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De fato, além do benefício físico, a corrida ajuda uma pessoa a ficar mais forte psicologicamente. Aliás, o esporte tem a capacidade de ensinar muito às pessoas e reproduzir situações semelhantes às do cotidiano. É comum constatar que a corrida se converte rapidamente em uma poderosa ferramenta de autoconhecimento.
Talvez isso explique a enorme popularidade da modalidade em todos os cantos do planeta. A cada quilômetro nos treinos e provas, a corrida pode nos dar uma série de lições. Listamos quatro fatores da corrida que contribuem para que ela seja também uma aliada da sua mente.
A corrida gera autoconhecimento. É um esporte sem intervalos em que a pessoa fica sozinha e está pensando o tempo todo. E tem sido cada vez mais raro entrar em contato consigo mesmo na sociedade atual”, explica a psicóloga do esporte Julia Amato.
A rotina de trabalho, a convivência familiar e até mesmo os inúmeros dispositivos tecnológicos que surgiram nos últimos anos fazem com que o tempo para refletir sobre os rumos da própria vida seja cada vez mais escasso. Além de trazer benefícios à parte física, a corrida representa uma jornada de autoconhecimento. Os minutos ou horas em que a pessoa se dedica às passadas são acompanhados de diversos pensamentos sobre profissão, projetos pessoais e relacionamentos.
Imagine a seguinte situação: você está no km 34 de uma maratona para a qual se preparou durante cinco meses e sente um forte incômodo em um dos pés. É inevitável pensar que abrir mão daqueles 8 km restantes seria jogar no lixo toda a dedicação dos meses anteriores. É aí que você tira um gás que pensava que não tinha e cruza a linha de chegada. O sacrifício físico e mental é transformado automaticamente na gratificante sensação de dever cumprido.
As dores são obstáculos comuns para quem vive a corrida há algum tempo. Transportar essa resiliência (a capacidade de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças e resistir à pressão de situações adversas) para outros campos da vida pode te levar mais longe na profissão, por exemplo.
A competitividade é o motor para que qualquer esportista tenha vontade de superar limites e alcançar grandes objetivos. É esse apetite que te move a resultados que nem você acredita que seria capaz de alcançar.
Em contrapartida, a competitividade em excesso pode provocar ansiedade, lesões e problemas interpessoais. Afinal, ninguém quer conviver com um egocêntrico que, antes de dar “bom dia”, sai tagarelando sem critério algum sobre seus tempos nas maratonas de Chicago, Berlim ou Boston, talvez com o intuito de diminuir os feitos dos outros.
A competitividade é sadia quando a pessoa direciona isso para a dedicação nos treinos, alimentação regrada e atividades complementares, como a musculação, por exemplo. A partir do momento em que ela vai competir com o outro, se essa competitividade estiver fora da linha, pode surgir um overtraining”, analisa Amato.
Você certamente já se deparou diante de um amigo ou companheiro de treino que estabeleceu metas inatingíveis para a corrida. Saltar dos 5 km para a meia-maratona em apenas dois meses e almejar um tempo baixíssimo sem treinar o suficiente para alcançá-lo são apenas alguns dos exemplos de objetivos pouco ou nada factíveis.
Os tombos na corrida devem ser encarados como verdadeiras lições de humildade, sinais de alerta para a transformação de nosso comportamento no esporte – e, por que não, na vida. Lidar com a frustração e usar as experiências negativas para acertar no futuro é uma das heranças da modalidade.
Sua forma de encarar a corrida pode ser um sinal de sua arrogância – ou de sua humildade, é claro. Nenhum corredor está imune às dificuldades que podem surgir no percurso.
Por mais preparado que você esteja, sempre pode pintar algum contratempo. Na Maratona de Londres de 2017, Kenenisa Bekele esperava quebrar o recorde mundial dos 42 km, mas terminou com a segunda colocação e encontrou uma justificativa incomum para seu fracasso: culpou seu par de tênis pelo resultado. A declaração soou arrogante e repercutiu mal na mídia estrangeira.
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