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O corredor que busca melhorar sua performance costuma ouvir três recomendações para tornar-se mais rápido e resistente nas provas: é preciso treinar em um ritmo forte, seguir uma dieta balanceada e descansar bem. Essa trinca, entretanto, nem sempre é suficiente para garantir ao atleta um desempenho impecável. Por mais regrada que seja a vida do corredor, se ele não corrige seus erros, chega um momento em que é impossível evoluir. Se você tem a sensação de que esse momento chegou, há uma alternativa para te reconduzir ao caminho da evolução: a avaliação biomecânica.
Mas o que é este teste? Trata-se de uma avaliação que verifica todos os parâmetros da corrida para entender quais pontos podem ser modificados pelo atleta para melhorar seus tempos e evitar lesões. Em outras palavras: o corredor vai a uma clínica especializada, é filmado sob vários ângulos enquanto corre em uma esteira e recebe um relatório detalhado sobre seus erros posturais e os problemas que pode ter no futuro em decorrência deles.
A partir desses relatórios individuais, as clínicas desenvolvem programas específicos para que os corredores corrijam suas falhas e tenham desempenhos cada vez melhores no asfalto sem que isso represente um risco ao corpo.
A reportagem do Ativo.com visitou duas clínicas paulistanas que oferecem esse tipo de serviço e foi submetida ao teste de biodinâmica.
Na CM.2, localizada na avenida Cidade Jardim, em um ponto nobre de São Paulo, dois fisioterapeutas, Claudio Cotter e Carina Cupersmid, foram os responsáveis pela montagem e acompanhamento do Run Fit, como é chamado o sistema de análise biomecânica da clínica multidisciplinar.
Antes da filmagem, a reportagem passou por uma espécie de sabatina. Informou a Carina todos os dados que compõem a rotina de prática esportiva e influenciam suas passadas: velocidade média nos treinos, melhor tempo em provas, locais onde costuma correr, objetivos na modalidade e quilometragem semanal.
Carina fez marcações com bolinhas reflexivas de velcro na perna do repórter. Essas bolinhas refletem a luz emitida pela câmera quando o atleta corre. O objetivo é que o computador consiga captar através da luminosidade as angulações do movimento. São essas angulações que indicam as correções que devem ser feitas.
Por exemplo: quem alonga muito a passada para frente passa o centro de gravidade. Nesse instante em que o pé está à frente do centro de gravidade, toda a carga está indo para tornozelos, joelhos, quadril e coluna.
Enquanto o atleta corre na velocidade em que está acostumado em seus treinos, uma câmera de alta definição, capaz de captar 240 quadros por segundo, é posicionada nas duas laterais da esteira. Depois, o mesmo equipamento é posicionado atrás do corredor. As angulações são essenciais para entender tudo o que envolve a mecânica da corrida – altura máxima da perna, flexão dos joelhos e dos tornozelos, centro de gravidade e posição do tronco e dos cotovelos.
“A filmagem lateral serve para que nós vejamos o quanto tudo isso interfere na corrida e como essa pessoa pode melhorar. Depois, tem a visão posterior. É aí que nós enxergamos o tipo de pisada e conseguimos orientar em relação ao calçado ideal”, explica Cotter.
Entre o tempo em que o atleta permanece na esteira – menos de dez minutos – e a análise dos dados obtidos, o processo dura aproximadamente 1 hora e meia. A sessão custa R$ 220.
Caso o corredor tenha interesse, a CM.2 oferece sessões para a reeducação da corrida. Supervisionados por fisioterapeutas, os exercícios ajudam o paciente a readequar suas passadas para ganhar velocidade, resistência e vida mais longa no esporte.
Em uma ampla sala abrigada dentro do estádio do Morumbi, 20 atletas passam mensalmente por uma reconstrução tridimensional da corrida, procedimento mais tecnológico do que o empregado pela CM.2. Seis câmeras 3D captam todos os movimentos do corpo sobre uma esteira e os reproduzem simultaneamente em um computador.
Embora o método seja ultramoderno e compatível com a realidade de grandes instituições esportivas, engana-se quem pensa que são atletas do São Paulo Futebol Clube, time acostumado a jogar por lá, recebendo orientações para não sofrerem com lesões ou voarem baixo nos gramados.
Corredores amadores podem experimentar o procedimento. Por R$ 825, todos os seus movimentos na corrida são destrinchados e aprimorados com a ajuda de dois fisioterapeutas do Instituto Vita.
“Nossa equipe nota os desequilíbrios musculares que acontecem durante a corrida. Depois, conseguimos arrumar e coordenar esse movimento, trazendo um feedback em tempo real e fortalecendo os músculos que estão fracos”, diz a fisioterapeuta Andreia Miana, que supervisiona os atletas que chegam ao Instituto Vita com problemas físicos.
O repórter do Ativo.com mal havia começado a correr na esteira quando surgiu a primeira observação de Andreia: “Você corre como um jogador de futebol”. O aviso inicial foi confirmado pelo teste, que constatou que o padrão de corrida de nosso jornalista, cedo ou tarde, sobrecarregaria o quadril.
A constatação é possível graças a uma bateria minuciosa de exames físicos, similar às que antecedem a contratação de um jogador de futebol por grandes clubes. Depois de uma série de perguntas sobre seu histórico no esporte, nosso repórter foi submetido a uma série de testes físicos. No primeiro deles, de força muscular, viu que, caso queira evoluir nas provas, tem que fortalecer dois músculos importantes para a corrida: os glúteos médio e máximo.
Em seguida, passou por testes de flexibilidade, análise postural e baropodometria, uma checagem digital que indica se há algum problema de pisada. A baropodometria foi um dos poucos itens em que o repórter estava dentro do padrão desejado.
Acostumado a correr provas de 10 km e com treinos não tão regulares, o repórter deixou o Instituto Vita com a sensação de ter pilotado uma Ferrari em marginais recheadas de radares. Não foi difícil concluir que o seu estágio na corrida não era compatível com tanta modernidade. O nível de dedicação à corrida e o poder aquisitivo do atleta determinam qual é a escolha mais sensata quando o assunto é avaliação biomecânica.
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