Como o rapper Rashid descobriu na corrida uma fonte de inspiração

Atualizado em 29 de setembro de 2017
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Michel Dias da Costa tem 29 anos e mora na zona norte de São Paulo. Passou a adolescência em Minas Gerais e voltou para São Paulo, onde vive até hoje. Mas pouca gente conhece Michel por Michel. Para a maioria, ele é Rashid ou MC Rashid, rapper que conquistou as ruas e os palcos e leva sua rima pelos quatro cantos do Brasil. Mas Michel é um rapper diferente, pelo menos diferente dos esteriótipos que rolam por aí: não bebe, não fuma e não usa drogas. E gosta de correr.

Mas, se o presente é de sucesso, o passado teve seus “perrengues”. “Éramos só minha mãe e eu. Mudamos bastante, e nossa situação financeira foi piorando. Lembro-me de que, quando moramos em Minas, precisávamos cozinhar com lenha, pois não tínhamos dinheiro para comprar gás. Vivemos por um tempo com doações, mas eu não reclamo de nada não, vivi muito bem, aprendi muito sobre o valor da vivência e só tenho gratidão por esse período, que foi quando todo o sonho com a música começou”, relembra ele.

Aos 12 anos, Rashid já escrevia as suas próprias letras e, como vários garotos criados na periferia, sonhava em um dia subir ao palco. Ainda na adolescência, integrou dois grupos formados por amigos. Aos 16 anos, já participava de batalhas de freestyle com rimas improvisadas. Nos anos seguintes, ganhou destaque na Batalha da Santa Cruz e na Rinha de MCs – as mais conceituadas e reconhecidas batalhas de rimas de improviso de São Paulo. A partir daí, MC Rashid voou.

Rashid aprendeu desde cedo que viver é lutar pelos seus sonhos e que cada um escolhe como lutar. “Um dos ensinamentos samurais é viver pela espada, morrer pela espada. Minha espada é minha lírica, minha música, minha arte”. O samurai do rap tem na música as suas armas – e na corrida encontrou uma forma de fortalecer o corpo e a alma para a vida. “Acredito que a música e a corrida estão ligadas: a corrida faz bem para a minha música e o esporte faz bem pra minha vida”, continua Rashid.

CORREDOR APAIXONADO

Antes de decidir treinar corrida, Rashid só jogava futebol. Quando foi desafiado a correr uma prova, ficou em choque. “Como é correr uma prova? Vou ter que disputar e tudo? Mas não, nada disso, entendi que correr é muito mais sobre se movimentar do que realmente bater qualquer tipo de marca e ganhar troféu; é para você. Ensina a superação. Tentar ser melhor todos os dias. Eu vejo assim.”

 

 

Depois da prova, decidiu encarar os treinos e percebeu quanto aquilo era compensador. “Não tinha parado pra pensar – o que na real é uma pena porque poderia estar correndo há mais tempo -, em como correr é simples, é só sair pra rua”, falou o rapper-atleta, que descobriu com a dedicação às passadas que a explosão era o seu forte. “Correndo eu me sinto forte. Rasgando as avenidas, vendo os carros parados no farol e eu passando por eles a pé, correndo 5 km, 10 km. Uma sensação de não precisar de nada além de mim mesmo. Parece uma metáfora, mas na verdade é bem literal.”

Com o tempo, percebeu como a corrida era, além de um momento para olhar para dentro de si, uma válvula de escape para os problemas do dia a dia. “Têm aqueles dias cheios de trampo, música pra terminar, clipe pra terminar, cachê que não caiu… Nesses dias, eu quero ‘esmirilhar’ na pista, sair a milhão igual louco, ouvindo um Rap, resolvendo tudo na corrida.”

Inclusive, as corridas viraram quase uma terapia para ele. “Tô nervoso, calço o tênis e vou espairecer a cabeça correndo. E muitas vezes faço música depois. O rap é assim: tudo pode virar uma rima. Qualquer situação – mesmo – pode virar uma rima. A vida é uma música o tempo todo”, finaliza. “Cê já teve um sonho?”. Ele tinha. E correu atrás dele.

NO CORRE COM RASHID

O rapper selecionou suas músicas preferidas para correr: