chegamos à Itália alguns dias antes da largada e eu estava muito animada. Tinha treinado muito em Porto Alegre e a ideia de participar de uma etapa do Ultra Trail World Tour, ao lado de atletas profissionais que vemos na mídia, era incrível.
Meu marido e eu visitamos vários lugares legais da região por onde passaria o percurso da prova: Lago Misurina, Passo Giau, The Tofane, Cinque Torre, Ter Cime. As Dolomitas são montanhas de uma beleza natural fora de série.
Dois dias antes da prova, retirei o kit do atleta: uma camiseta da North Face, uma bandana e o numeral. Fiz uma checagem de equipamentos obrigatória. Visitei a feira da prova para fazer umas comprinhas de equipamentos e deixei tudo pronto.
No dia da largada, estava lá às 23 horas. Comigo, estavam mais 1.500 atletas preparados para encarar o desafio. Larguei em ritmo moderado. Sabia que não poderia ir devagar demais, pois tinha a preocupação com os horários de corte (nessas provas, você tem um tempo-limite para chegar em cada lugar).
Aproximadamente no km 4,5 começamos a subir. Quanto mais subíamos, mais avistávamos ao longe a cidade de Cortina d’ Ampezzo, toda iluminada ao fundo. Era linda! Ao chegar no primeiro cume, senti que estava bem; entrei no ritmo da prova. As corridas de montanha são demarcadas e, ao longo do caminho, você visualiza fitas reflexivas e basta ir em frente.
Durante o percurso, passamos por postos de checagem e controle. Ali, encontramos staffs extremamente atenciosos e animados – tínhamos comida e bebida sempre disponíveis. Já tive experiências ruins com alimentos nas provas, então, sempre opto por carregar o que vou comer. Carregamos uma mochila com itens obrigatórios, como roupas (na montanha, o clima é imprevisível) e uma pequena farmácia em caso de necessidade.
As horas foram passando e, a cada cume da montanha, um visual compensador. Impossível descrever se o mais lindo era o nascer ou o pôr do sol; um festival de cores. Alguns atletas param para tirar fotos, mas eu não. Nessas provas, fico muito focada no meu objetivo. De qualquer forma, nenhuma foto seria capaz de registrar a visão que tive, com a mesma magnitude.
Onde não se consegue correr, sobrevive quem realiza um trekking forte com auxílio dos bastões. Precisei de duas paradas de 5 minutos para me molhar em um riacho com água de degelo que descia da montanha. Fazia muito calor nesse verão europeu, e a temperatura estava mais elevada do que o normal.
Próximo ao quilômetro 93, percebi que estava com problemas. Sentia muitas dores no tornozelo direito e um edema, que me acompanhava há muitas horas, indicava uma provável inflamação nos tendões do tibial. Restavam-me 27 km e, então, se iniciou o desafio mental. Estava na hora de colocar em prática o que de fato me atrai nas ultramaratonas: a mente controla o corpo.
E, assim, fui caminhando e trotando conforme o possível. Ao longe, comecei a ver a cidade iluminada e pensei no esforço dos treinos, nas madrugadas em que acordei às 4h30, nas horas longe da família e simplesmente fiz o meu melhor.
Parece que a energia voltou ao chegar na cidade e encontrar meu marido. Como toda prova na Europa, as pessoas te incentivam nas ruas e batem palmas. Enfim, venci meu desafio 24 horas depois da largada. Cheguei cansada, mas de corpo e alma lavados. No fim da prova, falei que não correria mais. Mas, como todo bom corredor de longas distâncias, mudei de ideia depois de uma noite de sono. Que venha a próxima ultramaratona!
Data: 23 e 24 de junho
N°de corredores: 1.500
Cidade: Cortina d’Ampezzo
País: Itália
Clima: 10°C a 20°C FRIO
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