Em abril de 2014, a Brooks Running, empresa norte-americana de material esportivo, fez uma enquete com mil clientes (homens e mulheres) para questionar se o sexo afetava o rendimento na corrida. Para 48% das pessoas abaixo dos 40 anos que participaram da pesquisa, transar antes de uma corrida melhorava o desempenho. A sondagem, no entanto, estava ligada apenas à percepção dos corredores e não tinha embasamento científico. Mitos e crenças à parte, o sexo antes da corrida ajuda ou atrapalha?
O mito de que o sexo interfere negativamente na prática esportiva é antigo. Em uma época em que o esporte profissional ainda não havia sido transformado por elementos científicos e tecnológicos, o imaginário popular sugeria que, se um atleta fizesse sexo, diminuiria o nível de testosterona em seu corpo, gastaria muitas calorias e ficaria extremamente relaxado. A testosterona elevada seria responsável por provocar mais agressividade, melhorando o desempenho do atleta. Entre os anos 1960 e 1970, Muhammad Ali entrava em jejum sexual semanas antes de suas lutas.
Diferentemente do que se pregava no passado, a ciência atesta que transar horas antes de uma prova não gera a queda dos níveis de testosterona e nem traz um desgaste físico significativo. De acordo com Gustavo Barquilha, preparador físico da Integral Médica e mestre em ciências do movimento humano, 60 minutos de sexo queimam em média 250 calorias. Esse número pode subir com a intensidade do ato, o que também traria um desgaste maior.
É a intensidade de algumas relações que tira o sono de atletas – e de quem zela pelo rendimento desses esportistas. Na Copa do Mundo de 2014, Luiz Felipe Scolari, então técnico da seleção brasileira, liberou o sexo antes dos jogos, desde que “fosse feito de forma equilibrada, sem malabarismos”.
“Não há nenhuma interferência do ponto de vista de gasto energético e desgaste físico. Um ato sexual que consuma 100 calorias equivale a um aquecimento. Alguns estudos comprovam que há uma influência positiva na disposição física. O indivíduo fica mais disposto e com mais concentração. Existem alguns indícios de benefício do sexo na atividade esportiva. O ato sexual não altera o nível de testosterona. O que pode existir é uma alteração de química cerebral”, afirma o fisiologista Turíbio Leite de Barros, que trabalhou durante 25 anos no São Paulo Futebol Clube.
Barquilha diz que há um relaxamento natural depois do ato sexual, com liberação de opioides e serotonina. O período pode variar entre aproximadamente 30 minutos para um jovem e pouco mais de uma hora para uma pessoa mais velha. Mas, caso haja um intervalo razoável entre o sexo e o exercício físico, não existe nenhuma interferência negativa.
O sexo antes da corrida só atrapalha quando existem outros componentes em jogo. “O desgaste acontece quando o ato sexual está associado a ingestão de bebida alcoólica ou uma noite sem dormir”, frisa Turíbio.
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