Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
O que faz um bom atleta tornar-se campeão? Acompanhamento de qualidade, genética e formação adequada, decerto, são as respostas mais óbvias. Mas há, ainda, outro fator tão importante quanto qualquer um dos citados (ou, talvez, mais): o controle sobre a mente. Mesmo com a técnica e o físico em dia, a pressão de representar o país em um evento grandioso como os Jogos Olímpicos, por exemplo, pode derrubar o mais forte, veloz ou habilidoso dos campeões.
O topo do pódio é um lugar habitado por aqueles que têm condições físicas, técnicas e mentais superiores. Portanto, não é difícil entender que o primeiro passo para formar campeões é dado na juventude, trabalhando, além da técnica, o psicológico dos atletas nas categorias menores. Por isso, há a necessidade de que os pequenos esportistas tenham acompanhamento de um especialista na área psicológica para aprenderem a lidar com emoções diversas em momentos cruciais.
“A mente é mais importante que as pernas. Você pode preparar o seu físico durante meses para uma prova, o que inclui planilha de treino, fisioterapeuta, educador físico, massagens, nutricionista e por aí vai. Porém, se você não estiver psicologicamente preparado, já perdeu a prova para o seu mental, mesmo que seu físico esteja 100%”, fala Maíra Nader, pós-graduada em psicologia do esporte e atleta amadora de corrida de montanha.
Mente de aço
O trabalho do psicólogo é feito a partir de uma análise que visa a transformação de determinantes psíquicos que interferem no rendimento do atleta. Mas é difícil mensurar e criar uma fórmula para treinar a mente, pois é tudo muito abstrato. O psicológico lida com emoções, traumas, passado, expectativas. Cada um de nós desenvolve, ao longo da vida, habilidades únicas para lidar com mudanças em situações competitivas, vitórias e derrotas, além de termos formas diferentes de nos adaptar a situações adversas e de lidar com eventos positivos e negativos.
“Um bom atleta deve saber lidar com as frustrações, ter capacidade de resiliência, habilidade para lidar com mudanças em situações competitivas e adaptação a situações adversas”, fala Maíra. E isso deve ser trabalhado individualmente. “O trabalho psicológico tem vários tipos de metodologia: atividades voltadas para motivação, ferramentas para orientação psicológica individual e coletiva, coaching com treinadores. Não existe algo pronto e formatado para se fazer. Há um conjunto de intervenções e avaliações disponíveis para atender às necessidades individuais e coletivas. Mas não existe um método único”, complementa o professor doutor João Ricardo Cozac, autor do livro Psicologia do Esporte, Atleta e Ser Humano em Ação (2013).
O aspecto mais importante do tratamento psicológico é dar segurança ao atleta nas horas de maior pressão nas competições, quando todo o esforço feito durante anos é posto à prova. É ali, naquela hora, que ele pode mostrar do que é capaz. E é ali também que surgem os chamados leões de treino: aqueles que treinam muito bem, mas na hora da competição não conseguem render o planejado e perdem para si mesmos. Isso é rotineiro no esporte. “Se não houve auxílio psicológico ao atleta para fortalecê-lo mentalmente para que ele possa dar conta nesses momentos de adversidade, certamente esse atleta fica mais exposto ao erro”, explica Cozac.
Problema estrutural
No Brasil, escolher dedicar-se à carreira de atleta profissional é abdicar de muitas coisas para conseguir treinar e se destacar — e isso pode afetar o psicológico de qualquer um. Já na infância, o jovem aspirante a esportista competitivo é forçado a se dividir entre estudos, treinos e, ainda, trabalho para que gere renda. Tudo isso, somado à falta de atenção ao lado psicológico do jovem, pode criar problemas, dificultando o seu desenvolvimento como um atleta de ponta. Um campeão.
“Aqui no Brasil pouco se fala acerca de promoção e prevenção da saúde no esporte. Infelizmente, nossa fábrica de atletas fica extremamente comprometida por conta dessa falta de treino psicológico”, reclama Cozac, que aponta, ainda, que mesmo quando há acompanhamento profissional, ele não é satisfatório no País. “O que se vê são profissionais sem experiência, apenas trabalhando para cumprir a lei. Parece que querem evitar a multa e não realizar um trabalho de qualidade. Há sim clubes que fazem isso, mas a grande maioria, infelizmente, não mantém um trabalho atuante e constante no departamento de base.”
O probleminha que começa na base vira problemão na fase adulta, quando o atleta despreparado se vê diante da pressão de um país inteiro para conquistar uma medalha. Temos que contar, assim, com as exceções, atletas fortes mentalmente, que vão contra todas as expectativas e se destacam, viram ídolos nacionais e carregam no peito a responsabilidade de representar 200 milhões de brasileiros.
“No Brasil existem atletas que possuem recorde mundial em sua categoria e não têm patrocínio de nenhum tipo. Contam com a ajuda de pessoas físicas até para se alimentarem. Como não se sentir prejudicado em relação a competidores da mesma modalidade em outros países, que além de terem estrutura social para estudar, são patrocinados por empresas renomadas e possuem treinamento de ponta?”, questiona a especialista Maíra.
Compartilhar link